Discurso, conceito associado com a viragem linguística na teoria social, tem sido usado como um modo de se repensarem o método e medida das ciências sociais. Todavia, o Discurso não deve ser pensado como a linguagem ordinária usada na fala, escrita e diálogo. Em sentido próprio, o Discurso refere-se à aplicação prática da linguagem (linguagem concebida em sentido lato) na crítica do curso normal da ação: ação entendida como o ato de escrever ou falar, e como ação política, económica e social. O aspeto discursivo da comunicação é em si importante para a crítica social corrente na medida em que é sempre possível para falantes dominarem o vocabulário e gramática com tal profundidade, que podem mesmo falar e aplicar as regras de modo a reformularem a linguagem em situações especiais, como na crítica política radical.
Origem
A palavra discurso deriva do latim discursus, particípio passado de discurrere (dis-, “fora”, mais currere, “correr”), que significa literalmente “correr ao redor”, e metaforicamente consiste na “aplicação de variados pontos de vista a um tema”. Mais tarde, ainda dentro do Latim, o termo passou a ter o significado de “conversação”.
Teoria Clássica do Discurso
A origem clássica da teoria do discurso deve-se ao linguista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913), caracterizando-se o discurso pela distinção entre fala (parole) e língua (langue), tendo a teoria provocado um grande impacto nas teorias semióticas do significado posteriores. O princípio básico de Saussure é que a fala representa o trabalho prático à luz do qual os falantes aduzem elementos semânticos (palavras por exemplo) do conhecimento geral que possuem da linguagem, segundo regras gramáticas aplicáveis. Desta maneira, a enunciação é produzida através de um processo largamente inconsciente no qual o falante seleciona os elementos dentro de um complexo de regras e conteúdos. Para funcionar, a comunicação deve dar-se num contexto linguístico (langue) comum ao falante e ouvinte, de modo a que o ouvinte consiga descodificar o enunciado (parole).
Discurso e Ciências Sociais
Inicialmente, a teoria discursiva estreou-se na teoria social por intermédio das obras do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, cujo método estrutural assumiu a equivalência entre cultura e língua, do que resultava que os elementos estruturais poderiam ser encontrados através de uma análise sistemática das unidades culturais articuladas ou dos mitemas. Posteriormente, dar-se-ia a revolta do dito pós-estruturalismo, que foi em larga medida, uma objeção apreciadora das características objetivadoras do método de Lévi-Strauss. (Ver Logocentrismo.)
A teoria social do discurso é mal interpretada se for levado ao limite o argumento de que todo o pensamento social só pode depender da linguagem, ao passo que é bem compreendido quando apreciado como um contributo para o estudo empírico do modo como as linguagens e o seu uso performativo, constituem um indício dos objetos sociais que representam ou não representam.
References:
Lévi-Strauss, Claude. (1958), Anthropologie Structurale. Paris, Librairie Plon.
Saussure, Ferdinand (1967), Cours de Linguistique Générale, Paris, Éditions Payot & Rivages.