Transtorno alimentar na infância
Entende-se por transtorno alimentar na infância o ato de ter uma alimentação inadequada com consequências patológicas para o organismo.
Piazza, Tammy e Carroll-Hernandez (2004, p.1) começam por definir o transtorno alimentar na infância “…quando uma criança não consegue ou se recusa a comer ou a beber uma quantidade ou variedade de alimentos suficientes para manter uma nutrição adequada.”
Gonçalves, Moreira, Trindade e Fiates (2013) para explicar os sintomas associados ao transtorno alimentar na infância referem que o comportamento relacionado com a alimentação diz respeito à forma como o indivíduo se alimenta fruto das condições em que o faz ao nível social, demográfico, cultural, experiência, e percepção acerca dos alimentos.
Duas das maiores responsáveis pelo transtorno alimentar, são, segundo os dados da literatura, as variáveis família e meios de comunicação (Gonçalves, Moreira, Trindade, & Fiates, 2013).
Quanto ao segundo caso, a informação enviada para o público é totalmente contraditória já que se apela, constantemente, ao estilo de vida saudável no sentido de promover a qualidade de vida, no entanto enche-se as telas com publicidade acerca de comidas extremamente calóricas e, em simultâneo, o culto da imagem perfeita parece ser uma obsessão (Gonçalves, Moreira, Trindade, & Fiates, 2013).
Somando todas estas variáveis incongruentes e contraditórias, a criança que é sujeita a todo este tipo de estímulo, acaba por enveredar mesmo por transtorno alimentar, uma vez que fica patologicamente preocupada com o peso e a aparência, dando início a uma maratona de jejum e exercício físico obsessivo, para combater o problema (Gonçalves, Moreira, Trindade, & Fiates, 2013).
Inicialmente o transtorno alimentar apresenta-se de forma moderada, como por exemplo, a criança consegue saltar uma refeição, podendo desenvolver para o transtorno severo, em que já começam a aparecer problemas de crescimento associados à desnutrição provocada pela ausência de alimentação (Piazza, Tammy, & Carroll-Hernandez, 2004).
A par de todo o conjunto de problemáticas referidas, a alimentação torna-se inadequada e usam-se anabolizantes para controlar o equilíbrio (Gonçalves, Moreira, Trindade, & Fiates, 2013; Piazza, Tammy, & Carroll-Hernandez, 2004).
Devido a todos estes comportamentos associados ao transtorno alimentar, a criança começa a sofrer todo o tipo de problema de saúde desde défice de crescimento, queilose, erosão dentária, periodontites, hipertrofia das glândulas salivares, hipovolemia, desiquilíbrio hidroeletrolítico e aumento de peso (Gonçalves, Moreira, Trindade, & Fiates, 2013).
Muitas vezes, devido à já presença do transtorno, outras situações complicadas podem surgir como por exemplo a criança recusar-se, totalmente, a alimentar-se, começar a depender de ajuda para se alimentar através de um tubo gastronómico inserido no estômago através do abdómen para que se possa introduzir o alimento ou ainda o tubo nasogástrico, inserido via nasal (Piazza, Tammy, & Carroll-Hernandez, 2004). Comportamentos hostis durante a refeição, podem agravar-se e intensificar-se pela recusa de determinados alimentos devido à sua aparência, entre outros problemas (Piazza, Tammy, & Carroll-Hernandez, 2004).
Vários estudos indicam, no que diz respeito à alimentação destas crianças que se observa uma relação direta entre o controlo excessivo e o exagero de regras alimentares, por parte da família, e a maior tendência para a procura de uma alimentação isolada, levando ao aumento do transtorno alimentar (Gonçalves, Moreira, Trindade, & Fiates, 2013).
No entanto, nem sempre o transtorno alimentar está associado às práticas familiares pelo que alguns estudos indicam que o mesmo pode ter origens biológicas, como por exemplo défice motor oral, ou seja, dificuldade para engolir, provocando dor, o que significa que a refeição é associada à dor que, por sua vez, gera sofrimento, desde vómito, refluxo esofágico, engasgar-se, etc (Piazza, Tammy, & Carroll-Hernandez, 2004).
Todas estas condições são suficientemente difíceis de ultrapassar do ponto de vista físico, já que provocam dor, o que leva, consequentemente ao evitar do alimento, o que faz com que, na hora da refeição, a criança chore, vire a cabeça e não tenha a capacidade para compreender que, normalmente, comer não provoca dor (Piazza, Tammy, & Carroll-Hernandez, 2004).
O conjunto de fatores associados ao transtorno alimentar, desde as questões biológicas até às questões familiares, origina, por isso, um atraso ou défice no desenvolvimento saudável da criança, até porque a desnutrição impede a criança de ter energia suficiente para se alimentar (Piazza, Tammy, & Carroll-Hernandez, 2004).
Conclusão
De acordo com os dados da literatura o transtorno alimentar na infância pode ser um reflexo das práticas familiares acerca das refeições, no entanto, nem sempre se verifica esta situação, já que pode também advir de problemas físicos como é o caso das dificuldades motoras orais que, muitas vezes, provocam dor na deglutição.
Se no primeiro caso a criança é constantemente exposta a um exagero de regras alimentares, no segundo, ela associa a alimentação ao sofrimento causado pela dor.
Em ambos os casos, o desenvolvimento de um transtorno alimentar acaba por levar a um défice no crescimento da criança.
References:
- Gonçalves, Juliana de Abreu, Moreira, Emilia Addison M., Trindade, Erasmo, Benício S. de M., & Fiates, Giovanna Medeiros, R. (2013). Transtornos alimentares na infância e na adolescência. Revista Paulista de Pediatria 2013; 31(1): 96-103. scielo.br/pdf/rpp/v31n1/17.pdf;
- Piazza, Catheleen C, Tammy, A, & Carroll-Hernandez. (2004). Avaliação e tratamento de distúrbios alimentares pediátricos. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância. Acedido a 30 de setembro de 2016 em http://www.enciclopedia-crianca.com/nutricao-infantil/segundo-especialistas/avaliacao-e-tratamento-de-disturbios-alimentares-pediatricos.