Terapia centrada na pessoa
A terapia centrada na pessoa visa a orientação da sessão feita pelo próprio cliente em vez de ser feita pelo psicólogo. Esta terapia visa ser de maior autonomia no que concerne ao cliente, além de mais autenticidade devido ao facto de o psicólogo não ser visto como o ser de autoridade durante a sessão.
Inicialmente conhecida como psicoterapia não-diretiva, a terapia centrada na pessoa, de Carl Rogers baseia-se na teoria do desenvolvimento da criança como um processo atualizante e inerente que leva todos os seres humanos a evoluírem de forma positiva (Moreira, 2010).
Segundo Vieira e Freire (2012) devemos ter em conta, na altura de analisar a pessoa, a sua resposta orgânica, isto é, o que sente num determinado momento e que a leva a fazer escolhas por impulso, e a construção que esta mesma pessoa faz de si mesma ao longo do tempo e que demarca a conformação que constrói acerca do seu self, isto é, de si mesa.
Esta dissonância entre os dois parâmetros leva a que haja um desacordo interno na pessoa e é esse desacordo que permite que ocorra a mudança que, à posteriori, vai, inicialmente criar confusão e depois vai regularizar o organismo (Vieira, & Freire,2012).
De acordo com este pressuposto, Rogers acaba por assumir esta capacidade como inerente a todo e qualquer ser humano, independentemente da situação psicoterápica em que se encontra (Moreira, 2010).
Vieira e Freire (2012) referem a tendência da terapia rogeriana para se afastar da expressão “normal” e da expressão “patológico” defendendo mesmo que a busca em encontrar um psicodiagnóstico era inclusive perda de tempo, o que remetia para a abordagem de um pressuposto em que se olharia para a pessoa tal como ela era enquanto pessoa sem formar um diagnóstico específico.
“Sinto que se, do meu ponto de vista, esta for uma pessoa doente, então eu não o ajudarei tanto quanto eu poderia. Sinto que essa é uma pessoa.” (Memorandum, 2012, cit in Vieira, & Freire, 2012).
A psicoterapia não-diretiva tem por base o crescimento por impulso, do indivíduo e privilegia o sentimento em relação às capacidades intelectuais, além de se importar mais com o presente do que com o passado e focar-se no indivíduo em si e não no problema (Moreira, 2010).
O conceito de que o cliente tem o potencial que lhe permite, com orientação terapêutica, caminhar ao longo do seu processo de forma eficaz, através de uma postura aberta à experiência, corrobora, mais uma vez, a ideia de que o ser humano tem, de forma inerente, a capacidade para se desenvolver de forma a manter e a melhorar o seu próprio potencial (Vieira, & Freire,2012). É a parir deste tipo de abordagem que recai a terapia centrada no cliente, com capacidades dentro do seu próprio organismo como um todo formado pela pessoa total, a mente e o corpo (Rogers, & Wood, 1978, cit in Vieira, & Freire,2012).
Esta logica permite-nos concluir que todos os seres vivos agem com o intuito de preservar a sua própria espécie (Vieira, & Freire,2012).
Estas bases foram adquiridas por Rogers aquando das duas experiências com crianças, ao observar a capacidade de crescimento das mesmas que só era possível de analisar segundo uma lógica permissiva e neutra em que o psicoterapeuta intervia o mínimo possível (Moreira, 2010).
Nesta abordagem o cliente é o centro do processo terapêutico e toda a sessão seria realizada de acordo com a sua própria orientação, no entanto, alguns críticos consideraram este tipo de abordagem promotor de uma ótica laissez-faire, embora a ideia fosse a de colocar o cliente numa situação confortável em que o psicoterapeuta não fosse encarado como uma figura autoritária, daí, a lógica não-diretiva (Moreira, 2010).
Além desta técnica não-diretiva, Rogers defendia, posteriormente, a técnica reflexiva em que o psicoterapeuta se tornava mais ativo mediante três condições essenciais que seriam a empatia, a aceitação positiva incondicional e a congruência pelo que, na primeira, o psicoterapeuta devia colocar-se no lugar do cliente, a segunda relaciona-se com o respeito incondicional do psicoterapeuta para com o cliente e a terceira diz respeito à genuinidade que seria possível apenas mediante a correspondência entre a experiência do psicoterapeuta e aquilo que transfere para o cliente, o que torna esta relação num processo simbiótico (Moreira, 2010).
Conclusão
Podemos então dizer que a terapia centrada no cliente visa a intervenção mínima do psicólogo, que só atua no sentido de devolver ao mesmo o que este lhe diz. Esta abordagem pretende tornar a psicoterapia mais autêntica, uma vez que é conduzida pela própria pessoa que o psicólogo terá de guiar já que Rogers acreditava que todos tínhamos o poder inerente de nos desenvolvermos com sucesso devido às nossas capacidades naturais.
References:
- Moreira, V. (2010). Revisitando as fases da abordagem centrada na pessoa. Estudos de Psicologia [online] Campinas | 27(4) | 537-544| outubro-dezembro, 2010;
- Vieira, E.M., & Freire, J.C (2012). Psicopatologia e terapia centrada no cliente: por uma clínica das paixões. Memorandum, 23, 57-69.