Conceito de rutura – aliança terapêutica
A rutura na aliança terapêutica designa uma experiência de desacordo ou tensão, entre terapeuta e paciente, acerca dos objetivos e/ou tarefas no contexto da relação terapêutica. De um modo geral, a rutura pode ser entendida como um impasse na relação.
Natureza da rutura
A rutura na aliança terapêutica pode ser classificada segundo o modo como o utente/paciente expressa desacordo face ao processo terapêutico. Neste sentido, as ruturas podem classificar-se enquanto Rutura de evitamento ou Rutura de Confronto.
A rutura de evitamento é caracterizada pelo desinvestimento na relação terapêutica, expressa por exemplo pela dificuldade/evitamento da expressão emocional (e.g. negação de determinada emoção; falar sobre outras pessoas e não de si mesmo) ou pela acomodação do utente face à orientação que o terapeuta faz do processo. Habitualmente encontra-se relacionada com a dificuldade na asserção da necessidade de diferenciação do paciente, atuando de forma a manter a proximidade, não obstante o desinvestimento.
Por sua vez, na rutura de confronto o utente expressa diretamente a sua zanga ou insatisfação em conversação com o terapeuta. A insatisfação do paciente refere-se frequentemente à competência ou atitude geral do terapeuta, à perceção de ausência de ganhos ou progressos terapêuticas ou às tarefas propostas pelo terapeuta. Neste âmbito, o paciente pode inclusive manifestar dúvida relativamente ao sentido e significado de continuar o processo terapêutico. Em ruturas desta natureza é característica a dificuldade na vulnerabilização do paciente e uma atitude de tentativa de controlo sobre o terapeuta.
Ruturas de naturezas diferentes, de evitamento e confronto, refletem crenças e estilos diferentes de atuar perante insatisfações nas relações interpessoais, nas quais se gera uma dialética de necessidades, mais concretamente entre a necessidade de proximidade e cuidado, e a necessidade de diferenciação e agência. Verifica-se neste sentido que um mesmo paciente pode apresentar tendência para ruturas de uma determinada natureza, enquanto reflexo do seu estilo interpessoal e estratégia de adaptação à dialética, não obstante poderem também verificar-se ruturas de ambas as naturezas num mesmo paciente e processo terapêutico.
Abordagem terapêutica à rutura
Em qualquer uma das situações geradas, embora com abordagens distintas, o terapeuta deve tomar consciência da rutura, iniciando um diálogo empático sobre a mesma e desta forma promovendo a expressão emocional e das necessidades (e.g. asserção em situações de evitamento; vulnerabilização em situações de confronto) do paciente, bem como os seus pensamentos sobre a situação. Ao longo desta experiência, cada uma das partes – paciente e terapeuta – toma consciência da sua responsabilidade na relação e na situação de rutura em particular.
De um modo geral, o terapeuta metacomunica com o paciente, isto é, comunica sobre a interação estabelecida entre ambos com o intuito de compreender e fazer-se compreender e, deste modo, constituir também um modelo de referência interpessoal. Desta forma, ao trabalhar sobre a rutura, é possível reestruturar formas não adaptativas de comunicação e proporcionar experiências emocionais corretivas. As experiências de rutura podem assim ser entendidas não como obstáculos à aliança e ao processo, mas antes como experiências de negociação interpessoal importantes para o desenvolvimento psicológico do paciente.
Palavras-chave: Rutura; aliança terapêutica; processo psicoterapêutico; metacomunicação
References:
Safran, J., & Muran, C. (2000). Negotiating Therapeutic Alliance. A relational treatment guide. New York: The Guilford Press.