Psiquiatria

Conceito de Psiquiatria

O termo Psiquiatria, introduzido pelo médico Johann Christian Reil em 1808, deriva do grego, significando “tratamento médico da alma”.

A Psiquiatria é uma especialidade médica que se dedica ao estudo, diagnóstico, tratamento e prevenção das perturbações mentais. Contempla diferentes especialidades tais como: pedopsiquiatria, psiquiatria forense, psiquiatria comunitária, gerontopsiquiatria.

A sua prática exige o domínio de várias áreas de conhecimento: psicopatologia, psicofarmacologia, neurologia, psicologia, psicanálise, genética e ciências sociais.

O Homem sempre conheceu a doença psiquiátrica e teve forma de lidar com ela. Os problemas mentais foram considerados durante longo tempo como doenças sobrenaturais, sendo a doença mental associada à ideia de feitiçaria e os doentes acusados de bruxaria. Até ao séc. XIX o doente mental era exibido na rua, nas feiras ou recolhido em casa em condições desumanas e em asilos.

A partir da Idade Média surgiram manicómios/hospícios cuja função era a de guardarem os indivíduos que constituíam um perigo para si próprios e que perturbavam a sociedade. No final do séc. XVIII, no âmbito do espírito optimista do Iluminismo, a descoberta de que essas instituições poderiam ter uma função terapêutica conduziu ao nascimento da psiquiatria enquanto disciplina.

O primeiro psiquiatra a defender os benefícios terapêuticos da institucionalização dos doentes foi William Battie (1703-1776) que fundou o St Luke`s Hospital em Londres em 1751.

Por sua vez, Philippe Pinel (1745- 1826) é reconhecido como figural fulcral para a redução das medidas repressivas aplicadas a doentes mentais.

Emil Kraepelin (1856-1926), psiquiatra alemão, desenvolveu uma nosologia das doenças mentais publicada em 1883. Este sistema prevaleceu até ao desenvolvimento nos anos 50 do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM) pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) que define e classifica as várias formas de desordem metal e é revista e actualizada regularmente. Destaca-se ainda a publicação em 1992 do CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde), manual de classificação de doenças diversas, pela Organização Mundial de Saúde, que inclui a secção de doenças psiquiátricas.
A publicação da Interpretação dos Sonhos (1899/1900) por Sigmund Freud (1856-1939), na qual ele descreve a descoberta do inconsciente, marcou o início da Psiquiatria moderna e a sua autonomização da Neurologia.

A Psicanálise começou por se desenvolver com vista ao tratamento das designadas psiconeuroses, perturbações sem causa médica que afectavam severamente o funcionamento do paciente. Praticada exclusivamente por psiquiatras, e sendo o primeiro tratamento para pacientes fora de internamento, foi a corrente dominante na psiquiatria durante a primeira metade do séc. XX.

O desenvolvimento da psicofarmacologia nos anos 50 do séc. XX, abriu um novo horizonte no tratamento psiquiátrico, sendo fabricados desde logo psicofármacos destinados a tratar condições severas tais como a esquizofrenia e a doença bipolar (e.g clorpromazina, lítio). Foram igualmente desenvolvidos psicofármacos destinados a condições menos severas como os sintomas depressivos e de ansiedade (e.g. imipramina, meprobamato).

A evolução na área da psicofarmacologia foi decisiva para diminuir a taxa e a duração do internamento dos doentes psiquiátricos. Actualmente, os psicofármacos são usados muitas vezes como complemento da psicoterapia, sendo a psicofarmacologia uma das principais áreas de investigação da psiquiatria.

Ao longo da sua história a psiquiatria foi estando dividida entre duas visões da doença mental. Uma das visões, conhecida como psiquiatria biológica, enfatiza os conhecimentos das neurociências com o seu interesse na química do cérebro, anatomia cerebral e medicação, considerando que o sofrimento psíquico tem origem na biologia do córtex cerebral. A outra perspectiva leva em conta as múltiplas influências ente os aspectos biológicos (e.g. estruturais, anatómicos, moleculares), psicológicos (aspectos psicodinâmicos) e sociais (e.g. culturais, ambientais, familiares), baseando-se no modelo biopsicossocial da doença proposto em 1977 por George L. Engel (1913-1999).

Bibliografia

Cordeiro, J. C. Dias. Manual de Psiquiatria Clinica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.
Doron, Roland e Françoise Parot. Dicionário de Psicologia. Climepsi, 2001.

Kazdin, Alan. Encyclopedia of Psychology. Washington D.C.: Oxford University Press, 2000.

Shorter, Edward. Uma história da Psiquiatria: Da Era do Manicómio à Idade do Prozac, Climepsi, 2001.

https://www.psychologytoday.com/blog/sacramento-street-psychiatry/201410/brief-history-psychiatry

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