O desenvolvimento mental diz respeito à capacidade evolutiva da criança desde o seu nascimento. Esta capacidade sofre influências do contexto, seja ele do ambiente familiar ou social, trazendo repercussões positivas e negativas ao longo do desenvolvimento.
Os estudos de Facci (2004) baseiam-se nos trabalhos de Leontiev, Elkonin e Vigotsky para compreender o desenvolvimento mental do ponto de vista histórico-cultural ou sócio-histórico e as suas influencias no contexto educacional.
Outros estudos sugerem o facto de que a própria psique humana sofre alterações ao longo do tempo devido às influencias sociais inerentes (Facci, 2004).
Estas influências podem estar diretamente ligadas ao contexto em que as crianças crescem, como por exemplo, as que se desenvolvem em creches, que, habitualmente, são mais orientadas para outras crianças mas próximas das suas idades do que dos adultos (Lordelo, Chalhub, Guirra, & Carvalho, 2007). No entanto, estes estudos sugerem, também, que estas crianças, em termos de desenvolvimento mental, são mais independentes mas mais agressivas e menos obedientes (Lordelo, Chalhub, Guirra, & Carvalho, 2007).
O desenvolvimento mental da criança é compreendido de uma forma bastante ampla com base em algumas características associadas às capacidades que esta vai adquirindo aquando da sua evolução mental natural:
- Capacidade de comunicação emocional;
- Atividade de manipular objetos;
- Jogo de papéis;
- Atividade de estudo;
- Comunicação íntima pessoal;
- Atividade profissional/estudo.
Elkonin (1987, cit in Facci, 2004).
Os estudos de Facci (2004) sugerem que uma capacidade vai-se associando a outra desde os primeiros tempos de vida já que a capacidade de comunicar emocionalmente é a base par a capacidade de manipulação, sendo que ambas acontecem quando a criança comunica com os adultos que estão à sua volta e vai aprendendo a exprimir as suas necessidades.
Podemos verificar estas fases de desenvolvimento mental quando, inicialmente, nos primeiros tempos de vida, o bebé é totalmente dependente dos adultos pelo que é incapaz de sobreviver sozinho e ver qualquer das suas necessidades satisfeita (Facci, 2004).
Mais tarde, ao começar a assimilar algumas aprendizagens, a criança passa a ser capaz de comunicar pela linguagem e a manipular os objetos, embora, inicialmente, a capacidade de linguagem não seja feita de forma natural, isto é, não é um ato consciente, já que se trata de uma capacidade complexa (Facci, 2004).
O desenvolvimento mental continua a evoluir e a criança começa, na primeira infância, a ser capaz de participa em jogos e brincadeiras que implicam a comunicação com os adultos e a compreender aquilo que está ao seu alcance e aquilo que não está (Facci, 2004).
Por esta altura, a criança é capaz de distinguir as diferenças entre o universo familiar, ou seja, aquele onde coabitam as pessoas que estão mais próximas dela, e o universo social, ou seja, onde se encontra a relação construída com professores e outras pessoas que não fazem parte do círculo familiar em que a mesma se insere (Facci, 2004). Neste segundo plano existem mais diferenças além do facto de não estar junto das pessoas que lhe são mais próximas, pelo facto de existirem tarefas a cumprir, o que se torna na primeira tarefa mais exigente (Facci, 2004).
“… surgem a consciência e o pensamento teórico e desenvolvem-se, entre outras funções, as capacidades de reflexão, análise e planificação mental” (Davidov, 1988, cit in Facci, 2004, p. 70).
Segundo os estudos de Lordelo, Chalhub, Guirra e Carvalho (2007), a qualidade do contexto onde a criança se desenvolve, vai reproduzir implicações diretas no seu desenvolvimento mental, esteja ela relacionada com o ambiente escolar, familiar ou de uma creche.
Quanto mais personalizado for o ambiente em que a criança se desenvolve, nos primeiros anos de vida, como por exemplo, uma creche domiciliaria, maior será a garantia de frutos no que concerne ao seu desenvolvimento e crescimento (Lordelo, Chalhub, Guirra, & Carvalho, 2007). Contudo, a partir da idade escolar, as crianças que têm maior contato com outras crianças em creches convencionais, obtém maior capacidade de desenvolvimento mental (Lordelo, Chalhub, Guirra, & Carvalho, 2007).
Conclusão
Verifica-se que o desenvolvimento mental está, continuamente, em mudança, desde que a criança nasce, e que sofre influencias do meio. Dependendo do contexto, a criança pode ter mais ou menos recursos para a sua evolução, seja ela familiar ou num ambiente social, tal como em casa ou na creche, mas que, ao longo dos anos, cada contexto vai sendo mais ou menos favorável, devido às características da própria faixa etária.
References:
- Da Rocha Lordelo, Eulina; Almeida Chalhub, Anderson; Cardoso Guirra, Raquel; Seal Carvalho, Cláudio; (2007). Contexto e desenvolvimento cognitivo: Frequência à Creche. Desenvolvimento Mental. Psicologia: Reflexão e Crítica, 324-334. Recuperado em 1 de outubro de 2017 de http://www.redalyc.org/html/188/18820219/;
- Facci, M.G.D. (2004). A PERIODIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO INDIVIDUAL NA PERSPECTIVA DE LEONTIEV, ELKONIN E VIGOTSKI. Caderno Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 64-81, abril 2004.