Ciências Cognitivas

As ciências cognitivas referem-se ao estudo interdisciplinar do processamento de informação na cognição humana.

As ciências cognitivas referem-se ao estudo interdisciplinar do processamento de informação na cognição humana. Embora encontremos antecedentes nos trabalhos de matemáticos como Alan Turing e John von Neumann, neurofisiólogos como Warren McCulloch e Walter Pitts, ou teóricos como Norbert Wiener e Claude Shannon, concorda-se geralmente que a ciência cognitiva per se somente a partir de 1956 conheceu o seu aprofundamento.

Este ano marcou o início da colaboração genuína entre investigadores pertencentes ao ramo da inteligência artificial (Allen Newel e Herbert Simon), psicólogos cognitivos (Jerome Bruner e George Miller), e linguistas (Noam Chomsky), que assim influenciaram um movimento semelhante em disciplinas como a epistemologia, a antropologia e as neurociências. Kosslyn (1983) sumariou o modo como as ciências cognitivas tornaram para proveito próprio os desenvolvimentos nestes diferentes campos:

“Da ciência computacional retira a informação relativa ao funcionamento do computador e respectivos programas; da filosofia adoptou não só muitas das suas questões básicas, mas também ideias fundamentais sobre a representação de informação, como a proposicional; da linguística aproveitou teorias linguísticas e os pressupostos básicos sobre a forma como se pensam os eventos mentais; da psicologia cognitiva extraiu as metodologias e descobertas específicas sobre a habilidade humana de processamento de informação.”

 

Contudo, destaque-se a influência da psicologia na ciência cognitiva, e o desenvolvimento da última a par da psicologia cognitiva, não obstante certas discordâncias com o mainstream da psicologia cognitiva, que derivam do que antigamente se denominava como “psicologia humana experimental”, e que no decurso dos seus avanços incorporou a metodologia behaviourista que dominou a pesquisa no início do século XX. Esta discrepância resultou numa maior ênfase por parte da ciência cognitiva nos “factores humanos”, descritos na psicologia cognitiva durante a Segunda Guerra Mundial, e cujo busílis era a temática da interacção entre máquinas e humanos. Uma ilustração das disparidades entre psicólogos cognitivos e cientistas cognitivos prende-se com as atitudes respeitantes aos pareceres da experiência consciente: os psicólogos cognitivos tendem a suspeitar das descrições instrospectivas e são cépticos quanto ao valor destas como dados empíricos, ao passo que os cientistas cognitivos usam e analisam esses “protocolos” verbais.

Gardner (1985) identificou dois pressupostos essenciais na pesquisa contemporânea elaborada por cientistas cognitivos: o primeiro consubstancia comportamento inteligente e representações “internas” ou “mentais”, uma vez que as teorias da ciência cognitiva baseiam-se na noção estruturalista de que as representações internas resultam do par experiência e comportamento; o segundo assume que o computador é um modelo útil do pensamento humano e uma valiosa ferramenta de investigação, uma vez que os computadores digitais são sistemas especificamente concebidos para a manipulação simbólica da informação armazenada.

Uma crítica fundamental da pesquisa nas ciências cognitivas é que esta tendeu a compreender a cognição em termos abstractos, desprovidos de significância pessoal, social ou ecológica. Porém, deve-se reconhecer que os padrões seguidos pelas investigações foram estabelecidos por tradições existentes, pelo que a relevância da ciência cognitiva para a experiência humana quotidiana e a sua aplicação na vida real devem ter em linha de conta a incorporação dos factores contextuais, emotivos e culturais.

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References:

Gardner, H. (1985) The Mind’s New Science: A History of the Cognitive Revolution, New York.

Kosslyn, S.M. (1983) Ghosts in the Mind’s Machine: Creating and Using Images in the Brain, New York.

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