Zaratustra é o personagem principal da obra Assim falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche. Escrito entre 1883 e 1885, o livro narra a trajetória ou o processo de aprendizado de Zaratustra até ele se tornar um herói e filósofo trágico. Nele, nos deparamos com os relato das andanças, discursos e encontros inusitados do profeta Zaratustra, que resolve sair das montanhas onde morava para pregar aos homens.
Nietzsche se inspira em uma figura histórica da qual sabemos pouco – Zoroastro ou Zaratustra. Ele viveu em algum momento entre XII e VI a.C., na Pérsia, atual Irã. Atribuem a ele uma concepção em que o mal ou a escuridão se acham em conflito com o bem ou a luz. Tal doutrina, mais tarde, foi registrada no Zend-Avesta.
A justificativa de Nietzsche para fazer uso do nome de Zaratustra é dada por ele mesmo no livro Ecce Homo. Lá, afirma que foi Zoroastro o primeiro a ver na luta entre o bem e o mal a roda motriz na engrenagem das coisas. Sendo assim, criou o mais fatal dos erros – a moral e por isso deve ser o primeiro a reconhecê-lo.
Afirmam especialistas, como Roberto Machado, que foi principalmente a partir de Assim falou Zaratustra que Nietzsche criou uma filosofia trágica e coloca no seu personagem principal a crítica que faz ao niilismo e a sua exaltação ao modo de ser do Além-do-homem. Segundo Nietzsche, Zaratustra é o “do defensor da vida, o intercessor da dor”, já que este transfigura a própria imagem de espírito livre e é apontado como aquele que anuncia essa nova espécie de homem.
Podemos observar, já no prólogo da obra, Zaratustra tentando pregar à multidão, falando na praça do mercado numa linguagem simples, adequada à comunicação de massa e pensa ali, estar iniciando o processo de disseminação das ideias sobre o novo homem, mas é mal-entendido e ridicularizado. O resultado que alcança – um cadáver sobre os ombros, isto é, um discípulo fervoroso, incapaz de se mover sozinho, literalmente um peso morto: “Zaratustra compreende então que não deve falar ao povo, mas aos seus companheiros, e que precisa de companheiros vivos, que o sigam porque desejam seguir a si mesmos, e não companheiros mortos que ele tem de arrastar segundo sua vontade” (D’IORIO, 2014, p.112). Ele entende que sua missão não é a de tornar-se pastor de um rebanho, mas de desviar do rebanho aqueles que lá se encontram: “companheiros, eis o que busca o criador, e não cadáveres e não rebanhos de crentes. Os que o criador busca são os que criam com ele, os que gravam valores novos sobre novas tábuas” (NIETZSCHE, 2011, p. 39). Estes serão chamados por Zaratustra de homens superiores. Não estão mais entre os homens do mercado, porém ainda precisam aprender o Além-do-homem.
Os discursos que se seguem, portanto, servem para “formar” seus discípulos. Zaratustra resume para eles a filosofia do espírito livre e prega contra as verdades absolutas e pelas verdades individuais reabilitando os valores do corpo, buscando reforçar a estrutura pulsional do indivíduo para lhes dar a possibilidade de criar.
References:
D’IORIO, Paolo. Nietzsche na Itália: A viagem que mudou os rumos da Filosofia. Trad. Joana Angélica d’Avilla Melo. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. 2011. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
MACHADO, Roberto. Artigo: A alegria e o Trágico. Leituras de Zaratustra. Rio de Janeiro: Mauad X: Faperj, 2011.