Thomas Hobbes (1588-1679) nasceu em Malmesbury, na Inglaterra. Ficou conhecido na história da filosofia pelos seus escritos políticos, principalmente na obra Leviatã (1651), onde se encontra pronunciada uma teoria do contrato social em defesa do absolutismo político. A sua educação ocorreu em Oxford, tendo servido de tutor à família Cavendish, e como amanuense de Francis Bacon.
Metafísica
- Materialismo
No plano metafísico, Hobbes aceitou a tese geral do materialismo, isto é, que cada entidade existente é um ser físico ou um objeto. Os corpos são objetos que não dependem do pensamento, subsistindo por si próprios, e ao mesmo tempo, cada objeto é parte de um todo, ou um agregado de partes. A implicação tácita nesta ideia é a improbabilidade de existirem seres supernaturais, ou caso existam, a sua natureza não é corpórea: Hobbes optou pela última tese, classificando Deus como substância pura, simples e invisível.
Orientando o seu pensamento a partir do materialismo, Hobbes reparou que esta mesma tese era inconsistente com a existência de entidades abstratas, e de modo a colmatar esta discrepância, desenvolveu uma teoria nominalista, na qual os termos gerais não significam os universais: os nomes não são signos de coisas, mas signos da cogitação humana. Ao apreciarmos esta postura, reconhecemos em Hobbes a antecipação teórica relativamente aos empiristas tardios como Locke e Berkeley, pelo que se pode afirmar que Hobbes fundou o empirismo britânico
- Mecanicismo
Conjuntamente com a aceitação do materialismo, Hobbes aceitou a teoria mecanicista, e tal aceitação conheceu o seu início durante uma viagem à Europa Continental em 1629, a qual resultou na persuasão do filósofo perante a explicação de eventos físicos à luz de explicações da moção dos corpos. Provavelmente sob a influência de Galileu, que Hobbes visitou em 1636, o filósofo tentou compor uma teoria geral da física, na qual a explicação mecânica seria paradigmática.
A respeito desta teoria, Hobbes tentou aplicá-la às sensações, uma vez que sentia que no ato de percecionar, certos fantasmas e ideias eram geradas pela consciência: os fantasmas existem só e somente quando são experienciados, mesmo não sendo entidades físicas; porém, tais entidades seriam totalmente antagónicas ao mecanicismo, pois para Hobbes, as relações causais genuínas requeriam o contato entre corpos causalmente relacionados. Contudo, Hobbes apontou que no ser senciente, as sensações podem não ser mais do que uma moção interna dos órgãos dos sentidos.
Política
- Leviatã
O Leviatã é a obra que consagrou a imortalidade de Hobbes, e a premissa inicial da obra apoia-se num estado puramente natural da sociedade, onde haveria uma guerra de todos contra todos. Hobbes argumentou que em tal estado, os princípios racionais do autointeresse incentivariam os homens a abdicarem de certa parte da sua liberdade a troco de concessões de peso igual por parte de outros indivíduos. Tais princípios conduziriam à transferência de direitos para um centro de poder e decisão que aplicaria e reforçaria a lei com recurso ao castigo. Este centro de poder e decisão seria representado por um magno soberano, fonte de todas as leis e direitos de propriedade, e a sua função passava por sedimentar os acordos sociais iniciais constituintes de um Estado e os acordos individuais concretizados entre sujeitos. A obra foi publicada em Londres em 1651, e apesar da eloquente apresentação e defesa da soberania absoluta, o trabalho não foi bem-recebido pelo séquito de Carlos II, acabando por Hobbes por ser banido da corte.
References:
Kenny, Anthony (2006), The Rise of Modern Philosophy, Oxford, Clarendon Press.