Os sofistas foram mestres da retórica e da oratória que viveram por volta do século V a.C., momento de passagem da tirania e oligarquia para a democracia grega.
Nos séculos VII e VI a.C. o pensamento grego inicia um processo de desencantamento do mito, os pensadores denominados naturalistas(pré-socráticos), especularam sobre o princípio unitário de todas as coisas – a arché. Eles preocupavam-se, quase que exclusivamente, com os problemas cosmológicos. Estudar o mundo exterior nos elementos que o constituem, na sua origem e nas contínuas mudanças a que está sujeito, foram as grandes questões que deram a esse período seu caráter de unidade.
Porém, com Sócrates e os Sofistas no século V a.C., a filosofia toma um novo rumo, a preocupação com a origem do mundo não é mais predominante, há agora uma ênfase na experiência humana, na compreensão da construção dos valores e no problema do conhecimento.
Com o desenvolvimento da Pólis (cidade grega), mais exatamente a partir do exercício da cidadania através da opinião, da discussão, deliberação e votação nas assembleias públicas, a ágora (praça pública), espaço onde se debatiam os problemas de interesse comum ganha uma importância ainda maior. A expressão de individualidade que passa a se dar por meio do debate faz nascer a politika, libertando o homem dos desígnios divinos, e permitindo a ele tecer seu destino na praça pública.
Para dar aos jovens a educação com o padrão de bom orador em suas discussões políticas, substitui-se a educação antiga orientada pela mitologia, pela dos sofistas. Estes foram importantes filósofos e educadores, embora este papel lhes seja negado, como afirma o professor Danilo Marcondes. Apesar do sentido pejorativo que ganham a partir de Platão, o sentido da palavra sofista está em sofia, mesma origem de sabedoria. Em sua época, eles eram considerados sábios e mestres que se dedicavam as questões políticas e jurídicas. Para eles os problemas relativos a natureza eram estéreis porque não serviam para vida na pólis. Em sua prática não ambicionam um conhecimento especulativo da vida, mas sim um conhecimento prático, que buscava influenciar na vida pública. Por essa razão, os sofistas ensinavam e buscavam a excelência, principalmente, na arte de convencer. Afinal, numa sociedade em que os indivíduos ganham o status de cidadão por intervir ativamente na vida política, a arte de saber expor ideias, argumentar ou discutir tem uma boa aceitação. Mas esta arte de persuadir é desenvolvida e transmitida pondo em dúvida não só a tradição, mas a existência de verdades e normas universalmente válidas. Não existe nem verdade e nem erro e as normas – por serem humanas – são transitórias.
São os sofistas os elaboradores do ideal teórico da democracia, valorizado pelos comerciantes em ascensão, cujos interesses se contrapunham aos da aristocracia rural. Chamavam a arte deles de persuasão, já que auxiliavam os jovens a aprender a defender sua posição ou opinião. Eles transmitiam todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que seriam utilizadas no método de convencimento das pessoas, driblando as teses dos adversários a partir de uma lógica nascente.
Apesar de não terem construído uma escola de pensamento, os sofistas favoreceram o surgimento de concepções filosóficas relativistas sobre o mundo. Assim tudo seria relativo ao indivíduo, ao momento histórico, a um conjunto de fatores e circunstâncias de uma sociedade.
Os principais nomes dentre os sofistas são:
– Protágoras, que tinha como princípio básico de sua doutrina a ideia de que, “o homem é a medida de todas as coisas”.
– Górgias, que partindo de um ceticismo absoluto afirmava que, “nada existe; se alguma coisa existisse não a poderíamos conhecer; se a conhecêssemos não a poderíamos manifestar aos outros.”
– Híppias, que via a lei como um disfarce para o poder, dizia ele que, “as verdadeiras leis são somente as da natureza: são válidas em cada país e do mesmo modo. As outras leis não têm uniformidade, nem estabilidade, porque derrogadas por vezes pelos próprios que as fizeram. A lei natural é uma lei não escrita e não depende da fantasia dos homens. Ele atribuiu a lei natural ao ser mesmo da natureza, e não a faz simplesmente uma vontade divina.”
– Trasímaco, que parte do princípio de que, “a justiça é simplesmente o interesse do mais forte.”
O que os Sofistas nos ensinaram? Que a linguagem é a aparência dos seres e esta aparência é a única coisa que temos para definir o mundo, portanto, ela é legítima.
References:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria helena Pires. Filosofando. 4° Ed. São Paulo: Moderna, 2009;
JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. 3ºed. Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996;
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 2°ed. Rio de Janeiro: 2007;
VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Trad. João Dell’Anna. 30ºed. Rio de janeiro: Civilização brasileira, 2008.