Escolástica é um termo que significa “doutrina da escola” e foi desenvolvido dentro da história medieval por um período que vai do século IX ao século XV.
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Abadia de San Galgano construída entre 1218 e 1288
Apesar do risco de simplificação, divide-se a Idade Média, no que tange a filosofia, em dois momentos fundamentais: a Patrística e a Escolástica. A Filosofia Patrística inicia-se ainda no período decadente do Império Romano, no século III. Essa filosofia auxilia a exposição racional da doutrina religiosa e se acha contida nos trabalhos dos chamados Padres da Igreja, cujas principais preocupações são as relações entre fé e ciência; a natureza de Deus e da alma; a vida moral.
Já a Escolástica tem por base a especulação filosófico-teológica que se desenvolve do século IX até o Renascimento. Tem esse nome por ter sido dominante nas escolas que começaram a surgir durante o Renascimento carolíngio. Carlos Magno (séc. VIII), preocupado em enriquecer a cultura, funda às escolas junto aos mosteiros e igrejas, contratando diversos sábios, como o inglês Alcuíno. O ensino aí desenvolvido baseava-se, sobretudo, no:
– trivium (gramática, retórica e dialética);
– quadri vi um (aritmética, música, geometria e astronomia).
As formas de ensino eram duas:
– lectio, que consistia no comentário de um texto;
– disputatio, que consistia no exame de um problema através da discussão dos argumentos favoráveis e contrários. Por conta disso, na Escolástica, a atividade literária assumia predominantemente a forma de comentários ou coletâneas de questões.
Ainda no século XI surgem as universidades (de Paris, Bologna, Oxford etc.) que, espalhadas por toda a Europa, tornam-se locais de fecunda reflexão filosófica. Já no século XII, aparecem traduções de obras de Arquimedes, Hero de Alexandria, Euclides, Aristóteles e Ptolomeu. Muitas vezes o pensamento desses autores chegava deformado à Europa, pois era traduzido do grego para o sírio, do sírio para o árabe, do árabe para o hebraico e do hebraico para o latim medieval. Por isso, a Igreja condenou certos estudos, inclusive o pensamento aristotélico, que na tradução árabe adquirira contornos panteístas.
O primeiro período da escolástica é marcado pela influência do pensamento de Santo Agostinho e do platonismo, mas o seu período áureo corresponde ao da influência de Aristóteles, graças a Tomás de Aquino. Consultando a tradução feita diretamente do grego, ele recuperou o pensamento original de Aristóteles. Mais que isso, fez adaptações à visão cristã e escreveu uma obra monumental, a Suma teológica, onde, uma vez mais, as questões da fé eram abordadas pela “luz da razão” e a filosofia servia de instrumento que auxiliava o trabalho da teologia. É com um Aristóteles cristianizado que surge então a filosofia aristotélico-tomista.
A tradição grega retomada na Idade Média, valoriza o conhecimento teórico em detrimento das atividades práticas. Isso continua sendo possível porque o modo de produção feudal, assentado no trabalho do servo, também despreza a atividade manual, ao mesmo tempo que valoriza o nobre guerreiro para o qual o ócio decorre de seus privilégios. Nesse panorama, a ciência continua voltada para a discussão racional e desligada da técnica e da pesquisa empírica. Os instrumentos de trabalho são rudimentares: para conhecer os corpos, só se têm os olhos; para avaliar o frio e o quente, só se tem a pele.
Podemos dividir a escolástica em três períodos:
– 1° Alta escolástica: que vai do século IX ao final do século XII e caracteriza-se pela confiança na harmonia intrínseca e substancial entre fé e razão e na coincidência dos seus resultados;
– 2° O florescimento da escolástica: que vai de 1200 ao primeiros anos do século XIV, período dos grandes sistemas em que a harmonia entre a fé e a razão é considerado parcial;
– 3° Dissolução da escolástica: que vai dos primeiros decênios do século XIV até o Renascimento, período em que o tema base é a oposição entre fé e razão.
Este período final foi marcado pelo conflito entre diferentes correntes de pensamento e interpretações doutrinais, além das novas descobertas científicas. A Reforma Protestante e o humanismo renascentista fizeram com que a escolástica, que representava a tradição, fosse atacada.
References:
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 1° ed. brasileira coordenada e revista por Alfredo Bosi; revisão da tradução e tradução de novos textos Ivone Castilho Beneditti – 6°ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.
JAPIASSU, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. 3°ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 2°ed. Rio de Janeiro: 2007