Introdução
Se é mínimo o acordo quanto ao que constitui ou não, enquanto disciplina, a antropologia, menor ainda é esse acordo relativamente à definição da arte, pelo que os antropólogos da arte enfrentam uma problemática labiríntica vista a complexidade indissociável. Estes mesmos investigadores lutam episodicamente para distinguirem o seu raio de acção da esfera dos historiadores da arte, concentrando-se os últimos na intenção ou forma, e os primeiros na função da arte.
Destarte, é possível encontrar na análise de Franz Boas sobre a arte não-ocidental, tanto uma crítica das abordagens evolucionistas como uma perspectiva sustentada pelo particularismo histórico, que veio a caracterizar a antropologia americana no início do século XX. Igualmente, o funcionalismo inicial que construiu a antropologia social britânica, aparece num número reduzido de trabalhos sobre arte, como é o caso dos livros de Raymond Firth sobre a Nova-Guiné.
A partir da década de 60 e 70, consolida-se a explosão no interesse da antropologia pela arte, nomeadamente no referente ao campo simbólico e semiótico, explorados sofisticadamente no trabalho de Nancy Munn sobre os símbolos gráficos Walbiri da Austrália. O estruturalismo francês forneceu o aparato analítico a Lévi-Strauss, especificamente no exame das máscaras e mitos da costa nordeste do Canadá. A partir de 1990, em parte devido ao ressurgimento do interesse hermenêutico na cultura material, as análises antropológicas da arte, independentemente da definição assumida, cresceram em número, e sensibilizaram-se para com as preocupações teóricas concernentes ao género e colonialismo.
Previsivelmente, durante o curso das várias gerações consagradas ao estudo antropológico da arte, o campo de interesse variou conforme as inclinações dos investigadores, o que não obstou à permanência de determinadas questões, ainda que as respostas tenham-se aprofundado em comparação às ideias prévias. Assim, o que outrora se denominou como “arte primitiva” tornou-se etnoarte”, as demandas pelas origens da arte foram sufocadas pelas análises do sentido, e a descrição dos elementos estilísticos mesclaram-se com a preocupação mais ampla em torno da estética.
Não raras vezes, estas questões foram comparadas às interrogações lançadas em torno da arte europeia, especificamente quanto à natureza a criatividade humana, a personalidade do artista ou o papel do patronato. Intrínseca a esta problemática é a pressuposição de que a antropologia da arte limita-se ao estudo de formas não-ocidentais, embora alguns académicos, como Jacques Maquet, tenham tentado alargar o perímetro da discussão.
References:
Boas, F. ([1927] 1955) Primitive Art, New York: Dover
Coote, J. and A.Shelton (eds) (1992) Anthropology, Art and Aesthetics, Oxford: Clarendon Press