Não raras vezes, a disciplina conhecida como Arqueologia parece apresentar diferentes significados em diferentes contextos, desde o particular ao geral. Num certo extremo, pode referir-se à recuperação de remanescentes arcaicos (ossos e potes, por exemplo) por intermédio da escavação. Mas o trabalho de campo arqueológico inclui um vasto conjunto de actividades, desde o inquérito e registo de máquinas industriais (arqueologia industrial), arqueologia marítima e fotografia aérea.
A escavação em si envolve tanto conceitos arqueológicos como o contexto (associação e montagem), como técnicas externas, como o uso do magnetómetro sob a superfície terrestre, ou ainda o processamento de dados com o recurso a computadores.
De um modo geral, a arqueologia refere o que os arqueólogos fazem, mais propriamente classificado como pré-história ou história. Toda a reconstrução do passado, baseada em remanescentes materiais além das fontes escritas, categoriza-se também como arqueologia, ainda que a arqueologia histórica se caracterize pelo uso de fontes escritas no processo interpretativo. Deste modo, o limite entre a arqueologia e a história não é nítido, uma vez que a interpretação das camadas em certa zona depende intimamente do conhecimento acumulado quanto ao que aconteceu a determinada altura nesse determinado lugar. Portanto, as teorias e os paradigmas quando são alterados apresentam frequentemente poucas contradições face aos dados reunidos, não obliterando, naturalmente, a imaginação histórica.
História
A especulação sobre o passado humano começou com a antiguidade clássica, mas a investigação dos monumentos e artefactos data do Renascimento, aumentando acentuadamente durante os séculos XVIII e XIX, consequência em parte do interesse nacional, orgulho e identidade. Esta fase precoce da arqueologia originou-se com o estudo de antiguidades orientais e clássicas, como Pompeia, monumentos europeus como Stonehenge ou as rochas de Carnac, e ainda com o interesse das origens humanas enquanto resultado dos desenvolvimentos geológicos e biológicos.
Como preocupação inicial determina-se estabelecer uma sequência cronológica, pelo que no século XIX, na Dinamarca, C.J. Thomsen agrupou antiguidades em diferentes categorias materiais, como a pedra, o bronze e o ferro, ordenando-os segundo a significância cronológica, ao passo que J.J.A. Worsaae disponibilizou evidências estratigráficas para essa sequência. Este esquema foi defendido com base em provas etnográficas, evidenciando a passagem da barbárie à civilização. Esta ideia de Sven Nilsson foi aprofundada no século XIX por Sir Edward Tylor e Lewis Henry Morgan, influenciando pensadores como Marx e Engels. Tal ênfase evolucionista no debate arqueológico sobre as origens da humanidade associa-se estreitamente com as ideias propaladas por Charles Darwin.
Neste período precoce da arqueologia, a abordagem evolucionista aliou-se particularmente com a comparação transcultural, o optimismo científico, e noções de progresso da barbárie às sociedades industriais. Todavia, no início do século XX, e particularmente após a 1ª Guerra Mundial, o objectivo fulcral da arqueologia passou a ser a reconstrução de sequências históricas locais, a identificação de diferenças culturais, e a descrição da difusão e origem de estilos e tipos. V. Gordon Childe cristalizou a usagem primária do termo cultura na sua expressão inglesa e alemã, e definiu o conceito como uma associação recorrente de traços numa área geográfica limitada. Estas unidades espaciais e temporais tornaram-se na pedra basilar no referente às sequências históricas locais e difusão de traços.
Uma fusão completa e complexa da teoria evolucionista, da ciência, e da antropologia com a arqueologia, foi prosseguida no movimento nominado “Nova Arqueologia”, impulsionado por Lewis Binford nos EUA e por David Glarke na Grã-Bretanha. Apesar das diferenças destas figuras respectivamente a outros novos arqueólogos, a preocupação central foi introduzir métodos científicos e rigorosos de explicação na arqueologia. Ao invés de explicarem o que aconteceu no passado, tentaram explicar o porquê de determinados eventos. Assim, a etnografia e a antropologia forneceram as teorias para a explicação de eventos passados, ao passo que a subdisciplina conhecida como “etnoarqueologia” desenvolveu-se de forma a estudar as concatenações entre os resíduos da cultura material e os processos no mundo presente. A partir de tais estudos, esperava-se formular leis de processos culturais a partir das quais determinadas ocorrências arqueológicas seriam deduzidas.
Panorama Actual
Enquanto prática, a arqueologia, especialmente nos EUA, permanece sob a tenaz do funcionalismo ecológico, da teoria evolucionista e do positivismo. As preocupações duradouras têm sido com os processos, a aplicação da teoria dos sistemas e métodos científicos, com o tremendo recurso aos computadores no que toca ao armazenamento e organização dos dados, manipulações estatísticas, taxonomia e simulação. O contexto europeu difere, uma vez que a prática da arqueologia pugna pelo elo com a história. Deve-se a esta divergência o fosso cada vez mais amplo que separa a teoria e a aplicabilidade.
References:
Trigger, B. (1989) A History of Archaeological Thought, Cambridge, UK.