Sarna sarcóptica

Definição e breve descrição, incluindo sinais clínicos e tratamento, de sarna sarcóptica, doença de pele que afeta principalmente o cão.

A sarna sarcóptica, ou escabiose, é uma doença dermatológica infeciosa, altamente contagiosa, cujo agente etiológico é um ácaro. Ainda que o parasita apresente elevada especificidade para um determinado hospedeiro, o cão, também raposas, gatos e o Homem podem ser contaminados (Pinchbeck & Hillier, 2006). No que diz respeito aos gatos, a infeção não é comum e ocorre na maioria dos casos em animais imunodeprimidos, com doenças como FIV (Pinchbeck & Hillier, 2006).

Etiologia

Tem na sua origem o ácaro Sarcoptes scabie var. canis, que escava galerias na epiderme dos hospedeiros, nas quais as fêmeas colocam os seus ovos. Fora do hospedeiro, a sua sobrevivência depende da temperatura e humidade (Miller, Griffin & Campbell, 2012), podendo atingir os 21 dias (Pinchbeck & Hillier, 2006).

Epidemiologia e Patogenia

No cão, o período de incubação é variável, dependendo de diversos fatores, como o número de ácaros presentes (Pinchbeck & Hillier, 2006). A transmissão ocorre principalmente por contacto direto, mas também através de fomites (roupa, escovas e outros objetos contaminados).
Existem evidências de que esta doença ocorre devido a uma reação de hipersensibilidade por parte do hospedeiro, uma vez que um pequeno número de ácaros pode provocar lesões severas em animais sensíveis (Pinchbeck & Hillier, 2006).

Sinais clínicos

Os animais apresentam prurido intenso e lesões como escamação, eritema, alopécia (queda do pelo), pápulas e crostas. O tórax, abdómen, orelhas, jarretes e cotovelos são as zonas mais afetadas. Lesões no dorso são pouco comuns (Pinchbeck & Hillier, 2006; (Miller et al., 2012). Zonas de liquenificação e hiperpigmentação são comuns em estados crónicos devido à auto-lesão provocada pelo prurido intenso (Pinchbeck & Hillier, 2006). Outra possível consequência da auto-lesão é a dermatite pio-traumática. O prurido piora com o calor, podendo ser mais intenso a seguir a banhos quentes (Miller et al., 2012).
A infeção subclínica é possível, com prurido intenso na ausência de lesões cutâneas significativas (apenas eritema e escoriações auto-infligidas) (Miller et al., 2012), assim como o estado de portador assintomático, sem quaisquer sintomas, mas com a capacidade de disseminar a doença.

Diagnóstico

Baseia-se na história de possível contacto com animais infetados (em hotéis, canis, parques, entre outros), súbito e intenso prurido e exame físico com observação de lesões compatíveis com o diagnóstico.
A observação microscópica de ácaros, ovos ou suas fezes em raspagens cutâneas tem valor diagnóstico, mas nem sempre é fácil pois os ácaros podem encontra-se em número diminuído. Deve-se proceder à raspagem da lesões mais recentes e procurar em diversas zonas, de modo a maximizar a probabilidade de encontrar evidências de contaminação.
Muitas vezes procede-se ao diagnóstico terapêutico, com administração do tratamento acaricida. Mesmo com uma resposta positiva ao tratamento, um diagnóstico definitivo é difícil desta forma, uma vez que a maioria dos acaricidas utilizados são eficazes contra outros ectoparasitas.
O reflexo otopodal parece estar presente em grande parte (75 a 90%) dos casos de escabiose (Pinchbeck & Hillier, 2006), podendo também ser um auxiliar ao diagnóstico. O teste consiste em esfregar a ponta da orelha. Caso o cão movimente algum membro num esforço para se coçar o teste é considerado positivo.
Existem também testes para pesquisa de anticorpos anti-Sarcoptes scabiei que podem ser úteis quando não são encontradas evidências da presença dos ácaros ao exame microscópico (Pinchbeck & Hillier, 2006). Estes testes devem ser realizados apenas quando os sinais clínicos estão presentes há mais de 2 semanas, pois antes poderão ocorrer falsos negativos (Pinchbeck & Hillier, 2006).

Tratamento

Aconselha-se o corte do pelo em redor das lesões, de modo a facilitar o tratamento. A utilização de champôs antiseborreicos ajuda a remover crostas e secreções e a aplicação de banhos acaricidas está também indicada.
Existem diversas opções no que diz respeito ao tratamento sistémico como, por exemplo, a selamectina, um spot-on (aplicado num ou dois pontos, conforme o tamanho do animal, na base do crânio e/ou dorso) que é absorvido através da pele, entrando na corrente sanguínea.
O tratamento deve ser aplicado a todos os animais que tenham entrado em contacto com o animal doente, mesmo na ausência de lesões evidentes e os animais devem permanecer isolados de modo a evitar a disseminação da doença. É ainda importante proceder à higienização dos espaços frequentados pelos animais contaminados.
As infeções bacterianas secundárias devem ser tratadas com medicação apropriada e o prurido muito intenso, com risco de auto-traumatismo, poderá ser tratado com a administração de corticosteroides. No entanto, a maioria dos animais infetados com sarna sarcóptica não responde ao tratamento com corticosteroides (Miller et al., 2012).
Após tratamento e cura, o cão poderá desenvolver imunidade, não apresentando sinais clínicos caso ocorra reinfeção (Pinchbeck & Hillier, 2006).

Referências bibliográficas

Pinchbeck, LR. & Hillier A. (2006). Scabies, Notoedric Mange, and Cheyletiellosis. In SJ. Birchard & RG. Saunders, Saunders manual of small animal practice (3rd ed., pp. 465-469). St. Louis, Mo.: Saunders Elsevier.

Miller, W., Griffin, C., & Campbell, K. (2012). Parasitic Skin Disease. In Muller and Kirk’s Small Animal Dermatology (7th ed., pp. 315-319). St. Louis, Missouri: Saunders.

1577 Visualizações 1 Total
1577 Visualizações

A Knoow é uma enciclopédia colaborativa e em permamente adaptação e melhoria. Se detetou alguma falha em algum dos nossos verbetes, pedimos que nos informe para o mail geral@knoow.net para que possamos verificar. Ajude-nos a melhorar.