Em que consiste a teoria da preferência pela liquidez?
Este teoria ancora-se na teoria monetária desenvolvida na Teoria Geral de Keynes e baseia-se na especificação dos fatores que induzem os investidores a manterem moeda em seu poder. Através das operações de mercado aberto os bancos centrais podem fazer variar a quantidade de moeda em circulação através da compra ou venda de títulos. Com isso pode variar a quantidade de dinheiro somente criando as condições que levam o público a mudar a composição da sua carteira de ativos.
Esta teoria procura explicar a estrutura temporal das taxas de juro.
Relação com a estrutura temporal das taxas de juro
A procura por liquidez pode ser considerada como uma procura por crédito, já que é expressa por agentes que: (i) não têm liquidez, e (ii) que, quando obtêm o dinheiro, comprometem-se a pagá-lo de volta em uma data futura. Quanto à oferta de crédito, a principal conclusão é que a oferta de crédito não depende das decisões de poupança, mas depende sim das decisões tomadas pelos bancos e que são independentes do fluxo de poupança. Existe uma ligação entre o fluxo das variáveis que caracterizam o mercado de crédito e as variáveis da quantidade de moeda que compõem o mercado monetário; esta ligação pode ser definida através da distinção entre as duas fases no processo de criação de moeda. Na primeira os bancos criam moeda através do financiamento das empresas. Bancos e empresas são os atores principais desta fase. Os investimentos financiados pelos bancos determinam um aumento da renda. Na segunda fase, os aforradores intervêm; o novo dinheiro criado pelos bancos é adicionado com o dinheiro existente e o fluxo de poupança gerado pelas decisões de investimento aumenta a riqueza do público. A segunda fase é aquela em que as condições estão criadas para os poupadores aceitarem manter o dinheiro criado pelos bancos, na verdade não é certo que o aumento da riqueza correspondente ao fluxo de poupança nova leve os poupadores a aumentar a sua procura por moeda a um nível tal que o novo dinheiro criado pelos bancos é absorvido. Esta especificação também pode servir de base à explicação da estrutura de capital das empresas, uma vez que, numa primeira fase, as empresas obtêm os recursos necessários para realizar investimentos, numa segunda fase as empresas escolhem a estrutura do passivo que considera satisfatória, substituindo dívidas de curto prazo por dívidas de longo prazo, que são mais consistentes com a estrutura dos seus rendimentos futuros. Nesta fase os investidores recompõem as suas carteiras.
Um exemplo pode ilustrar essa ideia com facilidade. Suponhamos que tem um instrumento com maturidade de 1 ano e sem risco de incumprimento. O seu resultado é certo e a sua rendibilidade é uma variável aleatória com variância zero. Se imaginarmos um instrumento com quatro anos para a maturidade, com rendibilidade esperada igual à do instrumento anterior, se a taxa de juro do próximo ano subir, o valor do instrumento desce. A perda de capital pode não ser compensada pelo pagamento de juros e a rendibilidade pode ser negativa. Por outro lado, se a taxa de juro descer, o valor do instrumento sobe e, dependendo do balanço entre o pagamento de juro e os ganhos de capital, a rendibilidade pode ser grande. Essa incerteza na rendibilidade do instrumento de quatro anos, com o mesmo valor esperado, quando comparada com a alternativa de investir no instrumento de um ano, faz com que o valor do instrumento de quatro anos deva ter uma redução de valor, de modo a torná-lo competitivo. Isso faz com que a sua rendibilidade esperada aumente.
References:
Mota, António Gomes (2012). Finanças da Empresa – da teoria à prática. 5ª Ed. Lisboa: Edições Sílabo.