Conceito de economia solidária
O conceito de economia solidária deriva do conceito de economia social que procura agregar as dimensões económicas, sociais e políticas de forma una. É assim da articulação destas três dimensões que se encontra a essência da economia solidária.
A economia solidária pode então ser definida como o conjunto das atividades económicas submetidas a uma vontade ou agir democrático, onde as relações sociais de solidariedade têm primazia sobre o interesse individual ou o lucro material. Desta forma, a economia solidária apresenta-se como um tipo de economia alternativa, caracterizada como um conjunto de atividades económicas cuja lógica é distinta da lógica do mercado. Enquanto o capitalismo (também designado por economia capitalista) se centra na acumulação do capital, tendo por base os interesses individuais, a economia solidária organiza-se a partir de elementos humanos, favorecendo as relações onde a relação social é valorizada através da reciprocidade e adota formas comunitárias de propriedade.
Formação e génese
Economia solidária remete também para conceitos como associativismo e mutualismo, ou seja, sistemas privado de proteção social que visam o auxilio mútuo dos associados, como forma voluntária de realização do ideal da solidariedade. Assim, surgem diferentes tipos de organizações que adotam formas jurídicas e organizativas variadas, algumas delas atípicas e inovadoras, coincidindo ou não com as formas clássicas da economia social. Surgem então inovações sociais como resposta a novos e urgentes problemas sociais.
Crises económico-financeiras
As crises económico-financeiras recentes, sobretudo a partir dos decénios de 70/80 originaram novas iniciativas de economia solidária, assentes quer no associativismo, quer em novas expressões da economia como é o caso da economia colaborativa. Nestes contextos, a economia social e solidária pode ser vista como um polo de transformação permanente da economia e da sociedade. As referidas crises, a par de mudanças profundas verificadas na sociedade trouxeram à tona novas necessidades que mobilizaram diferentes atores da sociedade civil e foram responsáveis por uma nova onda de associativismo. Nascia assim uma nova geração da economia social, baseadas na inovação e empreendedorismo social.
Outros fatores
Para além das sucessivas crises económicas, com particular incidência a partir do decénio de 70, elencam-se outros fatores socioeconómicas verificadas nos últimos decénios e que justificam-se o nascimento de uma nova economia solidária:
– o nível de desemprego causado pela crise do sistema capitalista e o encerramento de muitas empresas.
– o aumento das desigualdades gerado pela globalização e modelo económico neoliberal.
– a reconfiguração do Estado social que tende a diminuir os níveis de proteção dos indivíduos.
– a incapacidade de endereçar os problemas da pobreza e da exclusão social e de articulação das entidades que operam nesta área.
– a crescente terciarização das atividades produtivas (serviços de saúde, ação social, serviços pessoais, serviços domésticos,…).
– o envelhecimento da população e aumento do trablho feminino.
Nova economia social
A nova economia social, a economia solidária, inclui os novos “serviços pessoais” que visam responder a necessidades que foram tratadas de forma desadequada pelo Estado social e novas atividades económicas que promovem a integração das pessoas e revitalizam áreas rurais ou urbanas em declínio.
A tripla dimensão, social, política e económica, reivindicada pela economia solidária, reforça a necessidade de as experiências associativas e mutualistas pesarem sobre os compromissos institucionais. A economia social, centrando-se sobre o aspeto organizacional, mantém o isomorfismo institucional criado pela divisão e complementaridade entre mercado e Estado social.
Atualmente, o mercado é visto como meio de unificação da sociedade, permitindo que o comércio satisfaçam os interesses pessoais. No entanto, o mercado é ambivalente, prometendo harmonia, mas acarretando numerosas perturbações e questões sociais. A solidariedade é uma construção social e a sua conceção atual, surgiu no já início do século XIX, como resposta às realidades decorrentes da sociedade industrial, em que se assume que o mercado deve ser complementado com este domínio social, associativo e mutualista.