Padre António Vieira – António Vieira nasceu em Lisboa, a 6 de fevereiro de 1608 e viria a falecer, no Brasil, a 18 de julho de 1697.
António Vieira, filho de Cristóvão Vieira Ravasco (escrivão oficial, que foi nomeado no ano de 1614, funcionário da Relação da Baía) rumou com a família ao Brasil, com apenas seis anos, iniciando os estudos no Colégio dos Jesuítas da Baía.
Com 15 anos, corria o ano de 1623, integrou a Companhia de Jesus, formando-se noviço, dois anos depois. Por esta altura, passaria a lecionar Humanidades e Retórica no Colégio de Pernambuco. Dotado de um elevado interesse pelos Ameríndios, bem como pelos escravos negros, estudou Tupiguarani e Quimbundo, as línguas respetivamente, o que influenciou a sua decisão de se tornar missionário, assim como pregador.
Em 1634, foi ordenado padre e pregaria a 13 de julho de 1638, o «Primeiro Sermão de Santo António». Ainda nesse ano, iniciou-se como professor de Teologia, no Colégio da Companhia de Jesus da Baía.
Homem preocupado com a invasão dos holandeses a Baía e, ainda, com a exploração dos nativos, por parte dos colonos, passou nos seus sermões, a refletir isso mesmo e tornar-se-ia um pregador de grande prestígio.
No ano de 1641, integrou uma delegação que rumou a Portugal, com o objetivo de apoiar a Restauração da Monarquia. Assim, acompanhou o filho do vice-rei, tornando-se íntimo de D. João IV, que impressionado com a sua loquacidade e inteligência, o nomearia pregador da corte, bem como seu confessor e conselheiro.
Em 1643, negociaria a reconquista das colónias e entre 1646 e 1651, desempenhou variadas missões diplomáticas em Itália, França e Holanda. Contou com o apoio do rei, para a libertação dos índios, mas tal não foi bem aceite pelos colonos, pregando contra estes inúmeros sermões, tais como «Santo António aos Peixes» e «Sexagésima». Falecendo D. João IV, no ano de 1656, António Vieira seria perseguido pela Inquisição e não tendo o apoio da corte, foi expulso do Maranhão, juntamente com outros jesuítas. Seria encarcerado, em Coimbra, em 1667 e, desta maneira, proibido de pregar.
Com a subida ao trono de D. Pedro II, conseguiu a sua libertação, passados cinco anos, mais ou menos, em Roma, com a proteção da Rainha Cristina da Suécia. Regressaria a Portugal, a partir de 1675, iniciando a publicação dos «Sermões». O primeiro volume seria, efetivamente, publicado no ano de 1679.
Voltou, definitivamente, ao Brasil, nomeadamente, a S. Salvador da Baía, passando a dedicar-se à edição completa dos seus «Sermões».
Refira-se que o «Sermão de Santo António aos Peixes» se tratou de uma verdadeira obra-prima da literatura do nosso país, procurando advertir para as más ações do comportamento humano. O Padre António Vieira, não conformado com o comportamento de corrupção do homem, começa a pregar comparando-o a peixes. Ao constatar todo este problema, que assola a terra, questiona-se sobre a causa desta mesma corrupção.
Quanto à estrutura argumentativa do sermão, as suas características estilísticas são utilizadas na oratória barroca, época em que viveu o autor.
Ser pregador pressupõe, assim, uma aptidão natural, mas também, muita dedicação. E foi este, o trabalho que o Padre António Vieira desenvolveu, condenando com argumentos sólidos “os pregadores que se pregam a si e não a Cristo” e como tal, perante tal comportamento, não podem servir de exemplo aos colonos brasileiros, deleitando os leitores com metáforas carregadas de grande humor e vivacidade, sensibilizando e ao mesmo tempo comovendo leitores e ouvintes.
Segundo os preceitos da retórica antiga, a estrutura deveria apresentar-se da seguinte forma: exórdio, com a apresentação do tema, os propósitos do orador, ou seja a introdução; a narração, a divisão, a confirmação e a refutação, integrando o desenvolvimento, tendo aqui lugar a defesa da tese sustentada com argumentos e por último, a peroração, ou seja, a conclusão, apresentando-se a síntese dos melhores argumentos e fazendo-se um apelo à aprovação dos ouvintes.
Fernando Pessoa chamou, mesmo, “Imperador da língua portuguesa” a António Vieira, pela sua excecionalidade enquanto orador, missionário, diplomata, política e prosador de excelência. Deixou um legado de 200 «Sermões», 500 Cartas e inúmeros ensaios de cariz político, cultural, social, literário, como é o caso de «Histórias do Futuro», «Clavis Prophetarum» e «Esperanças de Portugal».
References:
https://www.infopedia.pt/$padre-antonio-vieira
http://www.arqnet.pt/dicionario/vieira_antoniop.html
http://visao.sapo.pt/jornaldeletras/letras/democratizar-padre-antonio-vieira=f713723