Primeiros anos
Bernardo da Costa Sassetti Paes, conhecida como Bernardo Sassetti, nasceu no dia 24 de Junho de 1970, em Lisboa. Foi o oitavo filho de Sidónio de Freitas Branco Paes e da sua mulher, e prima em 2.º e 3.º graus, Maria de Lourdes da Costa de Sousa de Macedo Sassetti Paes. Bisneto de Sidónio Pais, os seus antecedentes familiares incluem grandes nomes da música portuguesa como o compositor Luís de Freitas Branco, o maestro Pedro de Freitas Branco e o musicólogo e matemático João de Freitas Branco.
O músico iniciou os seus estudos de piano aos nove anos de idade com a professora Maria Fernanda Costa e, mais tarde, com o professor António Menéres Barbosa. Frequentou, também, a Academia dos Amadores de Música. Dedicou-se ao jazz, estudando com Bernardo Moreira, Zé Eduardo, Horace Parlan e Roland Hanna.
Sasseti começou a sua carreira profissional em 1987, apresentando-se em concertos e clubes locais com o quarteto Carlos Martins e o Moreiras Jazztet. Participou em vários festivais com músicos, tais como Al Grey, John Stubblefield, Frank Lacy e Andy Sheppard.
Composição
Como compositor salientam-se, entre muitas outras peças, «Ecos de África» (1994), «Sons do Brasil» (1994), «Mundos» (1995), «Entropé», para piano e orquestra (2001), «4 Movimentos soltos», para piano, vibrafone, marimba e orquestra (2003), «Fragments (of Cinematic Illusion)» (2004/2005), «Concerto Dinâmico» (2005) e «Suite para Dom Roberto» (2007).
Concertista
Sasseti apresentou-se por todo o mundo ao lado de músicos como: Art Farmer, Kenny Wheeler, Freddie Hubbard, Paquito D’Rivera, Benny Golson, Curtis Fuller, Eddie Henderson, Charles McPherson, Steve Nelson, Chano Domínguez, Guy Barker, Mário Laginha, Pedro Burmester, Maria João Pires, João Paulo Esteves da Silva, Alexandre Frazão, Carlos Barretto, Demian Cabaud, Carlos Bica, Laurent Filipe, JeanFrançois Lezé, Bernardo Moreira, José Salgueiro, Marco Miralta, Guillermo McGill, Perico Sambeat, Pedro Moreira, João Moreira, Nelson Cascais, Adja Zupancic, André Fernandes, Drumming Grupo de Percussão, entre outros. Destaca-se a colaboração estreita e regular com a Sinfonietta de Lisboa e o Maestro Vasco Pearce de Azevedo.
Em 1994 integrou a United Nations Orchestra, fundada por Dizzy Gillespie e gravou com o quinteto de Guy Barker o CD «Into the Blue», nomeado para os Mercury Music Prize 95 – Ten albums of the year. Novamente com Guy Barker, gravou em 1997, «What Love is», acompanhado pela Orquestra Filarmónica de Londres e com a participação especial do cantor Sting.
Trabalhos discográficos
O seu primeiro disco, enquanto líder, «Salsetti», foi gravado em Abril de 1944, com a participação de Paquito D’Rivera. Seguiu-se «Mundos», em Janeiro de 1996.
Em 2002 surgiu o primeiro disco do Bernardo Sassetti Trio, formado pelo músico, por Carlos Barretto e Alexandre Frazão. «Nocturno» foi distinguido com o Prémio Carlos Paredes.
Dois anos depois, gravou dois discos para piano solo, «Indigo» e «Livre» e, no ano seguinte, 2005, foi lançado o segundo disco do Bernardo Sassetti Trio, «Ascent», com a participação de Ajda Zupancic e François Lezé, um projecto que juntou a música às artes visuais, derivadas da sua dedicação ao cinema e à fotografia. Em Dezembro de 2006, seguindo a mesma linha audiovisual, o compositor editou «Unreal: Sidewalk Cartoon», que foi levado a espectáculo com a participação de vinte e oito músicos e uma actriz.
Ainda em 2006, no mês de Outubro, actuou no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, com Mário Laginha e Pedro Burmester, num concerto a três pianos, editado em CD e DVD no ano seguinte. Em 2010 gravou o terceiro e último disco do seu trio, «Motion» e, em parceira com Carlos do Carmo, surgiu «Bernardo Sassetti & Carlos do Carmo».
O músico apareceu em muitos outros discos, tanto no papel de acompanhante, como no papel de compositor.
Bernardo Sassetti
Cinema
Dada a sua paixão pelo cinema, não são de estranhar os 18 anos que dedicou à composição de música para o cinema.
Participou, em 1999, no filme «The Talented Mr. Ripley» do realizador Anthony Minguella. Gravou o standard «My Funny Valentine» com o actor Matt Damon, entre outros temas, e escreveu em parceria com o trompetista Guy Parker vários peças que foram apresentadas na premiére do filme em Los Angeles, Nova Iorque, Chicago, Berlim, Londres e Roma.
Destacam-se entre os seus trabalhos para cinema «Maria do Mar» de Leitão Barros, «Facas e Anjos» de Eduardo Guedes, «Quaresma» de José Álvaro Morais, «O Milagre Segundo Salomé» e «Um Amor de Perdição» de Mário Barroso, «A Costa dos Murmúrios» de Margarida Cardoso, «Alice» e «Como desenhar um círculo perfeito» de Marco Martins, «Second Life» de Miguel Gaudêncio e Alexandre Valente, «98 Octanas» de Fernando Lopes, o documentário «Noite em Branco» de Olivier Blanc e a curta-metragem «As Terças da Bailarina Gorda» de Jeanne Waltz. As bandas sonoras de «A Costa dos Murmúrios» e «Alice» foram distinguidas com o troféu internacional Cineport para melhor banda sonora original.
Teatro
Compôs e interpretou, também, música para teatro. Destacam-se as peças «Dúvida» e «A Casa da Bernarda Alba» encenadas por Ana Luísa Guimarães, «A Bicicleta de Faulkner» encenada por Rita Lello e «Azul Longe nas Colinas» encenada por Beatriz Batarda.
Sasseti era casado com a actriz Beatriz Batarda e teve, com esta, duas filhas, Maria Sassetti Paes e Leonor Sassetti Paes.
Fotografia
Também apaixonada pela fotografia, e movido pela necessidade de associar a imagem à música que escrevia, intensificou a sua dedicação a esta forma de arte a partir de 1994.
Em 2007 expôs o seu trabalho no Museu Nogueira da Silva, em Braga. De Abril a Julho de 2008 expôs na FNAC do Norte Shopping em Matosinhos e, no final do mesmo ano, em Guimarães no Centro Cultural Vila Flor. Em 2009, a exposição mudou-se para a Madeira, onde foi exibida na Casa das Mudas na Calheta.
Morte e legado
Bernardo Sasseti faleceu em Cascais no dia 10 de Maio de 2012, aos 41 anos de idade, depois de cair numa falésia do Guincho, onde se encontrava a fotografar. É reconhecido como um dos maiores pianistas e compositores portugueses e recordado pela sua capacidade criatividade, sensibilidade e energia abundantes. Nas palavras de Manuel Jorge Veloso em «As várias faces de Sassetti»:
“É certo que, em rigor, Sassetti nos habituou a um certo continuum de familiaridade no seu percurso criativo, como líder de enorme firmeza e personalidade musical, como solista inventivo entre os demais, como compositor de grande sensibilidade e, ainda, como sideman de poderosa intervenção e cumplicidade cooperativa.
Mesmo assim, apesar dos traços reconhecíveis que aqui e ali sempre assomam na música que nos propõe, é a sua criatividade multifacetada que cada vez mais se reforça, não se remetendo o talentoso músico à contínua e eterna reiteração das opções pianísticas e de repertório com que, há vinte anos, brilhantemente irrompeu pela cena de jazz”.
References:
Casa Bernardo Sassetti. Em http://www.casabernardosassetti.com/pages/biografia_2
Veloso, M.J. (nd). As várias faces de Sassetti. Em http://www.casabernardosassetti.com/public/uploads/archive/textos%20sobre%20bernardo/Varias_Faces_Sassetti.pdf
Torres, H., Lusa., Borja-Santos, R. & Belanciano, V. (2012). Morreu Bernardo Sassetti, o músico que buscava o silêncio. Em https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/morreu-bernardo-sassetti-1545644