Introdução
A música de fusão afro-dominicana é um género que mescla a música tradicional da República Dominicana, nomeadamente a música afro-dominicana, historicamente marginalizada, com as formas mais amplas e aceites da música globalmente aceite, expressando assim o orgulho e a consciência racial.
Devido à relação antagónica com os vizinhos haitianos, e também à complexidade da própria identidade racial, muitos dominicanos continuam a resistir à sua herança africana. Iniciado nos anos 70, consolidou-se como um movimento emergido a partir do pensamento de intelectuais progressivos, folcloristas, e artistas, que na sua soma reconheceram e promoveram esse mesmíssimo legado africano. Este movimento encontra-se atualmente no seu apogeu. A música de fusão afro-dominicana inspira-se em estilos afro-dominicanos para inscrever uma musicalidade própria, e que inclui a saradunga, o congo, o palo, o salves, e a gagá.
História
O ponto de partida para o reconhecimento da linhagem afro-dominicana pode ser traçado até ao grupo musical Convite, um grupo de cientistas sociais, folcloristas e músicos, que foram influenciados pela nueva canción latino-americana, e que atuaram entre 1974 e 1981 pelo objetivo comum de abraçarem a herança africana que era a sua, e que até então tinha sido erradicada da história dominicana.
Metodologicamente, o grupo Convite sustentava o seu labor na etnografia e na observação participante, para desse modo absorver a lógica e o modo de vida dos afro-dominicanos rurais, e assim criar uma nova música detentora de uma suposta essência afro-dominicana. A banda Convite, entre outras gerações sucessivas de músicos de fusão, levaram a música afro-dominicana do seu contexto muitas vezes ritualístico e cerimonial, para as localidades urbanas sob a forma de música popular. Em concreto, esta música encoraja a resistência política, o pensamento oposto, e a consciência racial, encontrando-se estes elementos nas sonoridades tangidas.
Na aurora do conjunto musical Convite, uma grande variedade de grupos e artistas procuraram trazer a consciência negra aos dominicanos. Estes grupos abrangem diferentes estilos e preferências. Apesar de ser difícil generalizar sobre tantos grupos e projetos diversos, a música de fusão afro-dominicana tende a ter consciência da tensão entre a inovação e tradição no papel de construírem uma identidade africana. Ainda que muito do seu poder e apelo cheguem do encanto das velhas tradições, a música de fusão afro-dominicana é clara na ênfase que concede à rutura com as velhas estruturas musicais, raciais, e políticas.
A intenção destes músicos de fusão é abrir veredas na consciência dominicana por recurso a um complexo conjunto de símbolos semióticos codificados na sonoridade musical, no estilo, no texto, na atuação, na indumentária, e na atitude em palco. Uma vez que as classes altas da República Dominicana tenderam sempre a olhar para a música e cultura popular americana, alguma música de fusão afro-dominicana funde estrategicamente a sua sonoridade com o rock, o heavy metal, e o jazz, ao passo que outros artistas optam pelas formas populares da diáspora, para assim triturarem os preconceitos persistentes contra a música e religião afro-dominicana.
References:
Sellers, Julie A. Merengue and Dominican Identity: Music as National Unifier . Jefferson, NC: McFarland & Co., 2004.