Fado

Definição do género musical fado e exploração do percurso histórico da canção desde a sua origem, no século XIX, em Lisboa.

Conceito

O fado é uma canção tipicamente portuguesa, de carácter melancólico (as letras falam  de sofrimento, saudade, amor e ciúme, amores perdidos, miséria, crítica à sociedade), que teve origem em Lisboa, no século XIX. Normalmente, é cantada por uma só pessoa (fadista) acompanhada pela guitarra clássica (viola) e pela guitarra portuguesa.

O fado, que foi elevado à categoria de Património oral e imaterial da humanidade pela UNESCO, tornou-se num dos símbolos portugueses mais reconhecidos no estrangeiro.

Origem do fado

O fado nasceu no contexto popular da Lisboa oitocentista, manifestando-se de forma espontânea, dentro ou fora de portas, e associado, numa primeira fase, às franjas sociais pautadas pela marginalidade, transgressão e boémia. Esta associação valeu ao fado, na altura, uma vincada rejeição por parte da chamada intelectualidade portuguesa. A primeira “cantadeira” de que se tem conhecimento foi Maria Severa Onofriana (1820-1846), cujo envolvimento amoroso com o Conde de Vimioso se tornou tema de vários fados.

Teatro de Revista

O teatro de revista, um género de teatro ligeiro tipicamente lisboeta, nascido em 1851, cedo descobriu as potencialidades deste género de canção que, a partir de 1870, passou a integrar os seus quadros musicais. Neste tipo de espectáculo o fado, com refrão e orquestrado, era cantado tanto por actrizes como por fadistas de renome, que cantavam do seu próprio repertório. Ficaram na histórias duas formas diferentes de abordar o fado em teatro: o fado dançado e estilizado por Francis e o fado falado de João Villaret.

Hermínia Silva, uma das figuras mais importantes da história do fado consagrou-se, precisamente, nos palcos do teatro, nas décadas de 30 e 40 do século XX, aliando o seu talento vocal à faceta de actriz cómica.

Companhias de fado profissionais

A par do teatro de revista, nas primeiras décadas do século XX, o fado foi divulgado através da publicação de periódicos sobre o tema e da consolidação de novos espaços performativos que passaram a incorporar a canção na sua programação. Foram-se fixando elencos privativos que muitas vezes se constituíam em grupos artísticos para efeitos de digressão.

O aparecimento das companhias de fadistas profissionais a partir da década de 30 permitiu a promoção de espectáculos pelos teatros de norte a sul do país e mesmo internacionalmente. Alguns exemplos destas companhias são o “Grupo Artístico de Fados”, o “Grupo Artístico Propaganda de Fado” ou a “Troupe Guitarra de Portugal”.

Golpe de estado de 1926 e as casas de fado

O golpe militar de 28 de Maio de 1926 levou à imposição de censura prévia sobre espectáculos públicos, imprensa e outras publicações. O regulamento ao nível da concessão de licenças a empresas promotoras de espectáculos, dos direitos de autor, da obrigatoriedade de visionamento prévio de programas e repertório cantado, da realização de contratos, deslocações e atribuição da carteira profissional levou à consolidação do processo de profissionalização dos intérpretes. Contudo, o fado tornou-se desprovido do carácter de improviso. As próprias gravações discográficas e radiofónicas propunham uma triagem de vozes e práticas interpretativas que impunham como modelos a seguir.

Só na década seguinte (anos 40), vingou uma tendência revivalista dos aspectos ditos típicos, que procuraram recriar os aspectos mais genuínos e pitorescos nos ambientes performativos do fado. Não obstante, a audição de fados passou a acontecer nas ditas casas de fados, que se concentraram nos bairros históricos da cidade, sobretudo no Bairro Alto, a partir dos anos 30.

Anos de ouro

Entre as décadas de 1940 e 1960 assistiu-se a um período de imensa vitalidade do género. Para tal contribuiu o surgimento de uma imprensa especializada no início do século e a mediatização progressiva da canção na rádio, no cinema (o primeiro filme sonoro, «Severa», de Leitão Barros, em 1931, tinha como temática as aventuras daquela que se diz ser a primeira cantadeira de fado) e na televisão. Em 1953 surgiu o concurso Grande Noite do Fado. Este realiza-se anualmente desde então, normalmente no Coliseu dos Recreios.

Na primeira metade do século XX surgiu a primeira fadista portuguesa com projecção internacional, Ercília Costa, apelidada de “Sereia peregrina do Fado”, “Santa do Fado” e “Toutunegra do Fado”. Outras fadistas que seguiram o estilo mais clássico foram Carlos Ramos, Alfredo Marceneiro, Maria Amélia Proença, Berta Cardoso, Maria Teresa de Noronha, Hermínia Silva, Fernando Farinha, Fernando Maurício, Lucília do Carmo, Manuel de Almeida, entre outros.

Já na década de 50 entrou definitivamente em cena Amália Rodrigues, conhecida nacional e internacionalmente como a “Rainha do Fado”, que foi pioneiro de um estilo de fado mais moderno. A fadista foi responsável por popularizar fados com letras de grandes poetas como Luís de Camões, José Régio, Pedro Homem de Mello, Alexandre O’Neill, David Mourão-Ferreira, José Carlos Ary dos Santos, entre outros.

Depois da Revolução

Nos dois anos imediatamente a seguir à Revolução dos Cravos, a interrupção do concurso Grande Noite do Fado e a diminuição da presença do fado em emissões radiofónicas ou televisivas, foram prova da hostilidade sentida relativamente à canção, dada a percepção de associação desta ao Estado Novo.

Só a estabilização do regime democrático, a partir de 1976, devolveu ao fado o seu espaço próprio. Em 1977 surgiu o álbum «Um Homem na Cidade, de Carlos do Carmo, um dos maiores expoentes do género e da sua internacionalização e, a partir da década de 1980, o fado  foi consensualmente reconhecido como património musical português, assistindo-se a um renovado interesse do mercado pela canção de Lisboa. Até cantores de outras áreas manifestaram uma aproximação ao género, nomeadamente, José Mário Branco, Sérgio Godinho, António Variações e Paulo de Carvalho. Já no plano internacional, os nomes de Amália Rodrigues e Carlos do Carmo assumiram uma hegemonia absoluta.

Nos anos 90 destacaram-se no panorama do fado os nomes de Mísia, Cristina Branco e Camané e, na passagem para o novo milénio, começou a surgir uma nova geração de talentosos intérpretes: Mafalda Arnauth, Katia Guerreiro, Maria Ana Bobone, Joana Amendoeira, Ana Moura, Ana Sofia Varela, Pedro Moutinho, Hélder Moutinho, Gonçalo Salgueiro, António Zambujo, Miguel Capucho, Rodrigo Costa Félix, Patrícia Rodrigues e Raquel Tavares. No entanto, no circuito internacional, é Mariza que assume, actualmente, o protagonismo absoluto.

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