O Neo-realismo (neorrealismo), designa uma corrente artística moderna de vanguarda, de meados do século XX, nas áreas da pintura, literatura, música e cinema.
Corrente ideológica das artes com influência e carácter socialista, comunista e marxista, uma estética de coragem e intervenção cívica, a favor de uma sociedade sem classe e denunciando as injustiças. A pintura neo-realista centra-se geralmente na vida dos trabalhadores, tratando as figuras segundo esquemas derivados do expressionismo de Van Gogh e de Picasso.
O Neo-realismo teve ramificações em várias formas de arte (literatura, pintura, música) mas atingiu o seu expoente máximo no Cinema neo-realista, sobretudo no realismo poético francês e no neo-realismo italiano.
O Termo “Neo-realismo” é também utilizado na área das relações internacionais para indicar uma teoria estrutural proposta pelo professor e pesquisador estadunidense Kenneth Waltz, em 1979. O Realismo Estrutural está associado aos comportamentos dos Estados nas relações internacionais.
Um dos grandes debates introduzidos pela estética neo-realista dizia respeito à dialéctica “forma” vs “conteúdo”, dando ênfase à mensagem simples e directa comunicada pela obra de arte.
O neo-realismo marcou as propostas de pintura de pendor social dos anos 30 e 40. Ligada às questões de carácter social e de denúncia, marcada pelo fervor revolucionário comunista, pelas vontades de demarcação das massas, de pintores como Orozco e Rivera no México, Cândido Portinari no Brasil, artistas soviéticos e portugueses aproveitaram para gravar em grandes murais, os grandes acontecimentos sociais e históricos que marcaram a época.
As principais Características do Neo-realismo foram:
- Anticapitalismo, marxismo e psicanálise
- Realismo social
- Arte de vanguarda
- Temática social, económica, histórica e regional
- Luta de classes (burguesia e proletariado)
- Estilo como elemento estético
- Objectividade e simplicidade
- Linguagem popular, coloquial e regional
- Repúdio às formas tradicionais
- Vulgarização de personagens
O neo-realismo em Portugal, na Literatura e nas Artes Plásticas, como denúncia social.
É no contexto do Modernismo Português que se começa a (re)pensar sobre os conceitos de arte e literatura. O antigo lema da “arte pela arte” não fazia mais sentido para os autores da época, como Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro etc, pois não atingiam aos anseios daquilo que, realmente, a população queria e, até certo ponto, necessitava.
Durante esse período, Portugal vivia um contexto de agitações políticas com o advento do Estado Novo Português, pautado na censura e repressão sob o governo totalitário de carácter fascista de Salazar.
O movimento neo-realista surge exactamente para fazer a critica ao fascismo, ao Salazarismo e à Geração de Presença. Não se queria uma arte alheia ao que estava acontecendo na sociedade, e é justamente aí que entra em cena o marxismo que “rejeita deliberadamente a subordinação prévia, imóvel e imutável dos elementos do homem e da sociedade uns aos outros. […] Assim, o interesse individual (privado) pode opor-se ao interesse comum.” (LEFEBVRE, 2009, p. 12.)
Os neo-realistas fazem o que a doutrina marxista prega: coloca o trabalhador, o povo – proletário, em voga nas artes para que a população tomasse consciência dos problemas que estavam acontecendo em Portugal sob o comando de Salazar.
O que se pretendia era que o neo-realismo fosse um movimento artístico de transformação social com o objectivo de denunciar a política salazarista que, como regime ditatorial, sacrificava as liberdades individuais e sociais em nome de sua permanência, além de lançar os trabalhadores, em especial os trabalhadores rurais, às condições de miséria e indignidade.
Nas artes plásticas retratavam-se os trabalhadores, em cenas exaustivas e em muitos casos alienantes para o espectador da obra de arte.
No final da década de 30 surge o movimento literário neo-realista em Portugal do qual surgem escritores da segunda geração modernista empenhados em produzir uma literatura contra o fascismo, de carácter social, documental, revolucionário e reformista.
A nova corrente literária tem nitidamente como tema fundamental a denúncia social. Dessa forma, os escritos neo-realistas passaram a assumir uma posição mais crítica diante dos problemas sociais presentes na época, buscando a conscientização do leitor para a realidade social e a miséria moral. É uma literatura viva de tensão dialéctica, um instrumento de transformação social.
O marco inicial da literatura neo-realista portuguesa foi a publicação do romance “Gaibéus” de Alves Redol, em Dezembro de 1939. Além dele, destacam-se os escritores: Ferreira de Castro e sua obra “A Selva” (1930); Mario Dionísio e sua obra “As Solicitações e Emboscadas” (1945); Manuel da Fonseca e sua obra “Aldeia Nova” (1942), Fernando Namora e “As Sete Partidas do Mundo” (1938), Soeiro Pereira Gomes e sua obra “Esteiros” (1941).
Esta nova tendência para a literatura de crítica social, chega tanto à poesia, quanto à prosa, unindo, entre outros, escritores como: Alves Redol, Manuel da Fonseca, Afonso Ribeiro, Joaquim Namorado, Mário Dionísio, Vergílio Ferreira, Fernando Namora, Mário Braga, Soeiro Pereira Gomes ou Carlos de Oliveira.
References:
http://www.museudoneorealismo.pt
ANDRADE, João Pedro de. Ambições e limites do Neo-Realismo Português. Introdução de Ernesto Rodrigues. Editora Acontecimento, 2002.
DANTO, Arthur C.. Após o Fim da Arte: A Arte Contemporânea e os Limites da História. São Paulo: Odysseus Editora, 2006.
FRANÇA, José Augusto. A arte em Portugal no século XX – Volumen 1. Livraria Bertrand, 1974.
HOVALD, Patrice G.. El neorrealismo y sus creadores. Ediciones Rialp. Madrid, 1962.
LEFEBVRE, Henri. Marxismo. Trad. de. William Lagos. Porto Alegre, RS: L&PM, 2009.
OLIVEIRA, Susan. Aparecida de. Literatura Portuguesa III. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2010.
TORRES, Alexandre Pinheiro. O Neo-realismo literário português. Moraes, 1977.