Literatura Comparada

A Literatura Comparada é o estudo metodológico da história das relações literárias internacionais. O seu percurso tem sido repleto de oscilações que são o reflexo da permeabilidade do seu posicionamento teórico-crítico.

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O que é a Literatura Comparada?

A Literatura Comparada é o estudo metodológico de textos literários atentando nos padrões, ligações e ecos que se estabelecem entre eles no decorrer do tempo e do espaço – a história das relações literárias internacionais.

O percurso da Literatura Comparada enquanto disciplina tem sido marcado por oscilações quanto à sua institucionalização e desenvolvimento. O termo foi mencionado pela primeira vez no século XIX e os debates em seu torno iniciam-se com a viragem do século: qual o seu objeto de estudo? Como é feita a seleção para fins de comparação? A Literatura Comparada é uma disciplina?

O ato comparatista da Literatura Comparada

Sempre que, à nossa frente, está um novo objeto, qualquer que seja o seu formato, o ato de comparação impõe-se espontaneamente. Há uma tomada de consciência daquela que é a novidade, reconhecendo-a e contextualizando-a  a partir de experiências anteriores. Ler é, portanto, comparar: o processo de leitura, sem que, por vezes, nos apercebamos, move-nos além-fronteiras, identificando conexões e padrões, num pano de fundo que é o da Literatura – ou Weltliterature, como definiu Goethe (o conceito do autor é de cariz humanista: integra a ideia de uma literatura do mundo). Não há Literatura Comparada sem ato comparatista.

Assim dito, a Literatura Comparada parece reduzir-se à atividade espontânea da comparação. Parece, também, que pouco se diferencia dos restantes estudos literários, que sempre foram comparativos. Contudo, ela distancia-se de ambos pois permite uma análise exata e sistematizada de alguns dos problemas com que, de forma generalizada, qualquer investigação dentro dos estudos literários se depara. Só o comparatismo, enquanto disciplina, permite compreender o alcance epistemológico da prática comparatista cuja disseminação é tão vasta que tende para uma certa “banalização”.

A Literatura Comparada integra várias áreas disciplinares, fruto de uma recolocação e integração de (novos) desafios, de categorias e objetos de estudo. Neste artigo destacam-se as áreas da tematologia, dos estudos de receção, dos estudos de tradução e dos estudos interartes.

Literatura Comparada e a Tematologia

A tematologia é a área disciplinar mais antiga dentro da Literatura Comparada e diz respeito à identificação de motivos (e suas variantes) transversais à literatura. A Ocidente, por exemplo, a arte recorre frequentemente aos grandes clássicos da mitologia, o que levanta questões sobre a existência de uma economia da invenção.

Literatura Comparada e estudos de tradução

A Literatura Comparada, uma arte da hermenêutica, procura definir um “sentido do mundo”, histórico e presente, (re) visitando as várias literaturas. Para tal, a tradução é imprescindível – no entanto, a sua legitimidade constituiu, durante muitos anos, um foco de discussão. Atualmente, os estudos de tradução elevam as traduções à categoria de objeto de estudo, deixando de ser apenas um meio para atingir determinado fim.

Literatura Comparada e estudos de receção

Relacionada com a tradução está a receção literária – não a mera influência entre os vários autores, mas um estudo pormenorizado que inclui dados sobre a publicação das obras, a compra e venda de determinados livros em determinados momentos e as traduções executadas (ou não). Um dos grandes desafios deste campo de estudos passa por, precisamente, compreender as razões que estão por trás do que não é traduzido, do que não é disseminado ou recebido.

Literatura Comparada e estudos interartes

Para uma total compreensão da obra, a sua contextualização deve ser feita considerando aquilo que é designado por Roman Jakobson de “transmutações”. Estas transmutações são outras formas de representação (uma ilustração, uma música, um teatro) que determinada leitura irá suscitar. Seria possível, por exemplo, compreender Hamlet sem incluir as óperas, bailados, pinturas ou filmes que originou? Os estudos interartísticos focam a sua análise nestes ecos. Atualmente o comparatismo quer-se cultural, não apenas literário.

É difícil, se não impossível, apresentar uma definição simples de Literatura Comparada devido à permeabilidade do seu posicionamento teórico-crítico. Por conseguinte, a crise de que tanto se fala poderá ser, ao invés, uma característica inerente à sua atitude reflexiva.

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References:

 

BUESCU, Maria Helena (2001), Grande angular: Comparatismo e práticas de comparação, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.

STEINER, George (1995), What is Comparative Literature?, Oxford, Clarendon Press.

 

 

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