Imagotipo Literário

O imagotipo literário é uma representação que surge do contacto entre o eu e o outro e que permite pensar identidades num mundo cada vez mais global.

Definição de Imagotipo literário

O imagotipo literário é uma imagem que se forma através do contacto, na literatura, entre o eu e o outro, assumindo um papel de relevo no desenho das identidades (da própria e do estrangeiro).

Os livros são recursos proveitosos para a observação das relações humanas, já que as apresentam numa perspetiva total, que considera o eu e o outro. Os livros expõem a alteridade – histórias de viajantes, histórias passadas em lugares não familiares ou mesmo histórias passadas em “casa”, mas contadas através de um novo olhar.

O peso simbólico das imagens literárias

Devido ao peso simbólico que possuem, os livros chegam a construir a realidade para a qual remetem, criando expectativas; a força das imagens literárias, ou imagotipos literários, que neles encontramos é, por essa razão, indiscutível: só são questionadas aquando de um contacto direto com o outro, o que pode não chegar a acontecer. Por outro lado, ainda que aconteça, a realidade é muitas vezes questionada em função das imagens previamente lidas e das expectativas geradas.

À medida que vai conhecendo as personagens, o leitor vê-lhe revelados os hetero-imagotipos e auto-imagotipos presentes na obra, que são fruto das interpretações do autor. Estes imagotipos literários são gravados na memória do leitor, criando-lhe determinadas expectativas face ao outro.

O imagotipo como resultado do diálogo entre o eu e o outro

O termo imagotipo literário, utilizado pela primeira vez, no ano de 1962, por Oliver Brachfeld, surge da relação do eu com o outro, pelo que não existe se esta relação não se verificar. É de cariz dinâmico e dialógico: provém do olhar e do diálogo de uns com os outros, das imagens (auto-imagens, hetero-imagens e contra-imagens) que se vão formando ao longo dos tempos e que, consequentemente, desenham identidades. Importa salientar que estas representações, os imagotipos literários, constroem-se a partir não só daquilo que resulta explicitamente dos diálogos e confrontos entre o eu e o outro, mas também a partir do que fica apenas sugerido ou mesmo por dizer – os hiatos discursivos, os interstícios são fontes profícuas de reflexão imagológica. A imagologia pensa a estranheza do outro, desconstrói a sua representação e, por isso, eleva a imagem ao patamar de construto histórico.

Imagotipo e estereótipo

Importa salientar que, no domínio imagologia, a análise é feita sobre um discurso (do autor), não sobre factos sociológicos. A imagologia, ao contrário da sociologia ou da antropologia, identifica imagotipos literários e não estereótipos. O que está em causa na investigação imagológica são as interpretações dos autores, reveladas através daquele que é um jogo dinâmico entre as suas várias personagens. A investigação imagológica procura compreender as motivações que estão na base da construção dos imagotipos literários, pelo que contribui, de certa maneira, para uma melhor entendimento do pensamento relacionado com o outro, podendo mesmo ser um avanço na superação de mal entendidos e determinados preconceitos. Pode, portanto, ir ao encontro ou afastar-se do estereótipo. Para além disso, e com o propósito de responder à funcionalidade social de catalogação, o estereótipo prima pela linearidade, o que não se verifica no caso do imagotipo literário: contrariamente, este é uma representação heterogénea e coletiva, vendo nele incluídos discursos nem sempre coincidentes.

 

O imagotipo na compreensão de uma sociedade global

Ao refletir sobre os imagotipos literários do eu e do outro, identificando aquilo que, ao longo dos tempos, é dito e aquilo que, propositadamente ou não, fica por dizer, a imagologia literária reveste-se de particular importância na compreensão das identidades num mundo atual altamente globalizado. O interesse pela imagologia tem crescido nos últimos anos, consequência da necessidade de colocar na ordem do dia questões relacionadas com as identidades nacionais, os choques culturais e as representações socioculturais que daí resultam. O imagotipo literário, a representação imagética do estrangeiro, deve ser pensado enquanto manifestação de algo mais alargado e complexo: o imaginário social.

Numa aproximação ao desconhecido, a imagologia literária faz-se na compreensão dos hiatos e pontos comuns e de oposição entre o eu e o outro, revelados pelo contacto que se dá entre ambos. A investigação imagológica, através da compreensão das estruturas do pensamento e da desconstrução dos imagotipos literários, promove o diálogo entre culturas.

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References:

SIMÕES, Maria João (2011), Imagótipos Literários: processos de (des)configuração na imagologia literária, Coimbra, Centro de Literatura Portuguesa

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