Cânone

Cânone, é uma palavra de origem grega, kanon (κανών, Κάννα) que significa regra, padrão, modelo ou norma. O termo cânone tem uma diversificação de significados dependendo da área que se analisa, como por exemplo os cânones literários, musicais, religiosos ou matemáticos. Mas de maneira geral, se refere a uma maneira de proceder que serve de referência.

Nas artes plásticas, o cânone consiste num conjunto de regras e princípios fundamentais das proporções e da estruturação de uma obra de arte, correspondentes a um padrão ideal normativo que deve ser seguido com rigor e disciplina. Nas disciplinas artísticas, os cânones mais famosos e utilizados são sem duvida os de beleza e proporção.

Cânone é método seguido, pelo qual o objecto artístico é produzido segundo os valores e o olhar de um grupo social dominante, num determinado momento histórico. É possível, assim, entender o pensamento dominante em cada período da História através dos seus objectos canónicos.

Durante séculos, os cânones de beleza e proporção motivaram o interesse de estudo de artistas, filósofos e matemáticos, entre outros, podendo mesmo, remontar às mais antigas civilizações, pois em todas elas podemos observar a importância de encontrar o cânone perfeito.

Foi na representação artística da Antiguidade Clássica que surgiram os primeiros padrões e ideais de cânones a seguir. Em meados do século V a.C. o escultor grego Policleto, escreveu um tratado sobre as proporções do corpo humano, que titulou de Cânone e apesar de que o tratado não tenha sobrevivido ao tempo, segundo os historiadores, as ideias que constituíam a substância desse tratado permaneceram como uma das grandes influências sobre a evolução da escultura ocidental desde a Roma Antiga até o Neoclassicismo no século XIX.

Para o pensamento Grego o belo se entendia como um conceito objectivo, lógico e racional, associado às leis da natureza. Para que a obra da humanidade fosse considerada bela devia responder às leis eternas que regem o comportamento e os cânones da natureza e do belo. O cânone grego expressava o essencial, a proporção, a harmonia, o ideal e a aspiração à perfeição. Uma perfeição que não se baseava no quantitativo, mas sim, na unidade universal.

Utilizando ferramentas de ordem, medida, simetria, ritmo e harmonia, o desenvolvimento e construção humana e artística grega foi guiada pelos cânones de uma visão matemático-geométrica rigorosa.

A História da Arte no Ocidente está amplamente arraigada nos cânones estabelecidos na Grécia de Platão e Aristóteles. As mais variadas manifestações artísticas possuem, desde aquele momento, os mesmos valores e aspirações. Seguindo as correntes filosóficas do Renascimento e a confirmação do método racional-lógico-matemático, as artes foram separadas das ciências, mas seguiram utilizando os mesmos ideais e cânones para a produção artística.

Por exemplo, “Homem Vitruviano” de Leonardo da Vinci, é considerado um dos grandes símbolos do ideal de harmonia do Renascimento, representou e provavelmente, continua a representar um dos grandes cânones das proporções clássicas do ser humano, na perfeição anatómica do corpo.

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Cânone… Homem Vitruviano desenho de Leonardo da Vinci, 1490

O “Homem Vitruviano” hoje é considerado um cânone, mas naquele momento representou um simples estudo ilustrado das proporções do corpo humano elaborado por da Vinci segundo instruções e princípios do arquitecto romano Vitruvius (I a.C.). na sua série de dez livros intitulados de “De Architectura”, um tratado de arquitectura em que, no terceiro livro, ele descreve as proporções do corpo humano.

O próprio Vitrúvio já havia tentado encaixar as proporções do corpo humano dentro da figura de um quadrado e um círculo, mas suas tentativas foram sempre imperfeitas, só Leonardo da Vinci teve a capacidade de entender e encaixar as proporções correctamente dentro dos padrões matemáticos esperados. O descobrimento das proporções matemáticas do corpo humano no século XV por Leonardo é considerado uma das grandes realizações que se conduziram no Renascimento italiano.

A busca pelo Belo, o equilíbrio e um profundo desejo de organização e apreensão da realidade nunca haviam sido questionados sistematicamente até ao surgimento dos primeiros Movimentos Vanguardistas. Só nas primeiras décadas de século XX, os artistas e escritores derrubam as convenções académicas, rompendo com os cânones e criando uma estética inteiramente nova.

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