Originalmente denotando um motivo decorativo na arquitetura mourisca, o termo arabesco deriva do italiano arabesco, usado na referência ao estilo arábico imaginário. Para os escritores do período gótico, o arabesco sugere o exotismo oriental, como o movimento réptil sensual da cobra seduzida pela flauta do encantador de serpentes, a ondulação da névoa de fumo libertada pelo narguilé, os sonhos induzidos pelo consumo de ópio, ou as curvas musculares do abdómen das dançarinas. Como adjetivo aplicado à literatura, música, dança, arte e arquitetura do Renascimento, o termo refere-se também aos elementos românticos, como a imaginação, o capricho, a espontaneidade, as convulsões da sagacidade, ou serendipidade.
O termo foi absorvido pelo Romantismo em forma de nome, sendo uma complicada e bizarra criação que Sir Walter Scott equacionou ao grotesco. No seu poema Vida e Canções da Baronesa Nairne (Life and Songs of the Baroness Nairne, 1905), a poetisa escocesa Carolina Oliphant associou diretamente o arabesco ao gótico. Já o pintor vienense Gustav Klimt, incorporou a estranheza do arabesco nas suas ilustrações góticas, particularmente as masmorras alegóricas que concebeu para confinar as mulheres.
Para diferenciar entre o arabesco e o grotesco enquanto descrições, Edgar Allan Poe, o grande talento dos contos de horror, aplicou o arabesco ao maravilhoso e o grotesco ao horroroso. É neste contexto que os termos são usados no título Contos do Grotesco e Arabesco (Tales of the Grotesque and Arabesque, 1839), fornecendo ilustrações amplas dos motivos por intermédio de fraseados intrincados cuja intenção era sedimentar o detalhe gótico e fortalecer o sentimento de horror. Na obra Ligeia (1838), figuras arabescas indecifráveis em tapeçarias, contribuem para o mistério dos sonhos sobre a ressurreição de uma mulher morta, induzidos pelo consumo de ópio num homem em luto.
Ecoando a relutância e a reprovação gravada em excertos das obras de Honoré de Balzac, Willa Cather, Fyodor Dostoevsky, Gustave Flaubert, e George Sand, Charlotte Perkins Gilman, na obra The Yellow Wallpaper (1892), fez corresponder a decoração arabesca à opressão patriarcal. O narrador inominado, uma mulher e mãe de classe-média desesperada sob tratamento de uma neurastenia, olha furiosamente para o papel de parede e declara-o artisticamente pecaminoso, uma intrusão de ruídos psicológicos. Como um aguilhão da loucura, o papel grotesco muta-se numa arma gótica e num intraduzível pesadelo, quer dizer, numa alucinação e violência emocional. Como tal, o papel de parede explode num espetáculo de tortura visual que eventualmente leva à exaustão o narrador, preludiando o triunfo da loucura.
References:
Gilman, Charlotte Perkins. “The Yellow Wallpaper,” inThe Harper American Literature, 2nd ed., ed. DonaldMcQuade, et al. New York: HarperCollins, 1994.