O que são as Academias
As academias são instituições vocacionadas para o ensino superior e ensino universitário de actividades artísticas, literárias, sociais, científicas, filosóficas, desportivas, etc. O mesmo termo é utilizado também para designar associações de artistas, cientistas ou filósofos.
A palavra academia, tem origem do grego antigo – Ακαδήμεια (Akadémeia), criada a partir do herói da mitologia grega, Akademos. Tal designação deve-se ao facto de, segundo a história, a escola criada por Platão em 387 a.C. em Atenas, estava situada nos jardins consagrados ao herói ateniense Akademos e que, embora destinada oficialmente ao culto das musas, teve intensa actividade filosófica. Os filósofos e artistas seguidores dessa escola, partir deste momento, começam a ser chamados de académicos. Esta primeira Academia durou até o século VI da era cristã, quando o imperador romano Justiniano ordena o seu encerramento em 529, por considerar que era um antro pagão.
Durante o Renascimento e com o surgir do Humanismo, o princípio da Academia adquire novo fôlego, começando a difusão em Itália e propagando-se pelos demais centros europeus para que se pudesse levar a cabo o estudo de saberes relacionados com a filosofia, a arte, a música, a pedagogia, a cultura, a história, a arqueologia, a literatura, a filologia e a ciência. Nesta altura, a forma de constituição das academias mais comum foi a de congregação num mesmo espaço de estudiosos e eruditos, mestres e aprendizes. Uma das novas academias mais relevantes foi a Academia Pomponiana (ou Academia Romana), fundada por Pompónio Leto em Roma, em meados do século XV, e que se dedicou ao estudo da filosofia, da arte, da arqueologia, da filologia e da poesia.
O surgimento das academias coincide com a crise dos ideais renascentistas expressa no maneirismo. Marca uma mudança radical no status do artista, personificada por Michelangelo Buonarroti, os artistas passam a ser considerados teóricos e intelectuais.
O método de ensino desenvolvido nas academias europeias se designa por academicismo ou academismo, um método de ensino artístico profissionalizante concebido, formalizado e ministrado pelas academias de arte e da ciência europeias. Este método estendeu a sua influência sobre todo o mundo ocidental ao longo de vários séculos, desde sua origem na Itália em meados do século XV.
As academias garantem a formação artística (pintura, escultura, literatura), científica (geometria, anatomia e perspectiva) e humanística (história e filosofia), com aulas de desenho de observação e cópia de moldes. As academias são também responsáveis pela organização de exposições, concursos e prémios e periódicos e o controlo da actividade artística e a fixação rígida de padrões de gosto.
Inspirado nos exemplos italianos, em Paris, em 1648, um grupo de pintores convence a Luís XIV a fundar a Académie Royale de Peinture et de Sculpture [Real Academia de Pintura e Escultura]. Dirigida pelo estadista Jean-Baptiste Colbert e pelo pintor e teórico da arte Charles Le Brun, a academia francesa confere à instituição um carácter renovado, e contribui para aumentar a importância da França no mundo artístico europeu, apesar do prestígio de que ainda gozavam os artistas italianos, frequentemente empregados pela realeza francesa. Sem subestimar a importância de outros grandes artistas do século XVII, como Diego Velázquez, Rembrandt e Peter Paul Rubens, em 1666, Luís XIV funda a Academia Francesa em Roma, para que os franceses partilhem com os italianos o estudo das obras-primas do passado.
O momento de maior auge das academias foi durante o século XVIII, coincidindo com o ideário da ilustração, as academias se espalham pela Alemanha, Espanha, Inglaterra, conquistando grandes e pequenas cidades. O século XVIII foi um momento de afirmação e difusão de uma cultura laica, enciclopédica e universal e de revolução política, quando o papel social da arte se explicita e, com ele, o apoio crescente do Estado às instituições de ensino artístico. Ainda que as críticas à academia se acentuem na França de fins do século, o que leva a sua dissolução em 1793, o período napoleónico conhece a revalorização dessas instituições artísticas, e em 1816 é criada a Academia de Belas Artes.
Hoje em dia, as Academias são instituições educacionais, artísticas, desportivas e científicas, vocacionadas para o ensino prático e para a dinamização da arte, da cultura, do desporto e da ciência.
References:
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