Positivismo

Definição de “Positivismo”

O positivismo diz respeito a uma doutrina filosófica criada e desenvolvida em meados do século XIX pelo filósofo francês Auguste Comte (1798-1857).

Partindo da ideia de que a filosofia deve lidar com o concreto e não com o abstrato, o postulado fundamental do positivismo assenta na designada Lei dos Três Estados, a qual procura essencialmente exprimir as fases que sucessivamente caracterizaram a mentalidade humana no que diz respeito ao conhecimento. Propõe, ainda, uma classificação das várias ciências.

Assim, a primeira Lei dos Três Estados, que corresponderia à infância do ser humano, contempla o “estado teológico”, ou fictício, isto é, todos os fenómenos são atribuídos pelo homem à intervenção de entidades sobrenaturais: num primeiro momento, aos poderes mágicos (“fetichismo”), depois aos deuses (“politeísmo”) e, em último lugar, a Deus (“monoteísmo”). Em segundo lugar viria o chamado “estado metafísico”, ou abstrato, supondo para além dos fenómenos considerados como manifestações acidentais da realidade, causas ocultas e permanentes, as “essências”, que o espírito se esforça por descobrir através de processos apriorísticos arbitrários e abstratos. Em último lugar, no “estado positivo”, a inteligência humana, desiludida com as teogonias e cansada das sucessivas derrocadas oriundas das explicações metafísicas, opta por observar apenas os factos da realidade circundante, ao invés de imaginar as causas. Por outras palavras, compreende a observação e o estudo dos vários fenómenos e das suas relações, recusando sair do campo experimental. Tudo aquilo que não pode ser sujeito à verificação e à experimentação fica colocado de parte pelo “estado positivo”. Ao invés de se perguntar “porquê?”, passa-se a perguntar “como?”.

Esta lei é, assim, concebida como a “grande” lei que permite unificar a evolução da humanidade. Ao abarcar em si a espécie humana, rumo ao estado “positivo”, faz também todo o sentido aplicá-la no respeitante ao desenvolvimento do indivíduo: se a criança crê em entidades sobrenaturais, o jovem é metafísico para, depois, enquanto adulto, aceder finalmente ao positivismo.

Ainda visando o desenvolvimento das várias ciências, Auguste Comte mostra que só as atitudes positivas foram fecundas, pois introduziram a ordem nos fenómenos, permitiram o progresso do conhecimento e permitiram a aquisição de certezas. Veja-se, em primeiro lugar, no campo da Astronomia, onde se colocaram de lado as explicações mitológicas que atribuíam o sol ao carro do deus Apolo, para depois se abraçar as explicações metafísicas dos pitagóricos e, finalmente, atingir o conhecimento das leis da gravitação universal oriundas do método positivo. Em segundo lugar, no que diz respeito à Física, primeiro explicou-se mitologicamente os fenómenos do trovão e do raio como ações do deus Júpiter, depois foram consideradas explicações metafísicas vazias de significação real e, por último, foram interpretados no seu sentido verdadeiro, pela mentalidade positiva que o conhecimento humano atingira.

O grande valor do positivismo reside, de facto, na aplicação dos processos do método experimental à organização da ciência, não sendo, no entanto, exclusivo no que diz respeito às atitudes metafísicas ou religiosas.

Auguste Comte sublinhou ainda a ideia de que o estado positivo não só abrange as leis da natureza, mas também os laços sociais. Na sua perspetiva, a ideia do indivíduo enquanto ser isolado não passa de uma abstração e o positivismo, por seu turno, promove a solidariedade social. Comte, neste sentido, dava os primeiros passos ao criar e delimitar o campo de estudo da Sociologia, o qual deve refletir o estudo positivo de um conjunto de leis fundamentais próprias dos fenómenos sociais, ou seja, para a investigação dos estudos sociais, devem ser empregues os mesmos métodos de observação e experimentação que são aplicados à matemática, à física, à química ou à biologia.

O positivismo foi uma corrente filosófica que teve um considerável impacto, influenciando, por exemplo, o filósofo britânico John Stuart Mill (1806-1873), ou o poeta e sociólogo português Teófilo Braga (1843-1924).

 

Obras de Auguste Comte:

  • «Curso de Filosofia Positiva» (1830-1842)
  • «Discurso sobre o Espírito Positivo» (1844)
  • «Sistema de Política Positiva» (1851-1854)
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References:

Ouelbani, Mélika. Qu’est-ce que le positivisme?  Paris: Vrin, 2010

 

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