O luto na infância acontece após a morte de figura cuidadora da criança, que irá mexer com todo o seu sistema interno e externo. Este acontecimento poderá condicionar toda a vida da criança enlutada, pelo que será necessário reorganizar a sua vida, de modo a garantir uma orientação adequada.
Para Franco e Mazorra (2007) parece óbvio que a criança enlutada, especialmente por parte do progenitor, experiência uma sensação de vazio e de desamparo, devido à ausência do ser que lhe provocava, anteriormente, a sensação de proteção e segurança.
Na infância, a criança que passa por este processo de luto, deixa de ter disponível o mundo que conhecia antes de o luto acontecer (Franco, & Mazorra, 2007). Neste “primeiro mundo” em que a pessoa que partiu ainda se encontrava viva, a criança sabe que, ainda que por alguns períodos de tempo, a mesma possa estar ausência, ela vai voltar, garantindo assim o sustento, proteção e segurança (Franco, & Mazorra, 2007). Quando este mundo desaparece e dá lugar a um novo cenário em que o progenitor já não habita, a criança entra num mundo que não conhece, no qual passa pela sensação de desamparo e de vazio que diz respeito ao facto de a sua família ter-se desmoronado (Franco, & Mazorra, 2007). É aqui que se dá o luto na infância que faz com que haja necessidade de promover uma reconstrução do mundo desta criança enlutada, reorganizando a sua vida de forma que a mesma tenha as condições necessárias que lhe permitam ser orientada tanto no campo emocional como no campo cognitivo, aos quais terá, doravante, de se habituar (Anton, & Favero, 2011; Franco, & Mazorra, 2007).
Alguns autores que estudaram a questão do luto na infância, evidenciam ainda que se trata de um fenómeno delicado que pode afetar todo o desenvolvimento da criança enlutada, seja a curto ou a longo prazo (Anton, & Favero, 2011).
Vários autores referiram também que o luto na infância é vivido de diferentes formas dependendo da fase de desenvolvimento em que a criança se encontra, no entanto, da mesma forma, este mesmo luto também vai ser vivido de formas diferentes ao longo do seu crescimento, mediante as várias fases (Franco, & Mazorra, 2007).
A criança vive o luto de uma forma diferente daquela que é, comumente, vivida pelo adulto uma vez que a sua personalidade também se encontra em fase de construção (Franco, & Mazorra, 2007).
Para Franco e Mazorra (2007) essas diferente diz respeito ao facto de o luto na infância dever ser entendido de acordo com os processos internos que lhe são inerentes e aos quais vai buscar os seus próprios recursos para gerir a perda, mas também segundo a relação tida com a pessoa que partiu e com a pessoa aos cuidados da qual ficou. É também igualmente importante perceber em que circunstâncias ocorreu a morte da pessoa cuidadora, bem como a dinâmica familiar envolvida (Franco, &Mazorra, 2007). Alguns dos aspetos em que é preciso compreender as circunstancias desta morte, são o facto de o luto na infância não ser vivido da mesma forma se a morte tiver acontecido subitamente, sem preparação prévia, ou se, pelo contrário, houve todo um processo de preparação para o acontecimento, devido a tratar-se de uma morte esperada (Anton, &Favero, 2011).
Para autores como Anton e Favero (2011) importa compreender a dinâmica familiar no sentido de perceber, também, em que medida a mesma esta afetada devido ao mesmo fator que condicionou o luto da criança.
Conclusão
O luto na infância acarreta muitos fatores de grande delicadeza e complexidade, uma vez que abarca, não só a criança em si, como toda a estrutura familiar que lhe diz respeito. A criança enlutada poderá ver o seu desenvolvimento comprometido, dependendo das circunstâncias em que partiu a pessoa falecida, sendo que, maioritariamente, o impacto é maior quando se trata da mãe ou do pai. Isto porque se trata das pessoas mais próximas que, na maioria dos casos, são quem garante a segurança, proteção e sustento. Nesse sentido é importante compreender a dinâmica familiar envolvente para garantir a segurança da criança enlutada.
References:
- Anton, M.C., &Favero, E. Morte Repentina de Genitores e Luto Infantil: Uma Revisão da Literatura em Periódicos Científicos Brasileiros. Interação Psicol., 15(1), 101-110. Disponível em http://revistas.ufpr.br/psicologia/article/view/16992/16423;
- Franco, P.M.H., &Mazorra, L. Criança e luto: vivencias fantasmáticas diante da morte do genitor. Estudos de Psicologia, vol.24, núm.4, outubro-dezembro, 2007, pp-503-511. Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas, Brasil.