O conceito de capacidade de carga está associado ao limite máximo de utilização de um determinado destino turístico, sem causar efeitos adversos sobre os recursos naturais e culturais, nem reduzir a satisfação dos turistas e/ou de criar impactes negativos sobre a economia, sociedade e território.
A definição de limites de capacidade de carga é uma das estratégias utilizadas no planeamento e ordenamento do território para a atividade turística, na medida em que a realização de planos e/ou programas locais, regionais e/ou nacionais, é um passo inicial e fundamental para o desenvolvimento do turismo sustentável.
De uma maneira geral o conceito de capacidade de carga pretende encontrar soluções e/ou alternativas as seguintes questões presentes na elaboração de planos e/ou programas: quais os territórios (locais ou regionais) são mais adequados para o desenvolvimento de projetos turísticos; quantos visitantes um destino turístico pode acolher; que tipo de atividades turísticas se enquadram melhor no destino turístico; que tipos de empreendimentos, equipamentos e infraestruturas se integram melhor no território; entre outras.
A definição de capacidade de carga transporta consigo determinados eixos de análise, nomeadamente: as restrições ecológicas e/ou biofísicas (quantos turistas podem visitar uma área protegida sem colocarem em causa a sua preservação); as restrições sociais e culturais do território (qual o número de turistas aceitável para os residentes locais do destino turístico); restrições psicológicas (qual o número de turistas que podem visitar uma atração do destino sem criar a sensação de aglomeração e consequente preocupação com os seus impactes).
Importa realçar que é particularmente difícil determinar a capacidade de carga de um destino turístico, em termos do número de visitantes que o mesmo pode receber sem a existência de impactes negativos já detetados. Isto porque os efeitos nocivos e os impactes negativos do turismo não decorrem apenas da quantidade de turistas que visitam o local, mas também do resultado da conjugação desequilibrada entre os fluxos turísticos recebidos, as atividades praticadas, as épocas das visitas e os sistemas de gestão e de planeamento da atividade turística existentes (ex: a região NUT II Algarve assiste nos meses de inverno a uma quebra nos fluxos turísticos, mas nos meses de verão apresenta um boom gigante de turistas a visitar a região)
Uma alternativa ao conceito de capacidade de carga é a metodologia denominada Limits to Acceptable Change (LAC) que direciona o foco da programação do turismo num território para a tentativa de identificar um limite à mudança tolerável. Nesta metodologia, utilizam-se as perspetivas dos residentes do território e o conhecimento académico para elaborar as condições ambientais e/ou culturais adequadas a um determinado local.
Para percebermos melhor a metodologia LAC, pode ser possível minimizar os impactes negativos resultantes de um grande fluxo de turistas a uma determinada área protegida, através da instalação/criação de trilhos específicos para esta prática limitando o livre acesso descontrolado nesta área. Na metodologia LAC, esse seria um nível aceitável de uso turístico, se os atores do território (económicos, sociais, ambientais, entres outros) e os decisores públicos concordassem que esta medida seria apropriada. Se, contudo, constituísse um objetivo evidente a preservação da área como local de vida natural, onde não existissem evidências da presença humana, então aquela medida protetora seria considerada uma mudança inaceitável.
Importa realçar que quer a capacidade de carga quer a metodologia LAC têm como objetivo promover um modelo de turismo sustentável para o território, sendo que, ambos os conceitos tem legitimidade para serem operacionalizados. Cabe então à cada equipa de planeamento, aos atores do território e aos decisores políticos, de acordo com os objetivos que definem para o destino turístico, perceber qual a melhor metodologia a utilizar ou até se é possível realizar uma complementaridade entre as duas metodologias (ex: delimitar o número de visitantes e estabelecer a obrigatoriedade de um guia de visitas numa atração turística do destino).
References:
- Dias, R. (2003). Turismo Sustentável e Meio Ambiente, Atlas, São Paulo.
- McIntyre, G. (1993). Sustainable Tourism Development: Guide for Local Planners, Madrid: World Tourism Organization.
- Vieira, J. M. (2007). Planeamento e Ordenamento Territorial do Turismo – Uma perspectiva estratégica, Editorial Verbo, Lisboa.