Conceito
O saxofone é um instrumento musical pertencente à família dos instrumentos de sopro, de corpo metálico. Embora fabricado a partir do metal, possui uma mecânica muito semelhante à do clarinete e da flauta, sendo composto por um tubo cónico (como o do oboé), com orifícios controlados por chaves, e uma boquilha de metal ou resina à qual se acopla uma palheta única.
Esta constituição, um pouco meio-termo entre os instrumentos de metal e os instrumentos de madeira, levanta, tradicionalmente, questões quanto à sua categorização. A própria sonoridade do saxofone é um intermédio: extremamente flexível, liga quer com as madeiras, quer com os metais, tem a suavidade da flauta, a riqueza das cordas e a estridência metálica dos metais. No fundo, vai ao encontro dos desejos do seu inventor, Antoine-Sax, que patenteou a sua criação em Paris, no ano de 1846.
A família de saxofones é extensa. Dentro dos sete instrumentos originalmente produzidos, encontram-se o sopranino, o soprano, o alto, o tenor, o barítono, o baixo e o contrabaixo. São todos instrumentos versáteis, transpositores, que oscilam alternadamente entre o mi bemol e o si bemol, que se escrevem na clave de sol na segunda linha. O inventor do instrumento tinha em mente a produção de um saxofone mais grave que o contrabaixo, o subcontrabaixo, mas tal acabou por não ocorrer. Foi, no entanto, fabricado recentemente, 2012, em Munique, por Benedikt Eppelsheim, e já faz parte, por exemplo, da família de banda militar dos saxofones. Outros instrumentos foram desenvolvidos posteriormente, noutros registos.
O percurso do instrumento
Ao contrário da grande parte os instrumentos musicais, o saxofone surgiu em meados do século XIX sem antecessores directos conhecidos. A sua invenção deveu-se ao sonho do músico e construtor de instrumentos belga Antoine Joseph Sax, conhecido pelo nome Adolphe Sax, em desenvolver um instrumento que pelas características do seu timbre e sonoridade se aproximasse dos instrumentos de corda, mas com uma maior projecção sonora.
Adolphe Sax, após várias experiências, apresentou pela primeira vez o novo instrumento no seu país natal, a Bélgica, em 1841. Posteriormente, apresentou-o em Paris, em 1844, com o auxílio do compositor Hector Berlioz, que promoveu um concerto para a sua demonstração, arranjando inclusive uma das suas obras para saxofone. Em Junho de 1846, foi registada a patente do saxofone, que facilmente se enquadrou no panorama musical da época, dado que preenchia uma espécie de secção intermédia entre os metais e as madeiras.
O aperfeiçoamento técnico dos saxofonistas deveu-se muito, nesta fase inicial, à divulgação do novo instrumento pelos músicos militares, na sequência da introdução do saxofone nas bandas militares Belgas após decreto governamental. O próprio inventor contribuiu largamente para a disseminação do saxofone, ao tornar-se professor principal da classe de saxofone no conservatório de Paris, em 1857, formando cerca de 150 alunos. Adicionalmente, fundou uma editora de música, encomendando muitas obras para o novo instrumento. Compositores como Singelée, Demerssemen, Savari e Arban escreveram variadíssimas obras para saxofone nesta fase.
A profusão do saxofone sucedeu-se, então, um pouco por todo o lado, especialmente a partir de 1870. A patente de Sax já havia expirado e muitas empresas e fabricantes começaram a produzir o instrumento e a experimentar modificações.
As circunstâncias económicas da I Guerra Mundial levaram à venda de muitos saxofones, a custo muito baixo. Deste modo, tornaram-se uma aquisição muito procurada pelos soldados norte-americanos colocados em França. Ao mesmo tempo, a destruição da guerra levou ao desaparecimento de dois terços de mão de obra especializada na sua construção. Este contexto permitiu aos Estados Unidos intensificarem e aperfeiçoarem a sua própria produção de saxofones. O saxofonista Rudy Wiedoeft teve, aqui, um papel fundamental ao trocar o violino e o clarinete pelo saxofone na década de 1910, tornando-se um virtuoso do instrumento. O seu estilo, fortemente influenciado pelo ragtime, construiu a ponte para o jazz, onde o instrumento se instalaria permanentemente. Grandes músicos da história do jazz notabilizaram-se no saxofone, entre os quais, Coleman Hawkins, Charlie Parker, Sidney Bechet, John Coltrane, Stan Getz, Gerry Mulligan, Lester Young, etc.
Não é correcto, contudo, ceder à ideia generalizada de que o saxofone é um instrumento de jazz dado que muita música sinfónica, de qualidade, foi escrita para o instrumento, além de não ser justo para com o contexto da sua invenção e desenvolvimento inicial. Berlioz, Meyerbeer, Bizet, Massenet, Saint-Säens e outros orquestraram para saxofone. Debussy, Ibert, Milhaud, Villa-Lobos e Eric Coates escreveram obras semelhantes a concertos para saxofone e orquestra. Vaughan Williams usou-o brilhantemente em «Job» e nas suas sexta e nona sinfonias.
References:
Bandas Filarmónicas (nd). O Saxofone. Em https://www.bandasfilarmonicas.com/bandas-site/wp-content/uploads/cpt_instrumentos/pdf/O-Saxofone.pdf
Kennedy, M. (1994). Dicionário Oxford de Música. Publicações Dom Quixote.
Marques, M. & Lopes, E. (2013). O Género Musical na Identidade dos Instrumentos: o saxofone no século XX. Em https://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/9357/1/Eduardo%20Lopes.pdf