Neomanuelino, foi um estilo artístico, uma corrente revivalista que se desenvolveu dentro da arquitectura e das artes decorativas portuguesas entre meados do século XIX e o início do século XX.
É o principal estilo arquitectónico do romantismo português devido, essencialmente, à tendência romântica em assumir carácter nacionalista na construção de grandes edifícios públicos. Está para a arquitectura portuguesa do século XIX como o neogótico para a restante Europa.
O nome deriva da junção das palavras neo, “novo” em grego, e manuelino. A historiografia da arte dava então os seus primeiros passos e o nome “manuelino”, ligando o estilo à produção artística do reinado de D. Manuel I (1495-1521). O manuelino das construções quinhentistas passa neste momento a ser considerado um estilo, com elementos comuns definidos por Francisco Adolfo Varnhagen na obra “Notícia Histórica e Descritiva do Mosteiro de Belém”, de 1842. Embora muitos críticos e historiadores de arte não identificassem traços manuelinos no que mantinham ser uma ramificação do gótico final português, a expressão foi adoptada, tendo muitos intelectuais como Alexandre Herculano e Almeida Garrett a defendê-la.
No século XIX a cultura resistia ao progresso que a revolução industrial imprimia por toda a Europa. A nostalgia estava em voga e o movimento do romantismo fazia ressuscitar estilos de épocas passadas, de preferência os que sublinhassem a originalidade arquitectónica de cada país. O movimento artístico romântico exerceu as suas influências por toda a Europa, copiando e inspirando-se, principalmente na arquitectura, nos estilos do passado, como o gótico, o românico e o renascimento, bem como as arquitecturas árabe e bizantina, reflectindo o crescente interesse pela história.
Mas em Portugal, só surgiu tardiamente já no final do século, apesar de ter as suas primeiras manifestações relativamente cedo na literatura.
Num contexto conturbado, onde os primeiros anos do século XIX são muito complexos, devido essencialmente à sucessão de problemas políticos, nomeadamente a fuga da família real para o Brasil em 1807, devido às invasões francesas, posterior/consequente domínio inglês, revolução liberal em 1820, regresso da família real em 1821, independência do Brasil, a perda do comércio colonial com a antiga colónia em 1822 (dramático golpe na economia portuguesa), contra-revolução absolutista e, finalmente, guerras liberais, conservando a instabilidade até 1834.
Nesse contexto a arquitectura foi um dos principais meios utilizados face ao seu carácter glorificador de um período de altivez política, económica e cultural português. A arquitectura do reinado de D. Manuel I voltou a estar na moda quase quatrocentos anos depois. Portugal atravessava uma grave crise financeira, precisava de se afirmar enquanto império. E o Manuelino, além de ser um estilo inteiramente português, lembrava à Europa que esta era a pátria das gloriosas descobertas marítimas. E o efeito psicológico de relembrar o passado e uma identidade foi intenso neste movimento, que acabou por moldar o pensamento do homem do Oitocentos.
O estilo neomanuelino foi principalmente, empregue em edifícios públicos e residenciais, bem como em arquitecturas efémeras durante os séculos XIX e XX.
O Palácio de Buçaco, um dos exemplos mais emblemáticos do neomanuelino, foi projectado por Luigi Manini e decorado com painéis de azulejos, frescos e quadros alusivos à Epopeia dos Descobrimentos portugueses, tendo uma clara relação com a Torre de Belém. Os seus ornamentos ainda remetem à frota Marítima portuguesa, utensílios de navegação, brasões reais e outros elementos da arte nacional, além de estar inserido num Parque Natural.
O Neomanuelino funcionou, nas palavras do Prof. Regina Anacleto, “como um espólio do passado transformado em património; é sobre este património que se apoiará a consciência nacional da nova classe burguesa e, embora esporadicamente, o estado”. Esse surto de revivalismos que se alastrou, aliado a uma visão Romântica que recobria as novas estruturas dos equipamentos urbanos, criou “um Novo Manuelino, uma arquitectura mais fantasiada, um estilo plasticamente rico e emblemático em Portugal.
Este novo manuelino oitocentista que entrava na estética dos edifícios públicos e privados,restaurava valores nacionalistas na fase perigosa do Ultimato inglês e reafirmava a imagem de Portugal no exterior.
Com características artísticas muito semelhantes ao Manuelino, o Neomanuelino se expressa através das grandezas e glórias do passado, porém funcionalmente diferente e mais dinâmico, ao sabor do Eclectismo de final de século, que ligava os seus princípios a uma clientela burguesa, sequiosa de conforto e progresso e que se apropriava de pequenos prazeres, ligados às novidades, ao modismo e ao gosto pela produção arquitectónica
O neomanuelino é uma arquitectura revivalista, tipicamente romântica, copiando os aspectos mais superficiais da decoração manuelina, aplicada em edifícios adaptados às necessidades do seu tempo. Recorre aos progressos técnicos surgidos com a revolução industrial, tanto ao nível de materiais como de máquinas, escondendo construções modernas, frequentemente com estruturas metálicas (a vanguarda da época).
Utiliza todo o tipo de inovações como o tijolo ou revestimentos cerâmicos industriais, preservando, sempre que possível, questões básicas, desenvolvidas no neoclassicismo, como a funcionalidade e a rentabilidade da arquitectura, simplesmente adaptados a outra estética.
Segue a inspiração e linha estética, das grandes construções manuelinas como a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos, Mosteiro da Batalha e Convento de Cristo em Tomar, imitando apenas os motivos decorativos mais evidentes. Na verdade nem se preocupa em copiar fielmente as formas originais. Baseia-se essencialmente na diversidade de arcos, cordas, elementos orgánicos e vegetalistas, cinturões, fivelas, pináculos, contrafortes e escultura.
Muitos historiadores, acreditam que o movimento se iniciou com a construção do Palácio da Pena, em Sintra, pelo rei D. Fernando II (consorte viúvo da rainha D. Maria II), entre 1839 e 1849, de modo quase natural. O contrato de venda ao rei prévia desde o início a recuperação das ruínas de um antigo convento manuelino, destruído pelo terramoto de 1755, e sua integração no conjunto. Hoje um dos grandes monumentos arquitectónicos nacionais.
References:
ANACLETO, Maria Regina D. Teixeira. Arquitectura Neomedieval Portuguesa. Lisboa: Fundação Calouste Goulbenkian, 1997. Vol 1, p. 19.
ANACLETO, Regina; PAULINO, Francisco Faria & FEVEREIRO, Nuno. O Neomanuelino ou a reinvenção da arquitectura dos Descobrimentos. Inst. Port. do Património Arquitectónico e Arqueológico, 1994
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CARVALHO, Maria Cristina Wolff. A arquitetura e o século XIX. In: Ramos de Azevedo. Edusp. São Paulo, 2000
DIAS, Pedro. Manuelino e Neomanuelino In: O Neomanuelino ou a Reinvenção dos Descobrimentos. IPAAR. Lisboa, 1994