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A genética comportamental averigua de que forma variações comportamentais e/ou psicológicas de indivíduos podem ser explicadas de acordo com as suas diferenças genéticas ou se pelo contrário obedecem a diferenças ambientais. As contribuições mais interessantes da genética comportamental têm a ver com o estudo do ambiente e com o estudo das influências genéticas. É de frisar que, por exemplo, tanto a inteligência como certos traços de personalidade são suscetíveis a modificações como consequência da intervenção de fatores ambientais. Indivíduos com genótipos distintos podem responder de modo distinto a um ambiente específico. Da mesma forma, um mesmo genótipo pode resultar em caraterísticas psicológicas e comportamentais muito diferentes em função do contexto de desenvolvimento.
Devido à diversidade de abordagens e de metodologias que podem ser adotadas no estudo do comportamento, esta área envolve diversos campos científicos, como a etologia, a psicologia, a psiquiatria, a farmacologia e as neurociências de maneira geral. Combinando métodos de genética com métodos clássicos de estudos comportamentais, a genética do comportamento procura compreender os mecanismos genéticos e neurobiológicos envolvidos em diversos comportamentos animais e humanos. A verificação da importância dos fatores genéticos, a análise da arquitetura destes fatores e, em última instância, a identificação dos genes propriamente ditos, são alguns dos passos que são percorridos na genética comportamental. Após várias décadas, onde caraterísticas psicológicas e comportamentais foram vistas como o resultado quase exclusivo de fatores ambientais, os comportamentalistas das décadas de 60 e 70 começaram a aceitar e compreender a importância das influências genéticas sobre o comportamento. Historicamente, tanto no meio científico como entre o público leigo, comportamentos animais e humanos têm sido vistos de uma maneira dicotómica, ou seja, certos comportamentos são classificados como instintivos – geneticamente determinados – e outros como aprendidos – adquiridos através da interação com o meio ambiente.
Métodos de análise em genética comportamental
Os principais métodos de estudo realizados em genética comportamental são a genética bidirecional, a comparação de comportamentos de interesse em diferentes linhagens, a engenharia genética e biologia molecular, e os estudos familiares em seres humanos. Alguns destes métodos de estudo incidem maioritariamente em análise de genomas e em experiências laboratoriais, ao passo que outros estão direcionados para a observação de comportamentos, quer em humanos quer em animais. Em termos de estudos familiares em seres humanos, comummente recorre-se à análise de gémeos verdadeiros, uma vez que estes são autênticos clones naturais, o que os torna um bom objeto de estudo para a comunidade científica.
- Genética Bidirecional
Uma estratégia bastante explorada é a seleção genética bidirecional. A partir de uma população geneticamente heterogénea, selecionam-se e cruzam-se os extremos, para um determinado comportamento, até a obtenção, após várias gerações, de duas linhagens contrastantes.
- Comparação de Comportamentos de Interesse em Diferentes Linhagens
Em animais de laboratório são comuns as comparações de diferentes linhagens em relação a uma série de comportamentos de interesse. Diferenças comportamentais entre linhagens que diferem geneticamente sugerem, fortemente, influências genéticas no comportamento em questão.
- Engenharia Genética e Biologia Molecular
A revolução da engenharia genética forneceu as ferramentas necessárias ao estudo do comportamento associado à genética molecular. Com a identificação, ao nível do DNA, de genes capazes de modular certos comportamentos, dá-se um grande passo na pesquisa de traços normais e patológicos da personalidade humana, o que poderá trazer novos métodos de prevenção, diagnóstico e tratamento de distúrbios psiquiátricos. A era da engenharia genética e da biologia molecular trouxe, como para muitas outras áreas, uma revolução nas técnicas, ambições e perspetivas da genética do comportamento. Atualmente, pode fazer-se uma busca, através de todo o genoma, de locus contendo genes capazes de influenciar comportamentos complexos, os chamados QTL (Quantitative Trait Locus). Assim, a engenharia genética pode contribuir fortemente para saber o porquê de diferentes indivíduos terem diferentes comportamentos, na medida em que nos possibilita a “leitura” de um genoma e a sua análise.
- Estudos Familiares em Seres Humanos
Em seres humanos, estudos familiares são úteis para verificar se indivíduos aparentados apresentam maior semelhança comportamental do que indivíduos não parentes, o que sugeriria um componente hereditário no comportamento. Estudos com pares de gémeos idênticos, gémeos falsos e com irmãos biológicos ou adotivos são uma ferramenta essencial para demonstrar e quantificar a importância da hereditariedade em caraterísticas psicológicas e comportamentais em humanos.
Durante as últimas décadas, a genética comportamental tem acumulado uma enorme quantidade de evidências empíricas sobre a hereditariedade de determinados traços de personalidade. As aplicações mais interessantes da genética comportamental e do estudo do ambiente estão relacionadas com três aspetos fundamentais: as interações e correlações entre genótipo e ambiente, o impacto das influências ambientais não compartilhadas e a influência genética sobre as medidas de avaliação do ambiente. Os genes definem tendências e as experiências individuais modulam-nas. Para a expressão de todos os genes, são necessárias certas condições externas (bioquímicas, fisiológicas e físicas). Portanto, qualquer alteração externa pode representar uma determinada influência sobre o resultado final, nomeadamente, sobre o comportamento. Além disso, os comportamentos, de maneira geral, são influenciados não por um, mas por muitos genes diferentes, o que aumenta ainda mais a sua complexidade.