Glocalização
O neologismo glocalização emergiu nos últimos anos na teoria económica, sociológica e cultural, residindo o surgimento do termo numa resposta à proliferação da literatura centrada na globalização e as respectivas implicações locais. A glocalização pode ser descrita como a relação entre processos globais e locais, que são crescentemente entendidos como os dois lados de uma mesma moeda, ao invés de compreendidos como diametralmente opostos. É certo que a era da mobilidade global criou uma rede fluída e ininterrupta de relações, afectando consequentemente ambientes e populações locais.
Originalmente cunhado como um termo político e económico, a globalização conhece com a glocalização a intersecção de preocupações derivadas da economia política e do plano sociocultural, cuja ênfase se cinge principalmente ao impacto local dos processos e estruturas globais. Ritzer (2004: 73) define a glocalização como a integração do global e do local, resultando tal amálgama em desfechos deveras únicos em diferentes áreas geográficas.
Deste modo, a glocalização representa as consequências tangíveis ou intangíveis da globalização (a criação das ditas culturas, comunidades e identidades, híbridas e heterogéneas). Na bolha dos negócios, pode representar a orientação local dos produtos resultantes do marketing global, tendo em linha de atenção as tradições e características socioculturais locais. Na arquitectura pós-moderna, pode incluir abordagens “orgânicas” à construção de novos edifícios (ou seja, sensibilizar-se para com as características históricas e ambientais locais). Quanto ao contexto do turismo global, os turistas internacionais são introduzidos aos ambientes locais e respectivas comunidades, dando azo à troca entre culturas. Por vezes, o turismo fortalece a importância da preservação das identidades locais.
Não obstante, a glocalização pode ser lida como um factor negativo também. Por exemplo, Bauman (1998) sugeriu que o termo glocalização pode ser antes pensado como a restratificação da sociedade baseada na livre mobilidade de uns e na restrição dessa mesma mobilidade de outros. A título de exemplo, os fluxos de turistas são sobretudo unidireccionais, isto é, do Ocidente para o Oriente. Por este motivo, o turismo tem sido classificado por vezes como uma nova forma de imperialismo, despoletando consequentemente a aculturação e mudança social radical ao invés da hibridização. De modo semelhante, o desenvolvimento global económico é sempre determinado como imperialista, mesmo que apresente uma orientação local.
Ritzer (2004) sugeriu que a dominação das nações e organizações capitalistas pode ser antes categorizada como grobalização de preferência a glocalização, argumentando que as características essenciais da glocalização sensibilizam-se para com as diferenças, o cosmopolitismo, e o respeito pela autonomia e criatividade dos indivíduos e grupos. A noção de que o local é sobretudo passivo face à globalização é uma deturpação do fenómeno.
Portanto, no geral, a glocalização pode ser vista como uma interpretação positiva dos impactos globais da globalização, quer dizer, um processo pelo qual as comunidades representam e sustentam globalmente as suas culturas únicas, e cada vez mais com o recurso nos novos meios de comunicação.
References:
Bauman, Z. (1998) Globalization: The Human Consequences. Polity Press, Cambridge.
Ritzer, G. (2004) The Globalization of Nothing. Sage, London.