Introdução
Por sinonímia, a ordem social representa tanto a sociedade como uma ciência social. Muito raramente os sujeitos vivem no caos, mesmo que sejam habitantes das sociedades pós-modernas que caracteristicamente exacerbam o já por si tempestuoso tempo legado pela modernidade. Como tal, independentemente de a sociedade ser considerada teoricamente um organismo ou um sistema, jogo de linguagem ou modo de produção, interação ritual ou espetáculo etéreo, a noção essencial de “sociedade” é científica e pragmaticamente significante apenas se subsumir no conceito a dimensão fenomenológica do quotidiano. Sem ordem social, as ciências sociais dissolver-se-iam no estudo evanescente da efemeridade.
História
Provavelmente, nenhuma figura na história da sociologia encabeça mais claramente essa preocupação central que é teorizar as conquistas práticas da ordem social, do que Talcott Parsons. Intencionalmente, Parsons construiu uma teoria integrada da ordem social recorrendo às sínteses prévias reunidas sob o mote de se totalizar a sociedade humana, e de que são arautos figuras como Herbert Spencer, Vilfredo Pareto, Émile Durkheim, Alfred Marshall, e Max Weber.
De facto, os quatro últimos pensadores são os interlocutores principais da obra clássica de Parsons intitulada The Structure of Social Action, que famosamente inaugurou com a pergunta “Quem é que ainda lê Spencer?”, adicionalmente incluindo na mesma interrogação vultos como Platão, Thomas Hobbes, entre outros. O “problema da ordem”, como Parsons enfatizou, é sistematizado no livro The Social System, livro no qual o sociólogo esboçou um modelo social funcionalmente diferenciado à luz de um conjunto de instituições e padrões culturais. Em tal sociedade, a ordem social é concebida como um agregado equilibrado que é alcançado quando os subsistemas se adaptam às prioridades sociais fundamentais. Ainda que este modelo peque pelo determinismo, Parsons sublinhou que a ordem social é sempre precária e problemática, e que não deve ser compreendida como um imperativo a ser associado ao fascismo.
A atenção concedida por Parsons ao problema da ordem social valeu-lhe um manancial de críticas e críticos, sobretudo críticas politicamente motivadas. Entre este conjunto de ataques e atacantes, encontram-se alguns estudantes de Parsons, e um número impressionante de célebres sociólogos. Entre os críticos solidários com a causa de Parsons, encontramos Robert K. Merton, que na sua versão mitigada do “estrutural funcionalismo” demonstra partilhar a preocupação de Parsons pela ordem social, ainda que reformule este tropo não em termos de totalidade societal, mas sim em termos de utilidade na pesquisa social empírica.
Quanto aos críticos, é comum afirmar que os mais estridentes foram C. Wright Mills e Alvin W. Gouldner, sendo que nenhuma das figuras foi estudante de Parsons. Segundo o seu prisma, Mills entendeu a tentativa de cimentação da ordem social por parte de Parsons como um exemplo do teórico encerrado numa torre de marfim, estrutura esta onde as considerações históricas e empíricas não possuem espaço próprio. Em suma, e dado o percurso sociológico de Mills, a crítica basilar a Parsons era a inatenção para com as questões de poder, política, e dominação social. Por sua vez, Gouldner aprofundou a crítica ao salientar as raízes ideológicas do sistema teórico de Parsons, que herdou de mentes como Platão, e anunciou a necessidade de um repensamento da sociologia para que a disciplina se livrasse da camisa-de-forças conhecida como as grandes teorias totalizadoras.
Embora já não colocado nos termos precisos de Parsons, o problema prático e teórico da ordem social permanece essencialmente aberto. Por um lado, os investigadores o seu calendário bastante preenchido ao analisarem a aceleração, intensificação, dispersão, e diferenciação, da vida cultural e social da pós-modernidade, o que dificulta a produção de uma ordem social ou ordens sociais.
References:
Jasanoff, S. (Ed.) (2004) States of Knowledge: The Co Production of Science and Social Order. Routledge, New York.