Nascimento | 4 de Agosto de 1901, Nova Orleães, Estados Unidos da América |
Morte | 6 de Julho de 1971, Nova Iorque, Estados Unidos da América |
Família | Esposas: Daisy Parker (1918-1923); Lil Hardin (1924-1938); Alpha Smith (1938-1942); Lucille Wilson (1942 ) |
Ocupação | Trompetista, cantor, entertainer e actor |
Canções Principais | «Cornet Chop Suey»; «Potato Head Blues»; «Weather Bird»; «West End Blues»; «I Can’t Give You Anything But Love»; «Star Dust»; «Body and Soul»; «Blueberry Hill»; «That Lucky Old Sun»; «La Vie en Rose»; «A Kiss to Build a Dream On»; «I Get Ideas»; «What a Wonderful World» |
Primeiros anos
Louis Armstrong nasceu no dia 4 de Agosto de 1901, em Nova Orleães, nos Estados Unidos da América. Cresceu numa família pobre, sem a figura paternal (que tinha abandonado a família) e, até aos cinco anos de idade, ficou a cuidado da sua avó e do seu tio. Só depois foi viver com a mãe e com diferentes padrastos. Além disto, vivia na zona mais pobre e dura de Nova Orleães, conhecida como “The Battlefield”.
Armstrong fazia pequenos trabalhos, como entregar jornais ou transportar carvão, para ajudar a família. Aos onze anos abandonou a escola e começou a cantar nas ruas, num quarteto de rapazes, para receber mais algum dinheiro. Trabalhou, ainda, para uma família de judeus, imigrados da Lituânia, os Karnofsys. Estes trataram-no como família e ofereceram-lhe a sua primeira corneta, aos dez anos de idade. Louis, por gratidão a esta família, ostentou durante toda a vida uma estrela de David.
No dia 31 de Dezembro de 1912, para celebrar a passagem de ano, disparou uma pistola (não carregada) para o ar, sendo imediatamente preso. O tribunal enviou-o para a New Orleans Home for Colored Waifs, por delinquência juvenil. Esta casa acabaria por traçar o rumo do seu futuro. Sob a disciplina do professor Peter Davis, Armstrong recebeu educação musical e tornou-se líder da banda da escola, que tocava por Nova Orleães. Quando abandonou esta casa, aos quatorze anos de idade, sabia que queria ser músico.
Armstrong tocava regularmente nas bandas de metais da cidade e ouvia, sempre que possível, músicos mais velhos como Bunk Johnson, Buddy Petit, Kid Ory e, acima de todos, Joe “King” Oliver, que se tornou mentor do jovem. Depois viajou com a banda do ferry Fate Marable, que fazia espectáculos ao longo do Mississippi. Mais tarde, descreveria esta experiência como frequentar a universidade, dado que lhe proporcionou uma vasta experiência, especialmente com arranjos.
Em 1918, casou-se com Daisy Parker. Juntos, adoptaram uma criança de três anos, Clarence Armstrong, cuja mãe, prima de Louis, tinha morrido no parto. A criança sofreria de uma doença mental o resto da vida. O músico viria a separar-se de Daisy e esta morreria, pouco depois.
Início da carreira
Em 1922, a convite de Oliver, Louis mudou-se para Chicago e passou a integrar a banda do seu mentor, a Creole Jazz Band. Chicago era uma cidade vibrante, com espaço para novos artistas, pelo que se foi tornando cada vez mais conhecido.
Armstrong começou a namorar a pianista da banda, Lillian Hardin, com quem se casou em 1924. Esta era da opinião que Oliver não permitia o desenvolvimento do seu marido e convenceu-o a juntar-se à Fletcher Henderson’s Orchestra, a banda afro-americana mais importante de Nova Iorque. Os seus solos introduziram o conceito de swing na banda que se tornou naquela que é considerada a primeira grande banda de jazz. Neste período realizou, também, outras gravações com pequenas bandas como a Williams Blue Five e acompanhou cantoras de blues como Bessie Smith, Ma Rainey e Alberta Hunter.
No entanto, os músicos de Henderson, do norte, criticavam frequentemente o seu modo de vestir e falar tipicamente sulista. Henderson proibiu mesmo Armstrong de cantar porque temia que a sua forma crua de vocalizar não agradasse às audiências sofisticadas nova-iorquinas. Infeliz, regressou a Chicago em 1925 e começou a tocar com a banda da sua mulher no Dreamland Café.
Não obstante, o ano passado com Henderson transformou Armstrong numa influência maior para os músicos da época. Eram muitos os trompetistas que procuravam sonar de forma semelhante a Louis e só 20 anos mais tarde, com era a do bebop e com o aparecimento dos trompetistas Dizzy Gillespie e Miles Davies, começaram a procurar outros modelos musicais.
Sucesso
Entre 1925 e 1928, as gravações do grupo Hot Five e, mais tarde, Hot Seven, lideradas por Armstrong revolucionaram a história do jazz. Os solos encontrados, por exemplo, em «Cornet Chop Suey» ou «Potato Head Blues», com ritmos arrojados, swing e notas incrivelmente altas introduziram o virtuosismo do solista ao género que, até então, se centrava no conceito de ensemble. Aqui começou também a cantar, tornando popular o modo “scat singing”, sem palavras.
The Hot Five e The Hot Seven eram, estritamente, grupos de gravações. Durante a noite apresentava-se com a orquestra Erskine Tate no Vendome Theater, musicando frequentemente filmes mudos. Por esta altura, trocou definitivamente a corneta pelo trompete.
A popularidade de Armstrong em Chicago não cessava de crescer, começando a apresentar-se noutras salas como o Sunset Café e Savoy Ballroom. Em 1928, com o pianista de Pittsburgh Earl “Fatha” Hines gravou alguns dos mais importantes duetos na história do jazz, «Weather Bird» e «West End Blues» (este último é seguramente um dos seus trabalhos mais conhecidos).
No Verão de 1929, o músico seguiu pra Nova Iorque, onde tinha um papel à sua espera na produção da Broadway «Connie’s Hot Chocolates». No mesmo ano, gravou com pequenos grupos de Nova Orleães e grupos maiores. No entanto, deixou de se cingir estritamente à sonoridade jazzística, gravando canções populares como «I Can’t Give You Anything But Love», «Star Dust» e «Body and Soul». As transformações vocais nestas canções alteraram radicalmente o conceito da canção popular americana, com efeitos duradouros em cantores posteriores, como Bing Crosby, Billie Holiday, Frank Sinatra e Ella Fitzgerald.
Problemas pessoais
Em 1932, Armstrong começou a aparecer em filmes e fez a sua primeira tour em Inglaterra. Seguir-se-ia toda a Europa, em 1933, mas viu-se obrigado a dar um passo atrás quando, depois de anos a soprar notas altas, os seus lábios se começaram a ressentir. Não fosse já bastante, depois de uma discussão com o seu agente, que já lhe tinha trazido problemas com a máfia norte-americana, foi deixado sozinho na Europa. O músico decidiu, então, permanecer no continente europeu em 1934 a descansar os lábios.
Regressou aos Estados Unidos em 1935, ainda não completamente recomposto do problema nos lábios, sem banda, sem agenda, sem contratos para gravar, ainda com problemas com a máfia e a ser processado por Lil, de quem se estava a separar. Armstrong procurou ajuda com Joe Glaser, que tinha conhecido no Sunset Café e que tinha algumas ligações à máfia através de Al Capone. Colocou a sua carreira nas mãos deste e, em pouco tempo, todos os seus problemas tinham desaparecido: tinha uma nova banda e um contrato com a Decca Records.
Regresso
Em 1936, Louis Armstrong tornou-se no primeiro músico afro-americano a escrever uma autobiografia, «Swing That Music» e apareceu num grande filme de Hollywood, juntamente com Bing Crosby, «Pennies from Heaven». Depois, continuou a aparecer em filmes conhecidos ao lado de grandes nomes da altura, como Mae West, Martha Raye e Dick Powell. Ao mesmo tempo, era uma presença constante na rádio.
Completamente recuperado do problema nos lábios, gravou nesta altura alguns dos seus melhores trabalhos: «Swing That Music», «Jubilee» e «Struttin’ with Some Barbecue». Em 1938, divorciou-se finalmente de Lil Hardin e casou-se com Alpha Smith, com quem se encontrava há mais de uma década. Não foi um casamento feliz e, em 1942, separou-se. Ainda em 42, casou-se novamente, desta feita com Lucille Wilson, dançarina. Em 1943, compraram uma casa em Queens, Nova Iorque, onde habitaram até ao final da sua vida.
Com a aproximação do fim da era do swing, na metade dos anos 40, Armstrong formou um grupo mais pequeno, The All Stars. Embora os membros do grupo não tenham sido sempre os mesmos, este foi o grupo com quem o músico actuou até ao final da sua carreira.
No final dos anos 40 e no início dos anos 50, ainda com a Decca, gravou uma série de canções que se tornaram hits: «Blueberry Hill», «That Lucky Old Sun», «La Vie en Rose», «A Kiss to Build a Dream On» e «I Get Ideas». Com a Columbia Records, já pelos anos 50 a dentro, produziu alguns dos seus melhores álbuns – «Louis Armstrong Plays W.C Handy» e «Satch Plays Fat» – e outro dos seus maiores hits, «Mack the Knife».
Ambassador Satch
Durante os anos 50 a popularidade de Armstrong fora dos Estados Unidos atingiu um pico máximo. Actuou na Europa, na Ásia e em África, sendo conhecido como Ambassador Satch.
Não obstante a popularidade, o músico começou a perder terreno para dois segmentos de audiências: o jazz moderno e os afro-americanos mais jovens. Nos anos 40 tinha surgido uma nova forma de jazz, o bebop, às mãos de músicos como Dizzy Gillespie, Charlie Parker e Miles Davies, que o consideravam um entertainer, com os melhores anos já passados. Por outro lado, a recusa de Armstrong em comentar publicamente a luta pelos direitos dos negros desiludia os ouvintes mais novos.
Esta situação alterou-se em 1957 quando, depois de ver na televisão uma reportagem sobre o facto da guarda nacional ter barrado a entrada de nove estudantes negros numa escola no Arkansas, afirmou o seguinte: “The way they are treating my people in the south, the government can go to hell”. No entanto, na época, continuou a ser criticado, tanto por bancos como negros.
Últimos anos
Em 1959, Armstrong sofreu um ataque cardíaco enquanto viajava por Itália. Depois de umas semanas de recuperação regressou à estrada, actuando todas as noites. Popular em todo o mundo, não gravava há dois anos, até que em 1963 aceitou gravar a canção principal do espectáculo da Broadway « Hello, Dolly!».
Em 1967 gravou uma nova balada, «What a Wonderful World». Pouco promovida nos Estados Unidos, tornou-se imediatamente um hit em todo o mundo. Utilizada no filme de 1986, «Good Morning, Vietname», tornou-se na canção mais depressa associada ao músico.
Áudio – What a Wonderful World
No ano de 1969, viu-se forçado a deixar de actuar devido a problemas no coração e nos rins. Nesse mesmo ano, faleceu o seu agente Joe Glaser. Permaneceu quase todo o ano em casa mas não deixava de praticar com o seu trompete.
Voltou a apresentar-se em público no ano seguinte. Depois de uma apresentação em Las Vegas, aceitou diversos convites, incluindo Londres, Washington e Nova Iorque. Precisamente dois dias depois de se apresentar durante duas semanas no Waldorf-Astoria de Nova Iorque, sofreu um novo ataque cardíaco, que o obrigou a retirar-se dois meses.
Acabou por falecer no dia 6 de Julho de 1971, na sua casa em Queens, Nova Iorque.