Contextualização do Reino Suevo:
O Reino Suevo foi das primeiras entidades governativas a emergir no seio do Império Romano do Ocidente. Os Suevos eram uma tribo de origem germânica que acabaria por fixar-se na Península Ibérica após o seu processo de migração.
Os conflitos internos do Império Romano fragilizaram a sua presença militar na Península Ibérica, bem como as condições de vida na região com escassez de alimentos e crise económica. No final do século IV e inícios do V, esta região era um alvo apetecível para os diversos povos em migração. Os Suevos cruzaram os Pirenéus juntamente com Vândalos e Alanos no início do Outono de 409.
As condições precárias na região pioraram com a invasão destes povos, é elucidativo deste agravar das condições de vida os relatos de canibalismo presentes nas fontes da época. As poucas guarnições militares romanas rapidamente foram subjugadas pelos invasores, que então iniciaram um conflito entre si pelo domínio da região. Este conflito seria solucionado apenas em 411 com a divisão do território pelos três povos.
Existe alguma controvérsia sobre a divisão do território entre Suevos, Vândalos e Alanos. Uma corrente historiográfica minoritária defende que foi feita com o aval do Imperador Romano, outra perspectiva histórica defende que o acordo foi estabelecido apenas com interveniência dos líderes bárbaros. O acordo firmado em 411 levou à criação do Reino Suevo no noroeste peninsular.
A chegada dos Visigodos à Península em 416 enviados pelo Imperador Romano quebrou novamente a paz. Este conflito viria a ser benéfico para os Suevos que anexaram a totalidade da antiga província romana da Galécia.
Esta expansão territorial surgiu a partir da anexação de territórios aos Vândalos, povo que após diversas derrotas militares ante os Visigodos optou por abandonar a Península e fixar-se no Norte de África, possibilitando a expansão do Reino Suevo. Hermerico foi o soberano responsável por este primeiro momento de expansão, após adoecer abdicou em 438 em favor do filho Réquila.
Réquila ao subir ao trono Suevo manteve a política de expansão territorial. Com o auxílio dos Visigodos os Romanos recuperaram algumas concessões territoriais peninsulares. Em 439 Réquila alarga a expansão territorial para a antiga província romana da Lusitânia. Em torno de 440 d.C. é conquistada a cidade de Mérida e a capital do reino é transferida durante um curto espaço de tempo para esta urbe. Usualmente a capital do Reino Suevo localizava-se na actual cidade portuguesa de Braga. A expansão de Réquila continuou até sul com a conquista de Sevilha em 441.
Em 446 foi feita uma nova investida romana na região sempre com o auxílio dos Visigodos. Réquila derrota as forças romanas e reforça a posição do Reino Suevo na Península. Esta foi a última tentativa do Império Romano do Ocidente de recuperação dos territórios ibéricos.
Após a morte de Réquila em 448, sobe ao trono o seu filho Requiário. Foi o primeiro soberano suevo cristão, durante o seu reino foi cunhado moeda num claro sinal de independência deste reino. Requiário prosseguiu a política de agressividade militar do pai e avô.
Pilhou em coligação com alguns povos ibéricos o reminiscente dos territórios romanos. Em resposta o Imperador Romano ordenou a Teodorico II, rei Visigodo, a defesa das populações romanas peninsulares. Requiário é derrotado e executado pelas forças visigodas em 456.
A execução do soberano deixa o Reino Suevo sem sucessor. Até 464 o reino fica imerso num conflito interno, ano em que Remismundo conseguiu unificar as diversas facções do reino e continuar a política sueva de saque de territórios romanos, pelo menos até a queda do Império em 476.
Durante os cem anos seguintes a questão religiosa e conflitos entre arianos e católicos estaria na ordem política sueva, e em última análise no seu declínio. Os conflitos internos pelo poder associados com a questão religiosa estariam na génese da invasão e conquista Visigoda do Reino em 586.
O Reino Suevo perdeu a sua independência mas mantinha uma certa autonomia no seio da administração visigoda. Até meados do século VII não existiam grandes sinais de fixação visigoda nos anteriores territórios suevos. A população continuou a ser composta essencialmente por romanos, suevos e celtas.
O Reino Suevo assume um papel fulcral na História por ter sido das primeiras entidades governativas bárbaras a surgir no seio do Império Romano, e dos primeiros povos a converter-se oficialmente ao cristianismo.
References:
ÁLVAREZ PALENZUELA, Vicente (Coord.); Historia de España de la Edad Media, Ariel, 2002
GARCÍA DE VALDEAVELLANO, Luis; Curso de Historia de las Instituciones Españolas, Alianza Editorial, 1982