Moda Victoriana nasceu no século XIX no período Romancista e compreende os vários estilos e tendências de modas que surgiram e se desenvolveram no Império Britânico durante a Era Victoriana, que corresponde ao período compreendido entre 1820 e 1901. Este período viu muitas mudanças Artísticas e criativas, seja na moda, na arquitectura, na literatura e nas artes decorativas e visuais.
O século XIX foi marcado pelo avanço tecnológico e pela mudança de atitudes sociais quanto ao género e à classe. A Revolução Industrial, iniciada no século anterior, acelerou-se causando um grande impacto sobre a produção, distribuição, comunicação e consumo. O consumo de moda e a burguesia começaram a estar intimamente ligados, devido ao aumento da diversidade e da oferta de moda, com o crescimento da fabricação de roupas, devido à invenção da máquina de costura.
A Era Victoriana foi o período do reinado da Rainha Victoria, de 1837 a 1901. A moda victoriana durante estes anos divide-se em dois momentos: Early Victorian, relativo aos primeiros anos, de 1837 a 1860, e Mid to Late Victorian, relativo aos restantes anos que durou o reinado, de 1861 a 1901.
A Era Victoriana foi um reinado puritano ao extremo, que exigia mulheres recatadas, de aparência vulnerável e movimentos restritos. Os cabelos aos cachos de canudos, o ideal de beleza do início da era vitoriana exigia às mulheres uma constituição pequena e esguia, olhos grandes e escuros, boca pequenina e ombros caídos. A mulher deveria ser algo entre as crianças e os anjos: frágeis, tímidas, inocentes e sensíveis. A fraqueza e a inanidade eram consideradas qualidades desejáveis em uma mulher, era elegante ser pálida e desmaiar facilmente. “Saúde de ferro” e vigor eram características “vulgares das classes baixas”, reservadas às criadas e operárias.
A rainha Victoria casa-se com Albert em 1840, tornando-se o Príncipe Consorte. Esta época é tida como o apogeu das atitudes vitorianas, período pudico com um código moral estrito, que dura aproximadamente, até 1890.
As mulheres usavam corpetes e espartilhos, mais de quatro camadas de anáguas e vestidos que chegavam a ter 20 metros de tecido e arrumavam pelo chão tapando a totalidade do corpo. Ao sair de casa acrescentava-se um xale pesado e uma touca adornada, chegando a pesar até 15 quilos de roupas. As cores das roupas eram claras e muitas vezes com padrões florais. A silhueta tinha ombros e cintura baixos e mais estreitos, acentuando a aparência frágil na zona da cintura, contrastando com a amplia forma das saias.
Usavam camiseiros ou túnicas interiores brancas de golas trabalhadas com rendas ou subidas até pescoço. Por cima o corpete e a saia formavam uma só peça abotoada por atrás, que podiam acompanhar com um pequeno casaco curto por cima, de mangas abalonadas que desciam até ao antebraço onde começavam a ajustar até chegar ao pulso. A saia tinha formato de sino com a amplitude que a crinolinas e as anáguas permitissem. Os vestidos de noite eram decotados até os ombros, de estilo à-barco, com o decote decorado em rendas, laços e pérolas.
Em 1856, com a invenção das primeiras crinolinas de aço, libertou um pouco o peso das anáguas e aumentou o volume das saias. Estas crinolinas eram uma armação enorme, de forma cónica e circular de aros de metal, que permitiam mais liberdade de movimento às mulheres e o volume que atingiam representavam o máximo de prestigio e esplendor da Sociedade Inglesa Capitalista.
“O contraste visual era dos mais evidentes, seja em volume, cor, tecido e, principalmente, em ornamentos, já que a mulher abusava dessas possibilidades e o homem procurava omitir os enfeites, à excepção da gravata, da cartola, da barba e, normalmente, da corrente do relógio de bolso, que lhe ficava aparente sobre o colete.” (RACINET, 2003)
Por volta de 1864, a forma da crinolina começou a mudar e recebeu o nome de crinolete. Ao invés de ser em forma de cúpula, a frente e os lados diminuíram e o volume ficou apenas concentrado na parte de trás. Mudando por completo o formato das saias, que passam a ser mais rectas à frente e empinando a parte de trás.
A morte do príncipe Albert em 1986, marca o início da segunda fase da era vitoriana, Mid to Late Victorian. As roupas e as mulheres começam a mudar, os decotes sobem e as cores escurecem.
A moda vitoriana entra num luto extremo, vestindo de preto a sociedade britânica e americana por bastante tempo e contribuiu para popularização e dignidade desta cor entre as mulheres. No final da era Vitoriana as saias perdem volume deixando de ser tão grandes e tornando-se mais justas, com um cair mais natural.
A moda masculina teve influência do Príncipe Albert, o consorte da Rainha Vitória, que era jovem e vaidoso. Bastante parecida com a do período romântico: ombros e peito cheios e cintura minúscula. As calças tornaram-se levemente tubulares e rectas. Na época da Revolução Industrial, os homens necessitavam de roupas que facilitassem os movimentos, portanto, surgiram trajes sóbrios, sérios e impessoais. Tecidos de cores escuras, listradas ou em xadrez grande ou pequeno. Os únicos acessórios que utilizavam eram a gravata ou o lenço de seda branco à volta do pescoço, a cartola que cobria todo o cabelo e a corrente do relógio de bolso que ficava aparente sobre o colete. Para uso à noite, o fraque com gravata branca era o traje formal para os cavalheiros e em 1850, ficou em voga o casaco trespassado com corte recto.
Em 1901, coroava-se o sucessor da rainha Vitória da Inglaterra, Edward VII e inicia-se a Era Eduardiana que por sua vez trás consigo a Moda Eduardiana, que durou até meados de 1910, em Inglaterra, porque no resto do Mundo esta nova Era ficou conhecida como a Belle Époque.
References:
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