Contextualização do Liberalismo:
O Liberalismo começou a formar-se ideologicamente no decurso da Época Moderna. A evolução desta filosofia politica e económica está intrinsecamente associada à evolução económica da sociedade humana e ascensão da burguesia enquanto classe.
A palavra Liberalismo é derivada da latina liber – pessoa livre ‘não-escravo’. Assenta a sua ideologia em pressupostos fundamentais como a liberdade de empresa, direitos civis, livre comércio, tolerância religiosa, propriedade privada e democracia.
Embora ideologicamente os primeiros passos tenham sido dados no decurso da Época Moderna com o mercantilismo e globalização económica a uma escala nunca antes vista potenciada pelas descobertas marítimas, foram as transformações económico-sociais ocorridas na Baixa Idade Média, como a reurbanização das cidades, incremento do comércio entre burgos europeus, desenvolvimento económico assente nos mercadores que mais tarde originariam a burguesia, que permitiriam o nascimento de novos ideologias como o Liberalismo na época seguinte – Moderna.
As transformações políticas ocorridas no século VIII, com a Revolução Americana e Francesa potenciaram ainda mais os ideais promovidos pelo Liberalismo ao associar-se com o novo paradigma político ocidental – Democracia.
Simultaneamente às transformações políticas a Revolução Industrial transformou o mundo em que vivemos, permitindo a emergência de uma sociedade de consumo a uma escala mundial e transversal a todas as classes sociais, essencialmente com a fixação de uma nova classe – a Média. Este novo paradigma económico mundial potenciou o livre comércio, liberdade individual e propriedade privada, características centrais do Liberalismo.
Enquanto nos séculos anteriores o Liberalismo teve um processo de maturação ideológica, o século XIX trouxe a plena afirmação desta filosofia na actividade económica e política mundial, muito graças ao Imperialismo Britânico que difundi-o pelo globo.
No século XX o Liberalismo como representante político do Capitalismo competiu directamente com o Comunismo. As Grandes Guerras Mundiais, a Grande Depressão e Guerra Fria promoveram a criação de uma sociedade económica de bem-estar social cuja modelo assenta num conceito liberal.
Um dos pontos centrais do Liberalismo é a limitação da influência estatal no quotidiano da população e sistemas económico-financeiros. A partir da viragem do século XXI tem emergido um sistema neoliberal que visa a transformação do Estado num mero regulador sem qualquer tipo de influência em sectores outrora considerados fundamentais como a saúde, educação, energia ou transportes. Esta radicalização do Liberalismo não tem em consideração os princípios fundamentais da ideologia, que pretendia promover um bem-estar social. Para uns é uma evolução do sistema económico para outros um risco para a coesão social com o aumento das desigualdades entre classes.
A ideologia liberal por vezes confunde-se com a evolução das sociedades democráticas. Embora a Demócrita tenha sido o grande promotor do Liberalismo, existem outras formas de exercê-la como o populismo ou totalitarismo.
Como referido anteriormente existem pilares basilares na concepção liberal. A propriedade privada diz respeito á livre utilização de bens pelo proprietário, o Estado de Direito promove a igualdade de todos os cidadãos perante a lei, o livre mercado ou liberdade comercial promove a livre-concorrência sem interferência estatal ou privilégios por consequência é defendida a limitação do poder governativo do Estado.
O Liberalismo teve uma influência inequívoca na abolição do sistema monárquico, refém da vontade de cada soberano e causador da instabilidade governativa e politica nos reinos. A ideologia liberal esteve directamente associada com o nascimento dos movimentos de igualdade de género e racial, promovendo um Estado de Direito e de regulação social sem discriminações. Esta perspectiva liberal estava muito mais próxima aos ideais de igualdade, liberdade e fraternidade da Revolução Francesa.
O Liberalismo sempre foi uma ideologia mutável que não influenciou-se apenas pelas transformações políticas e económicas, em alguns momentos foi um dos agentes dessas transformações.
References:
BRAUDEL, Fernand ; Civilização Material, Economia e Capitalismo, D.Quixote, 1990
WALLERSTEIN, Immanuel ; O sistema mundial moderno, vol. I e vol. II, Afrontamento, 1990.
CAMERON, Rondo ; História Económica do Mundo. Lisboa: , P. Europa-América, , 2000.
LÉON, Pierre (dir.) ; História Económica e Social do Mundo, Sá da Costa, 1984.