Desde a corrente de pensamento denominada como estruturalismo, que o conceito de intertextualidade tem sido significante num vasto amplexo de saberes pertencentes às humanidades e ciências sociais, e também, como seria de esperar, em inúmeros debates teóricos. Embora o conceito denote um texto que recorre à citação de diversas obras ou à paráfrase, a intertextualidade tem sido teorizada como a própria condição geral de toda a textualidade. Tal como a estruturalista francesa Julia Kristeva argumentou, cada texto existente molda-se consoante um mosaico de citações, pelo que um texto é sempre plural, isto é, vários textos. Não é de estranhar então, que o conceito se tenha tornado crucial nos ataques lançados pelos estruturalistas contra a preciosa noção da autoridade do autor, espécie de aura a que a individualidade do autor almeja. Por conseguinte, começou-se a defender que a linguagem e a textualidade, como sistemas estruturantes que são, devem constituir o objeto próprio de análise literária, e não a agência autoral.
Mas a importância da intertextualidade não foi restringida somente ao debate estruturalista, considerando que teve um papel-chave no aparelho conceptual que acompanharia a aurora da condição pós-moderna. No influente relato de Fredric Jameson, este defronta o leitor com um modo específico de intertextualidade, quer dizer, o pensamento como forma de imitação, que é será o qualificador da pós-modernidade, sobretudo nas múltiplas paródias da arte pastiche. Neste âmbito particular, a intertextualidade é uma condição endémica social e cultural da pós-modernidade: signos, códigos e textos são sujeitos à repetição constante, sem qualquer sentido em que a “paródia” se revele como um instrumento crítico ou reflexivo. Ao invés, os múltiplos textos e estilos são aparentemente reiterados e (re)presentados, dissociados do contexto original e interminavelmente recombinados como “pastiche”.
No entanto, nesta crítica encontra-se ausente o próprio contexto sociológico. Escritores e sociólogos como Collins ou Lash engajaram mais precisamente na sociologia da intertextualidade “pós-moderna”. Collins analisou como é que as “arenas intertextuais” operam nas ficções literárias, sugerindo que os autores e os textos se podem posicionar relativamente aos predecessores genéricos. Deste modo, textos como ficções policiais podem apostar no valor “literário” ao se associarem ao discurso literário, ao passo que outros procurarão deliberadamente misturar discursos, combinando intertextualmente a alta cultura com a cultura de massas, para desse modo conceberem o próprio prestígio cultural e social, e também agitarem os alicerces da autoridade cultural do primeiro estilo. Aprofundando este debate, Lash defendeu que o amplo alcance intertextual inerente à condição pós-moderna, pode simplesmente refletir o capital cultural distinto da nova classe média consumidora, que é precisamente o grupo com maior potencialidade de descobrir referências culturais populares e elitistas. Deveras, é possível de se sugerir mesmo que certas intertextualidades acarretam distintos capitais culturais intertextuais, uma vez que têm como alvo, audiências formadas, especializadas e letradas.
References:
Allen, G. (2000) Intertextuality. Routledge, London.
Orr, M. (2003) Intertextuality: Debates and Contexts. Polity Press, Cambridge.