O que foi a Reforma Prostestante
A Reforma Protestante vem no seguimento das profundas transformações ocorridas na Europa, no fim da Época Medieval e início da Moderna. Transformações, ao nível social assente num novo sistema económica, o Mercantilismo, provocado pela expansão marítima europeia e originando uma nova classe social, a burguesia, que lenta e gradualmente ganhava importância e influência relativamente à nobreza e clero.
O Renascimento provocou uma alteração na forma como o ser humano relacionava-se com ele próprio, passando a estar no centro do universo e da vida, em detrimento da interpretação medievalista incutida pelo catolicismo de que tudo girava em torno de Deus. A Reforma Protestante emerge neste quadro de profundas alterações socioeconómicas.
A Reforma Protestante iniciou-se quando Martin Lutero colocou um conjunto de noventa e cinco teses, na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg a 31 de Outubro de 1517, refutando e criticando os paradigmas, doutrinas e dogmas católicos, propondo uma reforma da Igreja de Roma.
Rapidamente a reforma alastrou pela Europa, com especial incidência na Alemanha, Escandinávia, França, Províncias Unidas, Reino Unida e alguns territórios no leste Europa. Desta renovação cristã, emergiram novas facções como o Luteranismo, Calvinismo e Anglicanismo.
As motivações para esta Reforma não foram exclusivamente religiosas. Muitos governantes apoiaram a Reforma Protestante pelos conflitos constantes e seculares com a Igreja Católica, a nova classe burguesa pretendia agir livremente sem as restrições católicas relativamente à acumulação de lucros, dividendos e a cobrança de juros. A nobreza em muitos casos, via a Reforma como uma ferramenta para apoderar-se dos bens e riquezas da Igreja acumuladas durante séculos.
As grandes críticas dos teólogos reformistas à Igreja Católica eram a ostentação de riqueza, a alteração dos ensinamentos de Cristo para proveito próprio, a cultura de medo e ignorância que impunham às populações, a vida boémia e sem regras que o Alto Clero e a generalidade dos Papas tinham. Os reformistas defendiam que todos deviam ter acesso às Sagradas Escrituras, para tal a Bíblia teria que ser traduzida do latim para as línguas maternas, algo que a Igreja de Roma rejeitava, defendendo que só o clero detinha os mecanismos para interpretar a palavra de Deus e difundir às populações. Era uma forma de controlo mental que o catolicismo detinha e exercia na época, não só sobre o povo, mas também sobre a nobreza e as monarquias europeias.
A resposta católica não fez-se esperar, através do Concílio de Trento, realizado entre 1545 e 1563 é lançada a Contra-Reforma com a Inquisição como a principal arma para combater, aquilo que a Igreja considerava na época heresia.
Estas transformações no seio do cristianismo moldaram por ventura a própria mentalidade europeia, dividida entre norte e sul. O norte protestante assumia o Homem e as suas acções no centro de tudo, numa espécie de predestinação característica do judaísmo, que favoreceu a implementação e fixação de um regime económico capitalista. O Sul da Europa manteve-se profundamente católico, com Deus no centro da acção humana em todas as suas vertentes, vários sociólogos e historiadores defendem que a discrepância entre sul e norte europeu advém das alterações verificadas no século XVI com a Reforma Protestante.
References:
CHAUNU, Pierre; Tempo das Reformas, Ed. 70, 1993
FEBRVE, Lucien; O problema da descrença no século XVI.A religião de Rabelais, ED. Início, 1970