Belas Artes designa uma das classificações das artes utilizadas pelas academias até meados do séc. XIX. Segundo esta classificação, as belas artes eram aquelas cujas manifestações artísticas eram consideradas como superiores às demais e que possuíam a dignidade da nobreza. As restantes artes eram consideradas artes secundárias ou artes aplicadas (por exemplo o design e o artesanato).
Eram as chamadas “artes superiores”, de carácter não-utilitário, opostas às artes aplicadas e às artes decorativas. Cada uma destas artes apresenta um amplo repertório técnico que exige um certo grau de destreza para ser dominada. São as manifestações do ser humano que reflecte, através de recursos plásticos, fruto da sua imaginação ou a sua visão da realidade.
A noção de Belas Artes é incorporada ao vocabulário da história e da crítica de arte com o auxílio da obra Les Beaux-Arts Réduits à un Même Principe, 1746, de autoria de Charles Batteaux (1713-1780).
Batteaux defendeu que a “imitação da beleza natural” o princípio comum e definidor da poesia, da pintura, da música e da dança, consideradas, por isso mesmo, belas-artes, distintas daquelas que combinam beleza e utilidade (a arquitectura, por exemplo). Mas mais tarde, a Enciclopédia, 1751/1772, de Diderot (1713-1784) inclui a arquitectura entre as belas-artes, uma clara crítica ao que diz serem “imprecisões” de Batteaux. Em Inglaterra, o termo “cinco artes” é empregado nessa mesma época com sentido semelhante.
Estabelecida no século XVIII, para fazer a distinção entre “artes superiores” e “menores” (ou aplicadas) o conceito de Belas Artes, remonta à Antiguidade clássica, pela separação entre artes liberais (relacionadas às “actividades mentais”) e as artes mecânicas, ligadas aos trabalhos práticos e manuais.
Assim sendo, as disciplinas artísticas correspondentes às Belas Artes são: a música, a arquitectura, a literatura, a pintura, o desenho e a dança.
A separação entre artes e ofícios ganha um novo impulso com o surgimento das academias de arte, a partir do século XVI, fundamentais na alteração do status do artista, considerados desde então como teóricos e intelectuais.
As academias garantem a formação científica (geometria, anatomia e perspectiva) e humanística (história e filosofia), com aulas de desenho de observação e cópia de moldes. As academias são também responsáveis pela organização de exposições, concursos e prémios e periódicos e o controle da actividade artística e a fixação rígida de padrões de gosto., rompendo com a visão de arte como artesanato.
Atingindo o auge no século XVIII, as academias são responsáveis por conferir carácter oficial ao ensino das belas-artes, além de organizar exposições, concursos, prémios e periódicos, o que significa o controle da actividade artística e fixação rígida de padrões de gosto.
O século XVIII foi um momento de afirmação e difusão de uma cultura laica, enciclopédica e universal e de revolução política, quando o papel social da arte se explicita e, com ele, o apoio crescente do Estado às instituições de ensino artístico.
No decorrer do século XIX, o ensino das belas-artes passa progressivamente às Escolas Nacionais de Belas-Artes, criadas em todo o mundo, e o das artes aplicadas fica sob a responsabilidade dos Liceus de Artes e Ofícios e de instituições congéneres.
Se as academias separam artistas e mestres de ofícios, fazendo das Belas Artes o sinónimo de arte académica, é possível notar ao longo da história da arte ocidental – e, sobretudo, no interior da arte moderna – aproximações entre as conhecidas como belas-artes e as chamadas artes aplicadas. Lembrando, entre outros, o exemplo do Arts and Crafts inglês, quando teóricos e artistas reafirmam a importância do trabalho artesanal diante da mecanização industrial e da produção em massa ou ainda o Art Déco, ou “estilo anos 20”, que aproxima a arte e o design.
Actualmente, existem pessoas que defendem e consideram o cinema como a sétima arte por considerá-lo estar ao mesmo nível artístico das restantes disciplinas das Belas Artes, mas entre entre a comunidade intelectual e artística é de uma opinião que ainda causa muita discussão.
References:
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