Edmund Husserl

Exposição breve do pensamento de Edmund Husserl.

  • Biografia

 Edmund Husserl (1859-1938) foi o criador do movimento filosófico denominado como fenomenologia. Nasceu em Morávia (Prosznitz), Europa Central, no seio de uma família judaica e doutorou-se em matemática, trabalhando com Karl Weierstrass (1815-97), e posteriormente concentrar-se-á na filosofia, influenciado por Brentano. Em 1883 defende a sua tese de doutoramento, sendo que em 1891 aparece a sua primeira obra importante, Filosofia da Aritmética, da qual é publicada apenas a primeira parte.

Por volta de 1913, Husserl funda o “Anuário de Filosofia e de Investigação Fenomenológica”, no qual apareceriam estudos de Max Scheler e Martin Heidegger. De 1900 a 1913, a carreira como professor em Friburgo de Husserl conhece o esplendor, sendo nomeado em 1916 professor titular da Universidade de Friburgo, onde desenvolveu a sua atividade intelectual até à jubilação em 1928. Com a subida no nazismo ao poder, Husserl viu-se relegado e inclusive proibido, pelo que grande quantidade do seu material inédito foi transferido para a Universidade de Lovaina para maior segurança.

Husserl deu prosseguimento a Brentano em questões sobre a intencionalidade, culminando essas teses no que viria a ser a fenomenologia. Há uma dívida de Husserl para com Descartes, considerando que o projeto do primeiro, tal como o cartesiano, situou o Eu como ponto de partida para tornar possível a filosofia como ciência rigorosa. Por outro lado, Husserl criticou em Descartes o colocar a tónica do ideal científico na física matemática.

 

  • Pensamento

Historicamente, estipulam-se três estágios no progresso das teses de Husserl: na primeira fase do seu pensamento, nomeadamente na obra Philosophie der Arithmetik, o filósofo tentou fundar os princípios da matemática na psicologia; na segunda fase, iniciada sensivelmente em 1895, Husserl desistiu do psicologismo e iniciou o primeiro trabalho fenomenológico no trabalho Logical Investigations; a terceira e última fase começou em 1906, quando Husserl formulou a ideia da redução transcendental, acabando por orientar a fenomenologia rumo a uma direção “idealista” (Ideas, o primeiro trabalho que apresenta sistematicamente o método fenomenológico). Os trabalhos posteriores de Husserl permaneceram na matriz referencial de Ideas, havendo mudanças insignificantes no plano doutrinal, e ao mesmo tempo, uma abordagem de tópicos tratados previamente estudados incompletamente, tal como o tópico do “sujeito”, a “intersubjetividade”, o “tempo” e a “mundividência”.

Husserl tentou tornar a filosofia numa ciência de rigor, com fundamentos sólidos, o que não é sinónimo de uma filosofia com o método das ciências da natureza. Sabe-se que as questões mais próprias da existência racional da humanidade foram subestimadas pelo positivismo, uma vez que estas questões não podem ser submetidas às condições de verificação requeridas pela ciência. As ciências positivas tentaram reduzir a simples factos tudo o que diz respeito ao sujeito, sem deixar qualquer aspeto do sujeito que não seja reduzível a esses simples dados.

Com o método fenomenológico, Husserl pretende readquirir a originalidade do sujeito, o que este tem de mais genuíno. Para separar o sujeito do clima de cientismo que o pretende reduzir, Husserl tentará realizar esse projeto por intermédio de uma redução que nos faça regressar ao originário, isto é, ao estádio anterior à positivização e naturalização da razão e da existência humana Essa dimensão original foi apelidada como “mundo da vida” (Lebenswelt) por Husserl, e seria atingida caso o feiticismo factualista das ciências fosse reduzido. O mundo da vida substitui assim a matemática como paradigma único e originário na conceção do mundo. Assim, podemos caracterizar a fenomenologia com as seguintes notas:

 

  • a fenomenologia é um método, ou seja, um modo de tornar a filosofia numa filosofia de rigor, face ao relativismo histórico e ao subjetivismo psicológico;

 

  • a fenomenologia é uma ciência descritiva, teorética e não interessada, em oposição ao pragmatismo e utilitarismo da razão;

 

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References:

  • Dreyfus, H. e Mark A. Wrathall (2006), A Companion to Phenomenology and Existentialism, Usa-Uk-Australia, Blackwell Publishing.
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