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O mestiço tem sua origem na sociedade brasileira, da fusão entre o europeu (colonizador), o indígena e o negro (colonizados). O antigo entendimento sobre a mestiçagem contida na visão positiva, arraigada de ‘paraíso racial’- que predominou por um longo período na historiografia brasileira do século XIX e na visão entusiasmada de Gilberto Freyre, no século XX, tem sido refutada, visto que a busca por um novo viés analítico que seja mais adequado para a condição do ‘mestiço’ no século XXI, tornou-se prioritária nas ciências sociais.
O novo olhar sobre a mestiçagem debruça-se principalmente sobre as tensões sociais e sobre os conflitos que permeiam a realidade socioeconômica em que os mestiços vivem, atualmente. A proliferação dos discursos de afirmação étnica têm sido vistos simbolicamente como uma negação da identidade misturada e híbrida a que nos acostumamos pensar a sociedade brasileira como ‘mestiça’.
O mestiço está além de uma simples categoria racial. A antiga fórmula que produziu uma representação positiva da mestiçagem deve ser abandonada, especialmente porque camuflou o conflito e a violência presentes na relação entre o colonizador e o colonizado. A herança histórica desta relação foi a formação de uma sociedade patriarcal, extremamente hierarquizada pela cor, pelo capital e por uma identidade mestiça subjugada.
Os mestiços no Brasil de hoje, são classificados como pardos de acordo com a Lei Federal 12711. A legitimidade da cor na visão jurídica, reafirma a necessidade do estado de conformidade social necessária à uma coexistência pacífica entre os indivíduos. Os pardos enfrentam diariamente conflitos que envolvem diferenças sociais entre classes e raças. Desta forma, torna-se um equívoco afirmar que no Brasil existe um ‘paraíso de igualdade racial e étnica’, quando o capitalismo econômico globalizado ainda exclui da sociedade os negros e os mestiços.
A pluralidade étnica brasileira analisada em sua raíz histórica não pode ocultar, nem mascarar mais, por exemplo, a brutalidade inerente à escravidão. A classificação racial e a tipologia da cor estavam associadas também à uma tendência moral, onde os negros e os mestiços na literatura, eram sujeitos perigosos e ligados à violência e/ou à criminalidade.
A miscigenação embora tenha sido um elemento integrador muito útil para construção do Estado Nacional, ao minimizar os conflitos raciais e sociais, escondeu a realidade histórica diária, advindos de privilégios sociais garantidos ainda a uma minoria de brancos e ricos.
No Brasil vive-se em uma sociedade multirracial e multicultural, onde ainda os mestiços são a maioria étnica do país. O pardo ou mestiço contém a imagem da ambiguidade, da interseção entre o europeu, o indígena e o negro, mas que em suas múltiplas nuances de cor, ainda estão classificados como ‘não-brancos’ e reproduzem uma luta social constante no interior do país, já que negros e mestiços ainda buscam pelo reconhecimento social do outro, para conquista e ampliação de seus direitos civis.
References:
- TADEI, Emanuel Mariano. A mestiçagem enquanto um dispositivo de poder e a constituição de nossa Identidade Nacional.
- Márcia Cavendish. Controvérsias sobre mestiçagem no Brasil em Marilente Felinto.In: Terceira Imagem- Rio de Janeiro- nº20 pp 112-127- Janeiro-Julho 2009.
- HONNETH, Axel. A luta pelo reconhecimento– para uma gramática moral dos conflitos sociais.Biblioteca de Filosofia Contemporânea, Edições 70, 2011.
- FREYRE, Gilberto. Casa grande e Senzala. Rio de Janeiro:DP&A Editora, 1999.
- ARAÚJO. Ricardo B. Guerra e Paz. RJ: Editora 34 letras, 1994.