O Curdistão Iraquiano ou Curdistão do Sul nasce das aspirações curdas de autodeterminação e soberania. Durante grande parte da História do Médio Oriente os Curdos habitaram nesta região, mas viram sucessivos poderes estrangeiros como persas ou migrações como os turcos, ocuparem e conquistarem este espaço geográfico.
O desejo de autodeterminação é tão antigo quanto a existência deste povo, após a derrota e desfragmentação do Império Otomano no fim da Primeira Guerra Mundial, tentaram criar um estado independente na região que compreende o norte do Iraque, parte da Turquia, Síria e Irão, criando o Reino do Curdistão fundado em Setembro de 1922, esta entidade política viria a ser derrotada em Julho de 1924 pelo exército britânico.
O império britânico tinha outra visão da forma que o Médio Oriente deveria ser repartido, criando um conjunto de estados favoráveis ao Império, mas que não tinham qualquer tipo de consideração pela identidade das populações. Desta repartição inconsiderada do Médio Oriente resultaram muitos dos problemas actuais da região.
Em 1926 é formalmente reconhecido pela Liga das Nações a criação do Estado Iraquiano, com concessões e liberdades especiais aos curdos no norte. Essencialmente após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido deixou de ser a força globalizada que era anteriormente, perdendo esse papel para os Estados Unidos da América, sem a influência britânica as tensões entre curdos e os diversos regimes iraquianos escalaram, face às sucessivas perdas de direitos que os curdos auferiam no seio do estado iraquiano.
Liderados por Mustafa Barzani, revoltaram-se contra o governo iraquiano entre 1960 e 1975. Embora em 1970 tivesse sito acordada uma trégua, onde o regime iraquiano aceitava a autonomia curda no norte iraquiano, o acordo cai por terra com a tentativa de colonização e assimilação dos curdos á cultura árabe.
A década de setenta foi de extrema instabilidade para os curdos iraquianos, o seu principal aliado na região, o Irão, assinou um acordo em 1975 com o regime iraquiano em que ficou definido que os iranianos deixariam de apoiar os curdos. Como consequência desta falta de apoio e nova investida iraquiano no norte em 1974, os territórios curdos foram ocupados, essencialmente pelos campos de petróleo nos seus territórios. Milhares de curdos foram deportados para outras regiões do Iraque e foi feita nova tentativa de colonização árabe do norte iraquiano.
A situação dos curdos piorou após a guerra entre o Irão e o Iraque, o Curdistão Iraquiano foi devastado pelas forças governamentais, milhares de aldeias, vilas e cidades foram pilhadas e estima-se que entre 50 e 100 mil curdos tenham perdido a vida.
Em 1991 voltam a revoltar-se contra o regime de Saddam Hussein, mas desta vez e face ao fluxo de refugidos nas fronteiras turcas, iranianas e sírias, o Conselho da ONU deliberou uma zona de exclusão aérea no norte do Iraque, permitindo o regresso de centenas de milhares de pessoas a casa e a criação de um verdadeiro Curdistão Iraquiano independente.
A região era controlada por dois partidos, a União Patriótica do Curdistão e o Partido Democrático do Curdistão. Como não raras vezes acontece em casos de instabilidade e de conflitos, as rivalidades e diferenças dogmáticas entre antigos aliados eclodem, dando lugar a uma Guerra Civil, no caso do Curdistão Iraquiano entre 1994 e 1997.
Economicamente o Curdistão Iraquiano é uma das regiões mais ricas do país graças aos seus campos de petróleo, após a deposição de Saddam em 2003 pelas forças de coligação, tornou-se a região mais segura do Iraque, Estima-se que entre seis a sete milhões de pessoas habitem neste espaço. Em termos políticos são uma Democracia Parlamentar, com eleições de quatro em quatro anos que nomeiam 111 deputados.
Actualmente e face à ocupação de boa parte do Iraque e Síria pelo Estado Islâmico, o grande rival dos curdos iraquianos passou a ser esta força extremista islâmica. O futuro desta região actualmente é incerto, ganharam uma independência total do governo iraquiano com o conflito contra os fundamentalistas, mas com uma futura estabilização da região por ventura poderá originar um estado independente e soberano legitimado pela Organização das Nações Unidas.
References:
OCALAN, Abdullah, Guerra e Paz no Curdistão, Perspectivas para uma solução política da questão curda, 2008, Colónia.