As várias pesquisas realizadas no âmbito da apraxia verbal na infância demonstram que a abordagem terapêutica a seguir deverá ter um cariz multidimensional. Ela deve ser feita do ponto de vista fonológico e do ponto de vista motor, principalmente, focando a capacidade motora que permite produzir a articulação de palavras uma vez que se trata de uma perturbação do foro verbal.
Os estudos sobre a apraxia verbal na infância iniciaram-se na década de 1970 e alguns fonoaudiólogos pontuam o facto de crianças com apraxia de fala não progredirem ou progredirem de forma bastante lenta na terapia fonoaudiológica tradicional (Almeida-Verdu, Giacheti, Del Mando, Freitas, Dutka, Rovaris& Marques, 2014).
Os vários estudos disponíveis na literatura permitem-nos compreender como se caracteriza a apraxia de fala, assim como relatar a importância de procedimentos terapêuticos utilizados. Verifica-se que os mesmos assentam nos princípios da aprendizagem motora para adquirir o controlo e ou melhorar sua precisão e a sua consistência na programação ou planeamento da fala (Almeida-Verdu et al, 2014).
A apraxia verbal na infância está associada à capacidade de articulação das palavras, tendo em conta amovimentação de estruturas internas ao organismo durante a emissão de um som modulado com ou sem significado linguístico (Payão, Pinto, Wolff, & Carvalho, 2012).
No que concerne ao quadro de apraxia nesta fase de desenvolvimento existem dois marcadores diagnósticos descritos na literatura para auxiliar na identificação, os quais podem ser testados em crianças ou adultos em que os marcadores citados são características únicas que diferenciam a apraxia de qualquer outro distúrbio de comunicação (Payão, Pinto, Wolff, & Carvalho,2012).
O primeiro é o contraste entre a execução voluntária e involuntária da fala que se pode verificar quando se solicita que um paciente apraxico do foro verbal que fale em sequência, ou seja, por exemplo, contar (Payão, Pinto, Wolff, & Carvalho,2012). Ele pode faze-lo articulando as palavras sem esforço ou erros, contudo, quando sujeito ao mesmo exercício em contexto de teste e lhe é solicitada a emissão de palavras, não consegue produzi-las adequadamente, o que faz com que se manifeste maior variabilidade de erros no seu diagnóstico (Payão, Pinto, Wolff, & Carvalho, 2012). É comum observar maior variabilidade de erros na mesma palavra de uma tentativa para outra, no entanto, é muito frequente que, em ambas as tentativas, haja uma grande aproximação entre a palavra verbalizada da forma errada e a palavra correta (Payão, Pinto, Wolff, & Carvalho, 2012).
Uma das formas mais práticas de avaliar um quadro de apraxia verbal nesta fase de desenvolvimento é quando se solicita à criança que repita palavras ditas por outra pessoa (Almeida-Verdu et al, 2014).
Por outro lado, e como diagnóstico secundário, é também comum que haja inconsistência na forma de produzir os erros dos sons da fala em diferentes situações, ou seja, o indivíduo pode produzir corretamente uma palavra em determinada situação e com erros em outra situação (Almeida-Verdu et al, 2014).
No caso de crianças em fase de aprendizagem, é comum que, diante de um texto, fase da aprendizagem da leitura e diante de uma figura, fase da aprendizagem da nomeação, as mesmas aconteçam de forma independente (Almeida-Verduet al, 2014). Isto significa que a aprendizagem de uma competência não garante a aquisição de competência da outra (Almeida-Verdu et al, 2014).
Conlcusão
Segundos os estudos podemos compreender que a apraxia verbal na infância é uma perturbação da comunicação que afeta a produção motora da fala, repercutindo nas representações linguísticas.
Habitualmente ela pode ser observada de diferentes formas, podendo acontecer produção de erros num momento e verbalização da palavra correta em outro momento, ou ainda, a mesma palavra ser verbalizada de diferentes formas, ambas erradas mas, frequentemente, de forma semelhante à palavra correta.
De referir ainda que esta perturbação, quando diagnosticada na infância acontece ainda aquando do desenvolvimento das funções cerebrais, uma vez que o indivíduo está no início do seu desenvolvimento.
References:
- Almeida-Verdu, A.C.M., Giacheti, C.M., Lucchesi, F.M., Freitas, G.R., Dutka, J.C.R., Rovaris, J.A., & Marques, P. F. (2015). APRAXIA E PRODUÇÃO DA FALA: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DE RELAÇÕES VERBAIS. Revista CEFAC, vol. 17, núm. 3, maio-junho, 2015, pp.974-983.
- Payão, L.M.C., Lavra-Pinto, B., Wolff, C.L., & Carvalho, Q. (2012). Características clínicas da apraxia de fala na infância. Revisão de literatura. Letras de Hoje, Porto Alegre, v.47, n. 1, p. 24-29, jan./mar. 2012.