Quem foram os Cátaros
Os Cátaros foram um dos vários grupos religiosos que surgiram na Europa Medieval nos séculos XII e XIII, e aquela que mais ameaçou os dois poderes cristãos instalados: a Igreja Católica sediada em Roma e a Igreja Ortodoxa sediada em Constantinopla, Capital do Império Bizantino.
Os Cátaros pregavam a necessidade de regresso ao estado original de pureza moral e doutrinal e que se caracterizava por um forte radicalismo religioso. Foram os seguidores do maior movimento herético da Idade Média, nascido na Península Balcânica e que, posteriormente, com diferentes denominações, se espalhou pela Europa Ocidental, tendo assumido especial relevância em França (onde eram chamados Albigenses) e na Itália Setentrional.
A sua doutrina previa um dualismo muito rigoroso, segundo o qual a história do mundo e da Igreja se caracteriza por um conflito contínuo e permanente entre duas entidades divinas: uma que representava o bem e outra que representava o mal. O mal na figura de Satanás representava o deus maldoso e criador do Antigo Testamento, que havia concebido o mundo para tentar o Homem e corromper a sua natureza. Deus representava o bem, presente no Novo Testamento, era símbolo da bondade, compreensão, redenção e salvação humana. Esta perspectiva chocava com a interpretação católica e ortodoxa, não pelo conflito entre bem e mal, mas na divindade de Satanás e o seu papel na criação.
A alma para os Cátaros não tinha sexo, era a alma de um anjo aprisionada por Satanás condenada a sucessivas reencarnações até ser feito o ritual sacramental, o Consolamentum, que libertava a alma angelical. É facilmente perceptível o incómodo que esta crença provocava nos restantes cristãos, colocava em causa dogmas centrais para a fé cristã como a vida após a morte mediante as acções em vida, a criação por parte de Deus e até mesmo o Juízo Final.
Executavam apenas um sacramento em contraponto aos sete católicos, o referido Consolamentum quando aproximava-se a morte, de forma a limpar a alma dos pecados terrenos e prepará-la para a ascensão divina, um tanto ou quando semelhante à extrema-unção Católica.
Outra característica dos Cátaros é a desvalorização do mundo material, com a consequente negação da validade dos sacramentos, a renúncia ao matrimónio e à alimentação à base de carne, o desprezo pelo poder e pela riqueza e o repúdio pela violência.
A origem desta facção cristã não é perfeitamente conhecida – apenas se sabe que se iniciou no seio do Império Bizantino, provavelmente na região que é actualmente a Bulgária. Através das rotas comerciais atingiu a Europa Ocidental onde teve especial incidência na actual Catalunha, França e Holanda.
O Catarismo surgiu como alternativa cristã aos ensinamentos católicos e ortodoxos, os Cátaros alegavam a corrupção destas facções como forma de cativar novos seguidores. Por isso, e devido à sua oposição a todo o tipo de autoridade, política ou eclesiástica, foram vítimas de uma forte repressão, a qual determinou o seu fim no decurso do século XIII. De facto, face à perseguição que a Igreja sobre eles exerceu, tanto na apreensão de bens patrimoniais, como em humilhações e castigos físicos, os Cátaros acabariam por desaparecer tão rapidamente como tinham surgido.
Grande parte dos factos conhecidos do Catarismo referem-se a textos católicos e ortodoxos, pois os textos desta facção foram destruídos durante as perseguições.
References:
LEBRUN, François; As grandes datas do cristianismo, Editorial Notícias, 1992
LE GOFF, Jacques; A Civilização do Ocidente Medieval, Editorial Estampa, 1984