Arianismo

Apresentação do Arianismo, doutrina que resulta de uma cisão ideológica no seio do Cristianismo primitivo que refutava a tese cristã de consubstancialidade entre Pai e Filho.

O que é o Arianismo

O termo Arianismo designa uma doutrina, considerada herética pela Igreja Católica, nascida nos inícios do século IV d.C. a partir dos ensinamentos de Ário, presbítero de Alexandria na Igreja Cristã Primitiva. Ário defendia que o Divino, assente na imagem de Deus, não podia entrar em contacto com o material – Deus era visto pelos seguidores de Ário como algo transcendente, intemporal e imutável.

O grande choque com os restantes movimentos cristãos da época era a afirmação de que Pai e Filho, Deus e Jesus, eram entidades separadas. Deus detinha um poder ilimitado, enquanto o poder de Jesus era limitado pela sua própria natureza humana, embora fosse superior aos restantes seres humanos. Desta forma, os seguidores do movimento olhavam para Cristo como alguém eleito por Deus para desempenhar uma tarefa extraordinária, colocando-o assim num patamar intermédio entre a divindade e a humanidade, um pouco à imagem dos semideuses da mitologia grega. Esta separação entre Pai e Filho colocava de parte a Santíssima Trindade, foco central dos dogmas católicos. Ora, esta postura dogmática colidia com a visão generalizada do cristianismo, na qual Pai e Filho eram da mesma substância.

Num Império Romano que havia sido convertido oficialmente pelo imperador Constantino ao Cristianismo, esta questão ameaçava criar uma cisão dentro da Igreja Cristã. Para contrariar a tendência de crescente crispação entre as partes, Constantino convoca em 325 um Concílio para a cidade de Niceia (que ficaria conhecido como o Concílio de Niceia) com o objetivo específico de estabelecer as bases do cristianismo. Neste concílio, em que estavam presentes os bispos das mais diversas dioceses do Império Romano, divididos entre partidários do arianismo e partidários da oposição, terminou com a formulação do famoso ‘credo’ niceno, que afirmava “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado e não criado, consubstancial ao Pai”, reconhecendo assim a divindade de Cristo e a sua consubstancialidade com o Pai. Foram assim criadas as bases do catolicismo, ao mesmo tempo que se consideraram as práticas e dogmas do arianismo como heréticos. Sensivelmente na mesma altura, Ário foi excomungado pelos seus ensinamentos heréticos e enviado para o exílio, juntamente com vários dos seus seguidores. Morreu em 336 quando ia a caminho de Constantinopla para receber novamente a comunhão por parte de Constantino, numa tentativa deste para sanar definitivamente o conflito entre as partes que não tinha sido completamente resolvido no Concílio de Niceia.

Esta divisão entre as duas fações tinha, na verdade, uma caráter mais político do que religioso, apresentando-se como uma verdadeira cisão identitária entre a parte ocidental do Império, de influência latina, e a parte oriental de influência grega. Esta crispação política resultaria, alguns anos mais tarde, na separação do Império em Ocidente e Oriente. O Ocidente continuou com a ortodoxia latina, enquanto o arianismo, apesar das perseguições e destruição de literatura associada ao movimento, se manteve no Oriente a par da Igreja Ortodoxa. Poucos anos depois do Concílio de Niceia, Constâncio II, filho e sucessor de Constantino no trono do Império Romano do Oriente, adoptou mesmo o arianismo como a sua interpretação do cristianismo, levando à cisão definitiva entre as Igrejas Cristãs do Ocidente e do Oriente.

Na parte ocidental do Império, o arianismo manteve-se, sobretudo, devido à migração massiva ao longo do século IV de povos germânicos para os territórios romanos, povos estes que acabaram por ser convertidos ao arianismo. Nas décadas e séculos que se seguiram, a Igreja de Roma foi impondo a sua ideologia por toda a Europa, levando a que o movimento arianista fosse perdendo a sua força. Com a queda do Reino Visigótico na Península Ibérica na sequência da invasão dos muçulmanos, no primeiro quartel do século VIII, o movimento extingue-se definitivamente na Europa Ocidental.

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