Acolhimento de Enfermagem
Vivências do doente idoso
Autor: Raquel Amaral Dutra
Orientador: Maria Ermelinda Ribeiro Jaques
Mestrado em Ciência de Enfermagem
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar
Universidade do Porto
(Localização: Repositório Aberto da Universidade do Porto)
Resumo
O envelhecimento populacional que hoje se verifica, enquadrado numa conjuntura social de constante transformação, afigura-se como um desafio premente, com repercussões em várias áreas, incluindo a da saúde. Porém, o facto de actualmente o período de vida ser mais longo, não interdiz a população idosa da fragilização inevitável que lhe é inerente. A longevidade aumentada predispõe ao incremento da vulnerabilidade a diversas patologias, acarretando a possibilidade de um maior número de internamentos hospitalares. Inscrita neste panorama, a probabilidade eminente de um internamento, associada aos factores psicológicos de fragilidade próprios do idoso, tornam este estudo necessário e de interesse indeclinável pois, para além de se debruçar sobre um assunto de prevalência efectiva, ele induz à reflexão sobre o modo como o idoso vive o momento de acolhimento hospitalar. Inserido no paradigma emergente, este, trata-se de um estudo qualitativo, exploratório-descritivo, que dada a natureza do fenómeno que pretende explorar, assume características fenomenológicas. A pergunta de partida para esta investigação foi: “Como vive a pessoa idosa o acolhimento realizado pelo enfermeiro a um serviço de internamento?”, sendo a sua finalidade, compreender o modo como o doente idoso vivencia este momento. A colheita de dados, realizada através de uma entrevista semi-estruturada, foi aplicada a nove idosos, previamente internados no Centro de Saúde de Nordeste, e seleccionados de acordo com os critérios de elegibilidade previamente definidos.
As conclusões obtidas da análise das entrevistas revelam que:
– As vivências descritas pelos idosos são diversas, sendo umas fruto de consciência endógena e outras fruto de uma consciência exógena. Estas vertentes, foram classificadas como domínios, nomeadamente: Auto-Consciencialização e HéteroConsciencialização.
– Verificou-se, no momento de acolhimento, um predomínio de vivências que se dirigiram para uma Hétero-consciencialização, comparativamente às vivências daauto consciencialização.
– O momento de acolhimento despoletou, nos idosos, a identificação das finalidades da acção, realizada pelo enfermeiro responsável pelo acolhimento, tendo sido valorizada, primordialmente, a intervenção técnica do enfermeiro.
– O momento de acolhimento, despoletando uma reflexão sobre si próprios, é sentido pelos idosos como negativo, provocando, na sua maioria, sentimentos de abandono, de nervosismo e de ansiedade.
– No domínio da auto-consciencialização, embora não tenham sido definidos como sentimentos positivos ou negativos, os idosos mencionam, com frequência, que o acolhimento lhes desencadeou percepções acerca da sua situação de saúde, da aceitação inevitável do internamento, tendo suscitado também, o pensamento na morte.
Acredito que este estudo, ao exortar à reflexão sobre um cuidado de Enfermagem de frequente utilização e de valor inquestionável, nos permite repensar sobre a sua real importância e complexidade, muitas vezes desconsiderada pelos profissionais de saúde. Creio que os contributos, que brotaram da realização deste trabalho, podem trazer repercussões positivas a diversos níveis: Aos idosos que nele participaram por terem revivido e exposto os seus sentimentos acerca da experiência em estudo, com a nítida consciência de que o relato da sua vivência poderia ser considerada uma preciosa ajuda a futuros utentes e à própria profissão de Enfermagem. Mas sobretudo, e como principal resultado, destaco o facto de este estudo possibilitar o conhecimento do que os idosos, na primeira pessoa, consideram como sendo as necessidades essenciais no acolhimento de Enfermagem. E esse conhecimento, nas mãos dos Enfermeiros, não pode ser menosprezado.
Índice
INTRODUÇÃO
I PARTE – SOBRE O ACOLHIMENTO AO IDOSO: UM PERCURSO PARA A INVESTIGAÇÃO
1. O ENVELHECIMENTO E O IDOSO
1.2 DEMOGRAFIA DO ENVELHECIMENTO
1.2. O CONTEXTO SAÚDE/DOENÇA DO ENVELHECIMENTO
1.3. CUIDAR A PESSOA IDOSA
2. NA SOMBRA DA HIPÓTESE: O IDOSO E A HOSPITALIZAÇÃO
2.1. ACOLHIMENTO: PRIMEIRO MOMENTO DA HOSPITALIZAÇÃO
2.2. ACOLHIMENTO NO CENTRO DE SAÚDE DE NORDESTE: PERCURSOS
2.3. O ENFERMEIRO E O IDOSO – RELAÇÃO CUIDADOR-CUIDADO
II PARTE- O ACOLHIMENTO PELO IDOSO QUE O VIVENCIA
3. PROBLEMÁTICA
4. METODOLOGIA
4.1. PARADIGMA E TIPO DE ESTUDO
4.2. PARTICIPANTES
4.3. PROCEDIMENTOS DE COLHEITA DE DADOS
4.4. PROCEDIMENTOS DE TRATAMENTO E ANÁLISE DE DADOS
4.5. CRITÉRIOS DE RIGOR CIENTÍFICO
4.6. ASPECTOS ÉTICOS
4.7. LIMITAÇÕES DO ESTUDO
5. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
5.1. DOMÍNIO: VIVÊNCIAS DO DOENTE IDOSO NO ACOLHIMENTO DE ENFERMAGEM
5.2. DIMENSÃO: AUTO-CONSCIENCIALIZAÇÃO
5.3. DIMENSÃO: HÉTERO-CONSCIENCIALIZAÇÃO
6. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS ÀS ENTREVISTAS
7. EXTRACÇÃO E VERIFICAÇÃO DE CONCLUSÕES: PROCEDIMENTOS
8. CONCLUSÕES
9. SUGESTÕES E IMPLICAÇÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS
- ANEXO I – Pedido de autorização à DRS para contacto com o CSN para selecção de participantes
- ANEXO II – Resposta da DRS ao pedido de contacto com CSN
- ANEXO III – Pedido e Autorização do CSN para selecção dos participantes
- ANEXO IV – Consentimento Informado Livre e Esclarecido
- ANEXO V – Guião da Entrevista
- ANEXO VI – Entrevista transcrita
- ANEXO VII – Matriz de Codificação Global