Em Teoria do Medalhão, Machado de Assis observou que o adjetivo é a alma do idioma, sua porção idealista e metafísica, e o substantivo é a realidade nua e crua, o naturalismo do vocabulário (Magalhães Júnior, Dic. de Citações Brasileiras, 1971, p. 3).
De ordinário, adjetivos e advérbios denotam opinião ou interpretação do redator, o que pode ser inadequado num relatório técnico científico, o qual deve conter essencialmente números, medidas, dados.
Algumas adjetivações são anticientíficas por terem sentido de aliciamento dos leitores, como: resultados maravilhosos, tratamento espetacular, recuperação inigualável, resposta dramática, cura formidável.
Ocorrem anfibologias em: ferida cortante (causada por objeto cortante), abdome obstrutivo (obstrução intestinal), paciente com história alérgica (de alergia). A expressão delito ético é aceita e bem compreendida como falta contra a ética. Mas, pode ser ambígua. Haverá infração que seja ética? Esse evento poderia ocorrer se um médico, para evitar dano maior que o de infringir o sigilo profissional, por motivo justo, revela ao cônjuge de um paciente que este, em segredo, lhe declarou ter Aids e não lhe atendeu aos apelos de fazer tal revelação por si próprio (Parecer CREMERJ n. 16/92). Falta ética e infração legal podem frequentemente ser termos substituídos por falta antiética, não ética ou é antiético e infração ilegal, não legal ou é ilegal.
Existem adjetivações anedóticas: ingestão monetária (de moeda), sintomas ansiosos (de ansiedade), anemia intelectual (insuficiência).
Adjetivações redundantes: clarividência concreta e fato verdadeiro. Nos comunicados científicos, deve-se ter o cúmulo de expressividade com o mínimo de palavras (Q. Silva & A. Lopes, Subsídios Estilísticos-Redacionais Para o Trabalho Médico e Outros Escritos. Acta Oncol. Bras. v. 5, pp. 23-27, 1985). Segundo Monteiro Lobato em A Barca de Gleyre, nos grandes mestres o adjetivo é escasso, sóbrio, e vai abundando progressivamente à proporção que descemos a escala de valores […] Mal surge um pobre substantivo na frase, vinte adjetivos lançam-se sobre ele (Magalhães Júnior, op. cit. p. 3).
Adjetivações que parecem erros: relatório de dores mensal (relatório mensal de dores), banco de dados eletrônico (banco eletrônico de dados).
Adjetivações desgastadas a repelir: incêndio devastador, suma importância, doce mel.
Outros casos; com termos recomendáveis entre parênteses: absolutamente perfeito (perfeito); assédio moral (à moral); azul quanto à cor (azul); cirurgia refrativa (correção cirúrgica de distúrbios de refração); contemplar de frente (contemplar); criança invaginada (com invaginação intestinal); de tamanho pequeno (pequeno); disfunção erétil (distúrbio de ereção); doença imune (imunitária); esfregaço inflamatório (com aspecto inflamatório); grande em magnitude (grande); hipótese diagnóstica (de diagnóstico); na forma cilíndrica (cilíndrico); paciente com urina fina (jato urinário fino); paciente fissurado (com fenda labial, palatina ou labiopalatina); paciente transplantado do coração (coração transplantado); queixas dolorosas (de dor); queixas ejaculatórias (sobre ejaculação); reabilitação fecal (do hábito intestinal); síndromes convulsivas (de convulsão); testes alérgicos (de alergia); totalmente normal (normal).
Justificam-se os termos imperfeitos se consagrados pelo uso. Todavia, não deixarão de ser elocuções desprimorosas consagradas, sobretudo quando houver opções mais adequadas à nossa disposição.
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