Alta taxa achada ou elevada taxa encontrada?

Cacófato significa dito feio. Do grego kakos, feio, e phaton, que pode ser dito (Houaiss, 2009). Expressões como “O paciente busca no médico uma mão (a mão) que lhe dê sustento.” “Em uma fascite grave da mama.” “Pacientes como ela querem fazer doação.” “Beneficiou-se com a taxa achada.” “Empresa na qual cada (na cocada) profissional” e similares podem acontecer num discurso.

Certas dissonâncias podem desencadear rebuliços na audiência, incômodos para um palestrante sério. Diz-se, com razão, que a malícia está nas mentes, mas é vantajoso evitá-la pelo uso de opções sem cacófatos, o que geralmente é possível.

A sonoridade das frases faz parte da estética literária, discursiva. Para avaliação, aconselham os cultores do bom gênero de linguagem ler em voz alta o que se escreve ou pedir a alguém para lê-lo

Há porém autores que admitem cacofonias “quando intencionais, para corresponder a certos efeitos estéticos, como a aliteração, que, por vezes, dá vivacidade ao estilo” (Júlio Nogueira, Indicações de Linguagem, 1956). Exemplo: Rápidos raios ribombam, rompem, riscam os céus.

Há os que desaprovam os caçadores e perseguidores de cacofonias. Citam Camões, que escreveu em Os Lusíadas “Alma minha gentil que te partiste”. Eminentes autores (Gil Vicente, Manuel Bernardes) escreveram alma minha em suas obras (Mário Barreto, De Gramática e de Linguagem, 1982). “É inútil e infundido o escrúpulo de quem diz haver cacófato em por cada, ela tinha, só linha, alma minha, etc. Cacófato haverá somente quando a palavra produzida for torpe, obscena” (N. de Almeida, Dic. de Questões Vernáculas, 1996).

Mário Barreto (op. cit., p. 251-252) dá casos de “a não” e “as não” em numerosos autores clássicos e acrescenta: “As páginas dos melhores e mais harmoniosos escritores, antigos e modernos, estão cheias de anão e asnões, e custa-me a crer que seja cacofônica e ingrata ao ouvido uma expressão  que se vê repetida pelos mestres de maior cotação”.

Mas, de regra, cacófatos são considerados vícios de linguagem, ordinariamente evitáveis, que deslustram textos e discursos. Segundo Proença Filho (Noções de Gramática em Tom de Conversa, 2003, p. 16), na língua falada, o cacófato costuma ser constrangedor, na escrita compromete. Podem-se diferenciar cacofonia e cacófato. No primeiro, se produzem novas palavras, estranhas ou ridículas: boca dela; no segundo, ocorrem termos indelicados: Ele toca gado (R. Aquino, Dic. de Gramática, 2008).

Alguns exemplos evitáveis: boca dela; cantar o nosso hino; como as concebo; como as mamas na gestação; dama amada; da nação (danação); encontrar um achado (um machado) na operação; fui de carro, intrínseca validade; já que tão grande; já que tinha; má madeira; não passa disso; não penso nunca nela, nunca delas; nunca aqui; nunca quis; pensar como ela; por razões (pelas razões); por cada; quem tinha; só lado (Operamos um só lado); ter fé demais; ter pretensões acerca dela; vez passada (vespa assada), “vamo” então (vomitão).

Em conclusão, reitera-se a favor dos cacófatos que as más interpretações originam-se de maus pensamentos. No entanto, pode ser mais vantajoso esquivar-se de eventos desfavoráveis e desnecessários, que podem incitar os nossos contrários.

Possui artigos científicos ou de interesse científico (de qualquer
área do conhecimento) que gostasse de publicar na nossa enciclopédia?
se sim, envie para geral@knoow.net 
Ajude-nos a divulgar conhecimento!
912 Visualizações 1 Total
912 Visualizações

A Knoow é uma enciclopédia colaborativa e em permamente adaptação e melhoria. Se detetou alguma falha em algum dos nossos verbetes, pedimos que nos informe para o mail geral@knoow.net para que possamos verificar. Ajude-nos a melhorar.